terça-feira, abril 10, 2018

Ave Multicolor

O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras

Há aves que pela variedade de cores que as suas penas contém são extremamente bonitas e admiradas não só pelos ornitólogos mas também por todos quanto apreciam o reino animal e alguns dos seus mais belos exemplares.
É o caso, a titulo de exemplo, dos papagaios, dos periquitos, dos tucanos, dos saíra-sete-cores,dos abelharucos e de tantos outros que enchem de cor bosques, florestas, jardins e tantos outros sítios onde podem ser vistos.
E nesses pássaros, quer em termos visuais quer em termos de valor de mercado para aqueles que são comercializáveis, a quantidade de cores torna-os mais apreciados e mais valiosos pela espectacularidade que o seu colorido oferece.
Com um rio chamado Ave, que é um curso de água (ainda) com vida mas que dispensa qualquer cor para além das próprias, a multiplicidade de cores é um péssimo sinal porque representa apenas e só a poluição que dá cabo das espécies que nele vivem, torna as suas águas impróprias para quem delas quiser fruir e arrasta todo um conjunto de problemas que são por demais conhecidos.
Vem isto a propósito de um artigo, excelente, que li por estes dias e é assinado por uma autarca da freguesia de Caldelas ( a Sara Martins) e nas quais a autora tem o desassombro e a coragem de se manifestar contra a candidatura de Guimarães a capital verde precisamente por causa do rio Ave.
Ou mais propriamente do desleixo, para não lhe chamar ostracismo, a que ele está votado por quem tinha a obrigação de estar na primeira linha da sua defesa e manutenção enquanto um dos pilares fundamentais que devia ser, mas não é, da referida candidatura.
Já todos sabemos,por experiências passadas, que as câmaras socialistas que governam Guimarães tem um particular gosto pelos grandes eventos, desde a capital europeia da cultura à cidade europeia do desporto, com as curiosas nuances de os conceptualizarem pensando essencialmente na zona da cidade (onde por mero acaso se concentra a maioria dos eleitores...) e de não terem uma ideia muito bem definida sobre o que fazer depois de eles acontecerem com os equipamentos que lhes foram afectos.
Todos nos recordamos, até porque fazem parte do presente, os problemas com a sustentabilidade de alguns dos equipamentos da capital europeia da cultura que a Câmara não soube “pensar” atempadamente e anda agora de mão estendida,ainda por cima sem sucesso, ao governo da frente de esquerda que supostamente os resolveria de uma penada.
Mas não resolveu.
Com a “capital verde” as coisas não me parece que vão por caminho muito diferente.
Guimarães tem a sorte, de que infelizmente a câmara não faz caso, de ter um dos principais rios portugueses a atravessar o seu território num percurso de cerca de trinta quilómetros que faz com que o nosso concelho acolha  um terço do seu caminho entre a nascente na serra da Cabreira  e a foz  sendo os restantes dois terços feitos nos concelhos de Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Famalicão, Santo Tirso, Trofa e Vila do Conde onde desagua.
Isso deveria ser razão mais que suficiente para o Ave ser um dos pilares fundamentais de uma candidatura a “capital verde” a exemplo do que aconteceu e acontece com cidades que já ostentaram e outras que querem ostentar esse titulo.
Mas o Ave não passa na cidade  nem nos seus arredores.
E por isso é completamente subalternizado em termos da referida candidatura dela não constando medidas que contribuíssem para a efectiva recuperação do rio que é um dos principais patrimónios naturais de toda a região.
Do Ave, e da sua triste história de décadas, sabem-se duas coisas muito concretas que deviam ser fonte de reflexão, ao menos isso, para o Estado e para a autarquia:
Uma é que desde o 25 de Abril foram gastos mais de quinhentos milhões de euros visando a sua despoluição  e o rio continua a correr imundo.
A outra é que o principal responsável disso é o Estado.
Porque gastou mas não fez a manutenção de equipamentos, não foi eficaz na fiscalização e competente e implacável na punição de infractores, continua a despejar saneamento em várias zonas do rio.
E agora é esse Estado, através da autarquia, que quer ser “capital verde”.
Através de uma autarquia que para lá da propaganda e das anunciadas intenções continua a celebrar ajustes directos com uma das empresa ( a pedreira Nicolau de Macedo) que é uma das maiores poluidoras do rio com inúmeros autos já levantados pelas descargas de materiais poluentes.
De facto nesta questão do Ave multicolorido a cor que mais se devia notar era a do enrubescimento dos responsáveis  que querem uma “capital” verde” de costas para um rio que não sabem merecer.

P.S. O artigo da Sara Martins no “Reflexo Digital” merece ser lido e mais do que lido merece ser percebido. Porque não defender a candidatura a “capital verde” não é ser contra Guimarães mas apenas rejeitar algo que está mal feito.
Ou esquecer o Ave, na candidatura, não é um erro de monta?

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