O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras
Há aves que pela variedade de cores que as suas penas contém são
extremamente bonitas e admiradas não só pelos ornitólogos mas também por todos
quanto apreciam o reino animal e alguns dos seus mais belos exemplares.
É o caso, a titulo de exemplo, dos papagaios, dos periquitos, dos
tucanos, dos saíra-sete-cores,dos abelharucos e de tantos outros que enchem de
cor bosques, florestas, jardins e tantos outros sítios onde podem ser vistos.
E nesses pássaros, quer em termos visuais quer em termos de valor de
mercado para aqueles que são comercializáveis, a quantidade de cores torna-os
mais apreciados e mais valiosos pela espectacularidade que o seu colorido
oferece.
Com um rio chamado Ave, que é um curso de água (ainda) com vida mas
que dispensa qualquer cor para além das próprias, a multiplicidade de cores é
um péssimo sinal porque representa apenas e só a poluição que dá cabo das
espécies que nele vivem, torna as suas águas impróprias para quem delas quiser
fruir e arrasta todo um conjunto de problemas que são por demais conhecidos.
Vem isto a propósito de um artigo, excelente, que li por estes dias e
é assinado por uma autarca da freguesia de Caldelas ( a Sara Martins) e nas
quais a autora tem o desassombro e a coragem de se manifestar contra a
candidatura de Guimarães a capital verde precisamente por causa do rio Ave.
Ou mais propriamente do desleixo, para não lhe chamar ostracismo, a
que ele está votado por quem tinha a obrigação de estar na primeira linha da
sua defesa e manutenção enquanto um dos pilares fundamentais que devia ser, mas
não é, da referida candidatura.
Já todos sabemos,por experiências passadas, que as câmaras socialistas
que governam Guimarães tem um particular gosto pelos grandes eventos, desde a
capital europeia da cultura à cidade europeia do desporto, com as curiosas
nuances de os conceptualizarem pensando essencialmente na zona da cidade (onde
por mero acaso se concentra a maioria dos eleitores...) e de não terem uma
ideia muito bem definida sobre o que fazer depois de eles acontecerem com os
equipamentos que lhes foram afectos.
Todos nos recordamos, até porque fazem parte do presente, os problemas
com a sustentabilidade de alguns dos equipamentos da capital europeia da
cultura que a Câmara não soube “pensar” atempadamente e anda agora de mão
estendida,ainda por cima sem sucesso, ao governo da frente de esquerda que
supostamente os resolveria de uma penada.
Mas não resolveu.
Com a “capital verde” as coisas não me parece que vão por caminho
muito diferente.
Guimarães tem a sorte, de que infelizmente a câmara não faz caso, de
ter um dos principais rios portugueses a atravessar o seu território num
percurso de cerca de trinta quilómetros que faz com que o nosso concelho acolha
um terço do seu caminho entre a nascente
na serra da Cabreira e a foz sendo os restantes dois terços feitos nos
concelhos de Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Famalicão, Santo Tirso, Trofa e
Vila do Conde onde desagua.
Isso deveria ser razão mais que suficiente para o Ave ser um dos
pilares fundamentais de uma candidatura a “capital verde” a exemplo do que aconteceu
e acontece com cidades que já ostentaram e outras que querem ostentar esse
titulo.
Mas o Ave não passa na cidade
nem nos seus arredores.
E por isso é completamente subalternizado em termos da referida
candidatura dela não constando medidas que contribuíssem para a efectiva
recuperação do rio que é um dos principais patrimónios naturais de toda a
região.
Do Ave, e da sua triste história de décadas, sabem-se duas coisas
muito concretas que deviam ser fonte de reflexão, ao menos isso, para o Estado
e para a autarquia:
Uma é que desde o 25 de Abril foram gastos mais de quinhentos milhões
de euros visando a sua despoluição e o
rio continua a correr imundo.
A outra é que o principal responsável disso é o Estado.
Porque gastou mas não fez a manutenção de equipamentos, não foi eficaz
na fiscalização e competente e implacável na punição de infractores, continua a
despejar saneamento em várias zonas do rio.
E agora é esse Estado, através da autarquia, que quer ser “capital
verde”.
Através de uma autarquia que para lá da propaganda e das anunciadas
intenções continua a celebrar ajustes directos com uma das empresa ( a pedreira
Nicolau de Macedo) que é uma das maiores poluidoras do rio com inúmeros autos
já levantados pelas descargas de materiais poluentes.
De facto nesta questão do Ave multicolorido a cor que mais se devia
notar era a do enrubescimento dos responsáveis que querem uma “capital” verde” de costas para
um rio que não sabem merecer.
P.S. O artigo da Sara Martins no “Reflexo Digital” merece ser lido e
mais do que lido merece ser percebido. Porque não defender a candidatura a “capital
verde” não é ser contra Guimarães mas apenas rejeitar algo que está mal feito.
Ou esquecer o Ave, na candidatura, não é um erro de monta?
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