O meu artigo desta semana no Duas Caras.
Todos nós temos, parece-me mais ou menos
evidente, um ideal sobre como deve funcionar a democracia, como devem ser as
relações entre poder e oposição, como a comunicação social deve ser isenta e
imparcial na cobertura dos actos políticos deixando para comentadores e
cronistas o tomar de posição a favor ou contra aquilo que vai acontececendo.
Mas estamos em Portugal.
Onde quarenta e quatro anos de democracia
já nos habituaram a tudo.
Na politica, no desporto, no mundo das
empresas, na comunicação social, nas comunidades.
Mas se por um lado nos habituaram a tudo (
e ás vezes ao seu contrário...) continuam a existir fenómenos para cuja
explicação as décadas de democracia continuam a ser insuficientes para nos
oferecerem uma explicação cabal do porquê acontecerem.
Um desses "fenómenos" é a
arrogância dos "poderosos" e dos seus jovens aprendizes.
Aqueles que detém qualquer forma de poder e
que uma vez investidos nele, seja por votação democrática seja por nomeação por
quem de direito, acham de imediato que esse poder vem revestido de uma aura de
infalibilidade, do direito a veneração respeitosa por parte de quem os rodeia e
essencialmente da impossibilidade total de serem criticados, contestados ou
verem-se alvo de propostas e entendimentos alternativos aquilo que fazem o
favôr de decidir e resolver.
Não suportam a critica, não admitem o
contraditório, não reconhecem aos outros, aos que pensam diferente deles, o
elementar direito de se pronunciarem seja de que forma for.
Fazendo do poder um tabu, que não se
discute e muito menos se contesta, quase defendendo que quem não pensa como os
“poderosos” é melhor tomar posição sobre a metereologia, a botânica, os
dinossauros extintos ou os novos telemóveis da Apple passe a publiidade.
Até dos orgãos próprios para a discussão
(quando existem) tem a visão de uma "igreja" de religião única, de verdades
absolutas, de dogmas incontestáveis.
E ai do "herege" que, aqui ou
ali, diga que o rei vai nú.
Na falta de uma Inquisição que o
excomungue de imediato, como tanto gostariam, socorrem-se do ruído de maiorias
ocasionais para tentarem diminuir o direito à expressão de quem professa
"heresias".
Ferozes seguidores de George Orwell
acham-se no direito de serem os "Big Brother" das comunidades e
convivem mal, cada vez pior diria, com os que lhes "fogem" à
ortodoxia.
Tem naturalmente os seus seguidores.
Não deles (como descobrirão um dia que o
percam) mas do poder que ocupam temporariamente.
E esses seguidores, como é normal de quem
se move por interesses meramente materiais, são mais fanáticos, mais
intransigentes, mais ameaçadores do que os próprios detentores dos tais poderes
variados.
São, em suma, gente de quem lhes paga!
Caso para dizer que passados 44 anos de
democracia, e os capitães de Abril que me perdoem, foi mais fácil tirar
Portugal do "estado novo" do que tirar o "estado novo" da
mentalidade de alguns portugueses que nos vão rodeando.
Que prezam a democracia por lhes ter
permitido chegar onde estão mas no dia a dia são seguidores fieis de "Frei
Tomás " e do seu "olha para o que eu digo mas não olhes para o que eu
faço".!
Em Guimarães, onde por norma as modas
chegam tarde mas acabam por chegar, esses tiques de arrogância pouco
democrática vão-se fazendo paulatinamente sentir com uma forte conotação
geracional.
Eles são os artigos de opinião nos poucos
jornais que restam no concelho, eles são os posts e comentários a posts alheios
nas redes sociais denotando uma vigilância quase persecutória às opiniões de
quem não apaparica o poder, ele é aquela
exibição tão confrangedora de uma certa forma de “poder” nas reuniões de câmara
com uma “nuvem” de assessores dos”poderosos” sentados em segunda fila por trás
dos representantes eleitos do povo.
Portugal vive em democracia.
Democracia conquistada a 25 de Abril de
1974 , garantida a 25 de Novembro do ano seguinte quando as forças democráticas
derrotaram os totalitários de esquerda que hoje(ele há cada paradoxo...) se
encontram a apoiar o governo de um partido que foi decisivo para a sua derrota
de então, e que se tem vindo a aperfeiçoar ao longo das mais de quatro décadas
decorridas.
Mas há outras formas de democracia em que
estamos ainda a precisar de evoluir mais depressa e mais profudamente.
É o caso da cultura democrática.
Aquela em que um dia todos perceberão que
se a quantidade de votos distingue quem
vai governar de quem vai fazer oposição a essência dos mesmos votos irmana-os a
todos na legitimidade de representarem por igual os cidadãos que neles
confiaram.
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