No país campeão europeu de selecções não faltam, infelizmente, temas sobre que escrever mas que gravitando em torno do futebol nada tem a ver com o futebol propriamente dito naquilo que ele tem de melhor.
O jogo, os jogadores, os treinadores, as tácticas, as grandes jogadas,
os grandes golos, as grandes defesas e por aí fora.
E por isso rejeitando o “apelo” de escrever sobre tudo que temos visto
nos últimos dias, semanas e meses para os lados de Lisboa em torno dos dois
maiores clubes dessa cidade mas que envolvem , comprometem e envergonham todo o
futebol português (já para não falar de uma sociedade que dá sinais de estar
gravemente doente)optei por centrar esta crónica no futebol propriamente dito.
Mais propriamente nas escolhas de Fernando Santos para o Mundial da
Rússia , que começa daqui a menos de um mês, e no qual os portugueses que
gostam de futebol vão concentrar as suas atenções.
Devo dizer, e tantas vezes tenho discordado das suas escolhas, que
considero que Fernando Santos fez uma das convocatórias mais consensuais de
sempre.
É evidente que se pode achar sempre que nesta ou naquela posição podia
ir este e não aquele jogador, porque cada cabeça cada sentença e nisto de
convocatórias cada um de nós é sempre um treinador de bancada, mas globalmente
considero uma convocatória bem conseguida.
Por posições:
Na baliza Rui Patrício e Anthony Lopes eram indiscutíveis e depois a
opção seria entre a experiência de Beto ou chamar um jovem para ir preparando o
futuro numa posição em que Portugal não tem problemas nem de alguma quantidade
na qualidade nem geracionais como acontece,por exemplo, no centro da defesa.
Podia ter chamado José Sá, Miguel Silva, Bruno Varela ou Cláudio
Ramos, é verdade, mas optou por Beto para terceiro guarda redes (que só por
muito azar terá de ser utilizado) e aceita-se até pelo percurso do jogador.
Nas laterais quatro escolhas indiscutíveis.
Cédric que tem merecido sempre a confiança do seleccionador, Ricardo
Pereira que fez um grande campeonato e também pode jogar(e bem) como extremo,
Raphael Guerreiro que é um dos indiscutíveis mais...indiscutível e Mário Rui
que se tornou uma escolha óbvia depois da renúncia de um Fábio Coentrão em quem
o talento futebolístico nunca teve equivalência no equilíbrio emocional.
No centro da defesa, onde a veterania começa a pesar sem se verem
alternativas à altura, as escolhas de Pepe,Fonte e Bruno Alves eram óbvias mas
já a chamada de Rúben Dias me deixa muitas duvidas e é, até, a única das 23 que
não merece a minha concordância.
Nunca jogou pela selecção A, não fez uma época particularmente
brilhante , nem lhe vejo actualmente (não quer dizer que não possa vir a tê-la)
a qualidade necessária a jogar na selecção .
Preferia claramente a chamada de Luís Neto ou Rolando que davam outras
garantias.
A verdade é que olhando para os principais clubes portugueses o que
vemos?
Marcano/Filipe, Coates/Mathieu, Jardel/Ruben Dias,Raúl Silva/Bruno
Viana, Pedro Henrique/Jubal.
Em dez centrais normalmente titulares apenas um é português!
No meio campo nenhuma surpresa.
William Carvalho é o “seis” indiscutível,
depois da grave lesão e consequentemente
grave ausência de Danilo que dava várias soluções ao treinador, João
Moutinho é um dos mais experientes e melhores médios do nosso futebol, Adrien não fez uma
grande época no Leicester mas é jogador de grandes jogos e de grandes
competições assegurando versatilidade posicional, João Mário idem idem aspas
aspas, Bruno Fernandes foi o melhor médio do campeonato português e é um
talento em “explosão” e finalmente Manuel Fernandes traz experiência,
versatilidade, conhecimento do que é a Russia onde joga há vários anos (e isso
tem a sua importância) e fez um grande campeonato sagrando-se campeão pelo
Lokomotiv.
Parecem-se seis escolhas indiscutíveis.
Claro que se pode falar de Rúben Neves, de André Gomes e de Sérgio
Oliveira mas em bom rigor aqui aplicava-se(bem) a velha e nem sempre feliz
máxima de Fernando Santos “mas para ele entrar quem sai ?” e percebe-se porque
não foram convocados.
No ataque as dúvidas eram...uma.
Ronaldo é Ronaldo e o treinador já tinha garantido meses atrás que era
o único que estava garantidamente convocado, Quaresma tem feito grandes jogos
desde que Fernando Santos o recuperou do ostracismo “Paulo Bentiano” e os seus
cruzamentos tem valido golos e pontos, André Silva não fez uma boa época no
Milan mas foi o segundo melhor marcador da selecção na fase de apuramento e
garante uma parceria letal com Ronaldo, Gelson fez um grande campeonato e este
Mundial pode significar a sua afirmação a nível...mundial e Bernardo Silva fez
uma época sensacional no Manchester City campeão inglês e promete acompanhar
Gelson na afirmação a nível mundial.
Estes cinco eram indiscutíveis e grossa surpresa seria se algum não
fosse chamado.
Restava o sexto avançado.
E aí havia algumas duvidas.
O histórico Nani que fez uma época discreta mas foi na última meia
dúzia de anos uma das principais referência da selecção e em especial no
Europeu de França?
Éder que também não fez grande temporada na Rússia (embora tenha
marcado o golo do título para o Lokomotiv) mas cuja convocatória poderia ser
entendida quase como um amuleto da sorte por razões que todos entenderão?
Ronny Lopes que fez uma bela temporada no Mónaco mas que ainda não tem
histórico em termos de selecção A?
A opção foi Gonçalo Guedes e acho que muitíssimo bem.
Fez uma excelente temporada no Valência, pode jogar como extremo ou
segundo avançado ( e até dá um jeito como ponta de lança se for preciso)e é um
jovem de enorme talento que tal como Gelson e Bernardo Silva pode fazer a sua
afirmação neste mundial embora previsivelmente não vá ter tantas oportunidades
de jogar como os outros dois.
Em suma , e concluindo, acho que a convocatória de Fernando Santos é
excelente, merece a confiança dos adeptos e garante um Portugal competitivo e
ambicioso no Mundial da Rússia.
O rolar da bola dirá até onde poderemos ir.
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