segunda-feira, fevereiro 06, 2023

Preferências

O meu artigo desta semana no zerozero.pt
O futebol também se faz de preferências.
Preferências por um clube, por uma equipa desse clube, por jogadores do mesmo clube.
Sem prejuízo de se poder admirar outras equipas de outros clubes pelo valor futebolístico e jogadores que nunca jogaram no "nosso" clube mas pelo seu valor e pela sua carreira se tornaram credores de uma admiração que ultrapassa o universo das camisolas que vestiram.
Vendo o Vitória regularmente há mais de 55 anos foram muitas as equipas e ainda mais os jogadores que admirei ao longo dos anos e que considero terem contribuído imenso para o genuíno orgulhos dos vitorianos em serem...vitorianos.
E é dentro desse princípio e dessa experiência de mais de meio século a ver o Vitória que às vezes reflicto sobre qual foi a equipa que nestes anos todos considero como a melhor que vi ao serviço do clube.
Ressalvando que a minha apreciação incide nas épocas que vem desde 1966/1967 que foi quando comecei a ir regularmente ver o Vitória e por isso não posso falar das equipas anteriores porque nunca as vi jogar.
Destacaria três.
A de 1968/1969 que treinada por Jorge Vieira ficou a três pontos de ser campeã nacional e que integrava jogadores que fazem parte da lenda vitoriana como Peres, Mendes, Manuel Pinto, Joaquim Jorge, Daniel Barreto, Rodrigues, Manuel, Zezinho, entre outros.
A de 1986/ 1987 orientada por Marinho Peres e que é aquela que boa parte dos vitorianos considera como a melhor de sempre com jogadores como Paulinho Cascavel, Ademir, NDinga, Costeado, Adão, Jesus, Carvalho e tantos outros e que todos os vitorianos recordamos.
Esta, como a de 68/69, tanbém ficou em terceiro lugar mas bem mais longe do título.
Fez uma grande carreira nacional e internacional e é, como atrás referi, aquela que a maioria dos adeptos considera a melhor de sempre.
Mas não é a minha preferida embora faça parte do top três.
Aquela que considero como a melhor é a de 1974/1975 que treinada por Mário Wilson fez um campeonato magnífico,ficou em quinto lugar porque foi artificialmente impedida de ir mais longe e é a única em toda a História do futebol português que tendo ficado na quinta posição teve o melhor ataque da prova.
Nunca nenhuma o tinha conseguido e nunca nenhuma o voltou a conseguir.
Era um plantel de elevado nível.
Na baliza tinha Rodrigues, que já estivera também na de 68/69, e que foi um dos melhores guarda redes da sua geração bem como Sousa um guarda redes que emprestava grande espectacularidade às suas exibições e Barreira um produto das escolas vitorianas.
Na defesa uma mistura de experiência com juventude.
Rui Rodrigues vindo do Benfica e internacional português (integra juntamente com Manuel Pinto, Joaquim Jorge e Geromel o quarteto dos melhores centrais que vi no Vitória) , José Alberto Torres, José Carlos e Artur da Rocha eram os centrais que eram acompanhados nas laterais por Osvaldinho, também internacional A, e por dois jovens de sangue na guelra como o eram Alfredo e Ramalho.
Chegou também ao clube nessa época, juntamente com Almiro, um central brasileiro de seu nome Baltemar Brito que não chegou a jogar mas faria depois uma boa carreira em vários clubes portugueses.
No meio campo alguns dos jogadores mais talentosos que alguma vez vestiram a camisola vitoriana.
Abreu, internacional A ao serviço do clube e grande "capitão" durante anos, Custódio Pinto um dos melhores cabeceadores do futebol português vindo do Porto, Almiro um brasileiro franzino mas de enorme talento que marcou uma época no meio campo vitoriano.
E ainda Ernesto e os jovens Pedroto e Zequinha (que podia ter feito uma grande carreira mas preferiu ser médico) que compunham uma intermediária talentosa e excelente municiadora de um ataque verdadeiramente temível.
Nos flancos Romeu, internacional A pelo Vitória e que passaria também por Benfica, Porto e Sporting (dos poucos que o fez) um extremo de grande talento e capacidade goleadora e Pedrinho um brasileiro recrutado ao Gil Vicente e que rubricaria quatro temporadas de excelente nível com a camisola vitoriana. 
E depois os pontas de lança.
Os lendários Tito e Jeremias.
Tito o homem que mais golos marcou com a camisola do Vitória e Jeremias um dos melhores jogadores de sempre a vestir essa camisola.
Jeremias foi o segundo melhor marcador do campeonato(18 golos) e Tito o terceiro (17) atrás de um inalcançável (30) Hector Yazalde do Sporting.
Os dois, juntamente com Paulinho Cascavel, António Mendes e Edmur Ribeiro (internacional brasileiro e primeiro estrangeiro a sagrar-se melhor marcador do campeonato quando estava no Vitória) terão sido os cinco melhores ponta de lança que vestiram a camisola vitoriana na minha modesta opinião.
Havia ainda outro ponta de lança brasileiro, Jorge Gonçalves, a quem uma grave lesão destruiu uma carreira que podia ter sido muito boa dada a sua qualidade.
Era, de facto um plantel de elevada qualidade.
Bastará atentar, e estamos a falar dos anos 70, que Abreu, Romeu e Osvaldinho estrearam-se na selecção A ao serviço do Vitória e Rui Rodrigues a ela voltou depois de anos de ausência.
Perguntar-se-á, então, porque é que tão talentosa equipa ficou apenas em quinto lugar no campeonato?
Porque o quarto foi-lhe roubado (sem aspas) na última jornada do mesmo quando bastando-lhe empatar em Guimarães com o Boavista para assegurar essa posição foi derrotado por uma arbitragem vergonhosa de António Garrido que deu o triunfo aos axadrezados e lhes permitiu em igualdade pontual ocuparem o quarto lugar por força da vantagem no confronto directo.
Mas até podia ter ido mais além do quarto lugar e ter disputado o terceiro ou até o segundo ocupados por , respectivamente, Sporting e Porto com mais 5 e 6 pontos que o Vitória.
Mas arbitragens claramente tendenciosas complementadas por um conselho de disciplina ao serviço dos que nos precediam na classificação impediram que tal acontecesse.
Bastará recordar que o goleador Jeremias num campeonato de 30 jogos esteve ausente em 7 (25%) por castigos em qua avultou um de cinco jogos (imagine-se...) por numa partida em Espinho ter sido expulso por suposta agressão a um adversário quando o agredido foi ele!
E com ele nesses sete jogos (a esses cinco acrescem mais dois por outra expulsão anedótica) o Vitória podia bem ter feito mais alguns pontos e ter alcançado um segundo ou um terceiro lugar que seriam posições bem mais consentâneas com o valor dessa equipa.
Em suma, e concluindo, o futebol faz-se também de preferências e escolhas. 
E a equipa de 1974/1975 é a minha escolha para a melhor equipa que me lembro de ver jogar no Vitória.

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