Conheci o Luís Montenegro em 2002.
Jovem, eleito deputado pela primeira vez, ocupou com o Jorge Tadeu Morgado um gabinete em frente aquele que era ocupado por mim e pelo Virgílio Costa e por isso o nosso relacionamento estabeleceu-se desde praticamente o seu primeiro minuto no Parlamento.
Foi, desde sempre, um deputado interessado, activo, curioso e muito trabalhador.
Pese embora recém chegado não teve receio de assumir as responsabilidades que o partido entendeu conferir-lhe nas comissões de que fazia parte e fê-do de forma competente mostrando à saciedade que estava ali alguém de quem se ia ouvir falar.
Recordo que muitas vezes o encontrava no gabinete, às vezes à noite depois de jantar, a estudar as matérias sobre as quais tinha de intervir , a fazer relatórios ou apenas a ler assuntos de política geral sobre os quais queria estar informado.
Esteve dezasseis anos no Parlamento.
Com uma trajectória ascendente que o levou a vice presidente do grupo parlamentar e depois a líder parlamentar nos anos mais difíceis que Portugal (e o PSD) viveram nas ultimas décadas face aos problemas económicos e financeiros herdados do governo socialista de José Sócrates e António Costa.
Foi um brilhante líder parlamentar.
Com o governo a executar , por necessidade convém recordá-lo, duras políticas de austeridade fruto de uma intervenção externa da troika negociada ainda pelo moribundo governo socialista a tarefa para quem tinha de defender essas políticas era hercúlea e exigia uma enorme coragem e capacidade de intervenção política.
E o Luís Montenegro fê-lo de forma verdadeiramente excepcional.
Conseguindo em simultâneo manter a bancada parlamentar unida, interventiva e solidária no apoio ao governo.
No último congresso, e no melhor discurso que por lá se ouviu, anunciou que abandonaria o Parlamento para se dedicar à sua vida profissional e ter mais tempo para a família depois de dezasseis desgastantes anos de continua intervenção política.
Fê-lo ontem.
Com a dignidade, inteligência, elegância e frontalidade que marcam a sua forma de ser e de estar.
Os restantes lideres parlamentares, com a honrosa excepção de Nuno Magalhães do CDS (que com ele repartiu a dura tarefa de sustentar o governo entre 2011 e 2015)e de Fernando Negrão que a ele se referiria num momento posterior da sessão (embora devesse tê-lo feito no momento anterior) , não souberam estar à altura do momento e através do silêncio mostraram que de facto a política em Portugal está num dos seus níveis mais baixos de sempre.
Mas não foi ao Luís que isso ficou mal ou manchou o seu percurso parlamentar.
Foi a eles ,aos que não souberam estar à altura.
Ao que se sabe Luís Montenegro vai manter a sua presença na vida publica através do Expresso, da TVI e da TSF preparando, ou não ( e isso só ele poderá decidir), um regresso à política de primeiro plano que muitos anteveem como inevitável.
E uma coisa é certa:
Com o currículo brilhante que construiu, com a capacidade que se lhe reconhece, com os apoios que tem no país profundo o Luís poderá ser o que quiser no PSD e em representação do PSD.
Sem pedir licença a ninguém como ele gosta de dizer.
Depois Falamos
P.S. Na véspera da saída o Luís foi homenageado com um jantar em Lisboa no qual estiveram dois ex lideres do PSD (Passos Coelho e Marques Mendes), a esmagadora maioria dos actuais deputados do partido, muitos ex deputados que dele foram colegas noutras legislaturas e até alguns ex ministros e secretários de estado do último governo.
Estive nesse jantar e aí reforçei a minha opinião de que quem tem a capacidade de unir tanta gente , vinda de tantos lados, tem tudo para ser o que quiser.
E acredito que mais dia menos dia o PSD vai precisar de alguém assim.
2 comentários:
Caro Cirilo:
Como estava a vichyssoise? É que, nos tempos que correm, é melhor ficarmos pela ementa :)
A sério: parece que alguns 'meteram a pata na poça'. Mas só os medíocres, conscientes da sua mediocridade, se comportam como a que descreveu e como eu já havia ouvido comentar.
Quanto a Montenegro... depois falamos, que ele -e muito bem- não pede licença a ninguém.
Cara il:
A ementa...comia-se. Mas já lá comi melhor.
Quanto ao resto não há dia em que nãi metam "a pata na poça".
Foi apenas mais um
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