Tenho por hábito ir publicando as minhas opiniões sobre os mais diversos aspectos do futebol pelo que é com absoluta naturalidade, e sem precisar de um momento de euforia como pretexto, que escrevo agora estas linhas sobre a vitória de Portugal na Liga das Nações e não só!
No futebol, como em tantas outras áreas, as coisas não acontecem por acaso e daí que este triunfo não tenha sido fruto de um qualquer sortilégio de momento único mas sim de uma profunda mudança no nosso futebol em curso desde o final dos anos oitenta e que ainda está longe do fim porque a mudança é dinâmica e mesmo mudando de protagonistas os seus efeitos são perenes.
Com excepção dos dois êxitos do Benfica há mais de sessenta anos na Taça dos Campeões europeus, um do Sporting na Taça das Taças no mesmo período e de três presenças espaçadas da seleção em fases finais (Inglaterra 1966, França 1984 e México 1986) o nosso futebol era um futebol de "coitadinhos" cujo único objectivo era atingir as fases finais das grandes competições de clubes e de selecções.
Foi então que Carlos Queiroz liderando uma grupo de jovens técnico portugueses bem preparados e com formação superior (Nelo Vingada, Rui Caçador, etc) iniciou um enorme processo de mudança a todos os níveis.
Mentalidade, condições de treino, objectivos, planificação, criação de competições internas, formação de talento.
E apareceram as grandes seleções, apareceram dois titulos mundiais de sub 20, a seleção nacional desde 1996 marcou presença em todas as fases finais de europeus e mundiais (excepto França 1998), o F.C. Porto ganhou uma liga dos campeões (a de 1987 é anterior ao processo de mudança) e duas ligas Europa mais dois titulos intercontinentais e uma supertaça europeia e essencialmente apareceram jogadores e mais jogadores de enorme talento que não só elevaram o nível do nosso futebol como se tornaram num "produto" de exportação que fez entrar no nosso país muitos milhões de euros e de dólares.
E tudo isso porque Carlos Queiroz e as suas equipas técnicas não tiveram medo da mudança.
Não tiveram medo de fazerem diferente, de quebrarem tabus, de arriscarem, de afrontarem poderes há muito instalados, de inovarem em várias áreas em nome de uma mudança que sabiam necessária para que o nosso futebol não estagnasse, não continuasse a marcar passo, não visse outros países europeus de dimensão demográfica idêntica à nossa fazerem aquilo que por cá não se fazia e os nossos clubes e e seleção eternamente condenados a serem os "coitadinhos" de quase sempre sem qualquer necessidade.
Porque sabiam desde o primeiro momento que era preciso mudar e nunca confundiram estabilidade com imobilismo.
O imobilismo da mediocridade, do não saber fazer, do ter medo de arriscar, do preferir marcar passo a mudar de ritmo, da falta de visão de futuro.
E muita coisa mudou.
Ao ponto de depois de durante décadas a nossa seleção entrar nas competições com a ambiçao de se apurar para as fases finais e aí fazer o melhorzinho possível desde o início da mudança a seleção passou a entrar na competições com o objectivo de as ganhar o que é substancialmente diferente como está bom de ver.
Ganhou três, perdeu ingloriamente uma final em casa com a Grécia, esteve na meia final do Mundial de 2006 e é hoje, e ao longo destas últimas décadas uma das melhores e mais respeitadas seleções mundiais.
Os treinadores que iniciaram esse processo de mudança há muito que deixaram as seleções mas deixaram uma boa herança de ousadia, planificação, exigência de condições de trabalho e essencialmente de ambição, muita ambição porque o talento português o permite.
E quem veio a seguir soube dar continuidade e a prova está à vista com sucessivas fornadas de grandes talentos e com triunfos das nossas seleções dos escalões de formação em campeonatos europeus como ainda por estes dias aconteceu com os sub 17.
Porque estabilidade é manter objectivos de topo, reforçar a ambição de lá chegar, desenvolver os processos que optimizem o percurso, olhar o futuro sem medo e escolher a cada momento aqueles que deêm as melhores garantias de saberem transportar a "tocha" olímpica.
Mesmo sabendo que Portugal é o país dos "velhos do Restelo" que por incapacidade de serem eles próprios a protagonizarem gestas de sucesso preferem agitar fantasmas, inculcar medos, criarem cenários apocalipticos apenas e só para impedirem aqueles que não tem medo de partirem à conquista dos sonhos.
Pelos "velhos do Restelo" nunca D. Afonso Henriques tería saído de Guimarães para construir um país, nunca em Aljubarrota se teria garantido a soberania nacional, jamais enbarcando em frágeis caravelas os navegadores portugueses teriam dado novos mundos ao mundo, seria impensável em 1640 D.João IV ter posto fim à dinastia dos Filipes de Espanha, nunca Salgueiro Maia teria saído de Santarém para derrubar uma ditadura.
É com esses , com os que não tiveram nem tem medo da mudança, que se constrói a boa História do nosso futebol e do nosso país.
Os "velhos do Restelo", esses, estao condenados a serem notas de rodapé num percurso de que não quiseram nem souberam fazer parte.
Depois Falamos