O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.
Já sabemos, há mais de mil anos, que em Guimarães somos diferentes do
resto do país (mesmo antes de haver país) e que o que por cá sucede
dificilmente,nalgumas perspectivas, dificilmente aconteceria em qualquer outro
ponto do país.
Recentes notícias televisivas, embora reportando a acontecimentos com
três anos, vieram reforçar esse estatuto de excepcionalidade deixando, contudo,
interrogações várias sobre as razões porque isso acontece por cá e não acontece
por outros lados.
Situemos-nos:
Há cerca de três anos, mais mês menos mês, o Vitória recebia em
Guimarães o Benfica num jogo que veio a confirmar a conquista do titulo pelo
clube de Lisboa depois de um campeonato extremamente disputado com outros
clubes que não o Vitória.
Nesse dia, e na nossa cidade, aconteceram dois factos que mereceram
ampla cobertura noticiosa embora só um deles, por sinal o menos grave, tenha
merecido da parte da comunicação social e da Justiça um permanente
acompanhamento ao longo de todos este tempo,
Num dos casos um oficial da PSP, por razões que ainda hoje não estão
cabalmente explicadas, fez aquilo a que se convencionou chamar “uso de força
excessiva” e aplicou umas bastonadas num adepto do Benfica (ó heresia...) em
frente a familiares do mesmo nomeadamente um filho de menor idade.
Caiu o Carmo e a Trindade!
E durante dias a fio, nas televisões ,rádios e jornais o agente da PSP
foi condenado (antes de ser julgado) do crime de lesa majestade de ter dado
duas ou três bastonadas num adepto do clube de todos os regimes como se tal
fosse um crime contra a humanidade.
Chegou-se ao ponto , ridículo, de as imagens darem direito a abertura
de telejornais como se esse “pobre” benfiquista de Matosinhos tivesse si o
primeiro e único cidadãos deste país a levar umas bastonadas nas imediações de
um recinto de futebol ou como se não houvesse neste país notícias bem mais
importantes.
Mas no mesmo dia, na mesma cidade e no mesmo estádio (embora as
bastonadas tenham sido fora do recinto) aconteceu outro facto grave em termos
de ordem pública que foi tão ligeiramente noticiado como rapidamente abafado
pela comunicação social (e teme-se que pela Justiça) e de que nunca mais se
ouviu falar.
Refiro-me ao facto de um grupo de ladrões e vândalos adeptos do
Benfica ter assaltado e vandalizado um armazém do Vitória situado debaixo da
bancada topo norte e não contentes com o crime praticado ainda procederam a
ampla divulgação do mesmo através das redes sociais.
Roubo, vandalismo, exibição das imagens com a fácil identificação dos
ladrões e que aconteceu?
Nada.
A comunicação social, sempre ávida de noticiar crimes e desordens ( e
então se forem em Guimarães nem se fala) noticiou o assunto no dia e depois
deixaram-no rapidamente cair porque a cor clubística dos ladrões era “inconveniente”
para quem manda na comunicação social.
Já a Justiça, que se supõe ser “cega” e portanto tratar todos por
igual, não deu até hoje qualquer notícia sobre os ladrões terem sido detidos ,
julgados e punidos pelos crimes praticados.
Um caso claro de que o crime compensou.
Porquê?
Aí está uma pergunta de que bem gostaria de saber a resposta.
Esta semana o primeiro assunto, o das bastonadas, ressuscitou por
força do oficial da PSP ter começado a ser julgado pelo tal uso de força
excessiva sobre um adepto do clube de Lisboa e mereceu ,uma vez mais, amplo
destaque da comunicação social.
E enquanto um agente policial é julgado (não ponho em causa a razão,
que fique bem claro, embora não acredite que da parte do agredido não tenha
havido provocação) os ladrões que
assaltaram o armazém do Vitória continuam em liberdade e seguramente assim
continuarão neste país de paradoxos.
P.S. E Guimarães merece um
tratamento tão diferente que até o agente a ser julgado por bater num adepto do
Benfica fundamentou a sua defesa na forma de ser dos adeptos do...Vitória.
Misturando verdades que nos orgulham, por um lado, com considerações
que não merecemos e nos ofendem por outro.
Lá está...paradoxos!
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