Com os campeonatos nacionais a encaminharem-se para os seus desfechos, quer em termos de campeões e apurados para as competições europeias quer nos habituais dramas das descidas,torna-se interessante olhar para tendências que se vem confirmando e que em si encerram alguns perigos para o futebol.
Consideremos alguns dos principais campeonatos europeus como são os casos de Inglaterra, Espanha, França,Itália, Alemanha, Portugal, Suíça, Holanda, Grécia e Escócia.
E olhando para esses campeonatos o que vemos?
Em Inglaterra o Manchester City, que antigamente não era nem de perto nem de longe candidato de primeira linha ao titulo, venceu com facilidade deixando o outro Manchester, esse sim um candidato habitual, a larga distância bem como Liverpool e Tottenham enquanto Arsenal e Chelsea nem para esse campeonato contaram esta época.
Na Alemanha o Bayern acaba de conquistar o sexto titulo consecutivo, e décimo quarto nos últimos vinte anos, o que traduz uma superioridade impressionante sobre a concorrência e torna o campeonato alemão num verdadeiro passeio para os bávaros.
Vale, apesar de tudo, que os outros campeões foram o Borússia Dortmund (três vezes), o Werder Bremen,Estugarda e Wolfsburgo uma vez cada, o que demonstra a existência de alguma diversidade apesar do sufoco imposto pelo Bayern.
Em Itália, onde o campeão ainda não está definido mas tudo indica que a Juventus alcançará o seu sétimo titulo consecutivo (!!!), existe um claro domínio da equipa de Turim que assenta no valor próprio ,como é evidente, mas também num cada vez mais longo “apagão” de Inter e Milan cada vez mais arredados da luta pelo “scudetto”.
Luta essa que tem ficado para o Nápoles, que falha nos momentos decisivos como ainda agora se viu indo ganhar a casa da Juventus mas logo a seguir perdendo em Florença, e para a Roma que nunca conseguiu verdadeiramente ameaçar o domínio da “Velha Senhora”.
Em Espanha o panorama não é muito diferente.
O Barcelona acaba de ganhar o sétimo campeonato em dez anos deixando a grande distância o Atlético de Madrid e o Real Madrid, garantindo essa conquista a cinco jornadas do fim (o que nunca tinha acontecido) e não tendo ainda sido derrotado na presente edição da prova.
Para Real Madrid ficaram dois títulos e para o Atlético de Madrid um o que demonstra que o campeonato de Espanha (que ironia...) é cada vez mais um passeio dos catalães do Barcelona.
Em França o PSG venceu facilmente o seu quinto titulo nos últimos seis anos, intervalado apenas pela vitória do Mónaco de Leonardo Jardim na época transacta, o que demonstra bem uma hegemonia que começa a impor-se e sustentada ,como no caso do Manchester City, pelos tais milhões que repentinamente vão aparecendo no futebol sem origem bem definida.
O campeonato da Escócia é, desde sempre, algo de sui generis.
Há mais de trinta anos que o titulo é dividido entre Celtic e Glasgow Rangers ( o último a fugir a essa lógica foi o Aberdeen em 1984/1985) que são as duas grandes potências do futebol escocês.
O Celtic acaba de conquistar o seu sétimo titulo consecutivo (os três anteriores tinham ido para o Rangers) muito por força dos problemas financeiros que afectaram o Rangers e levaram à sua despromoção para os escalões inferiores, de que já regressou, deixando caminho livre aos grandes rivais.
Mesmo que o Rangers recupere a pujança característica a liga escocesa continuará a ser um campeonato a dois.
Na Holanda o panorama é mais “arejado”.
PSV e Ajax são os grande ganhadores mas Feyenoord, Twente e Alkmaar também venceram títulos nos últimos dez anos o que mostra alguma diversidade embora sem esconder o predomínio dos dois clubes referidos.
Na Grécia o campeonato tem sido uma quase coutada do Olimpyakos que venceu dez dos últimos doze restando um para o Panathinaikos e outro para o AEK que venceu a edição deste ano depois de quase trinta anos de “seca”. Veremos se isso significa um “democratizar” da prova ou se o Olimpyakos,agora treinado por Pedro Martins, recupera na próxima época o título.
Na Suíça o panorama não é muito diferente.
O Basileia venceu onze dos quinze últimos campeonatos(com oito vitória consecutivas entre 2009 e 2017) com o Zurique a ganhar três e o Young Boys a vencer o deste ano depois de muitos anos afastado do título.
Resta Portugal.
Um campeonato desde sempre dominado por três clubes, com a excepção de um título para Belenenses e outro para Boavista, que nestes últimos anos tem sido dominado quase exclusivamente por Porto e Benfica que nos últimos dez anos venceram cinco títulos cada um.
Esta época,tudo o indica, o Porto será campeão pondo fim a um ciclo de quatro vitórias do clube de Lisboa que ameaçava, caso conseguisse o ambicionado penta, hegemonizar o futebol português por muitos anos.
Com ajudas que nada tem de desportivas e que estão agora sob investigação judicial como é sabido.
Que concluir desta breve análise sobre dez campeonatos europeus?
São várias as conclusões possíveis mas parecem-me relevantes duas que constituem, em simultâneo, um perigo para o futebol.
Uma é a monotonia, que afasta espectadores e patrocinadores, que ameaça vários campeonatos que são sempre ganhos pelo mesmo ou pelos mesmos retirando às provas a incerteza do vencedor que é sempre um grande factor de atracção.
A outra são os milhões que “chovem” no futebol em quantidades cada vez maiores mas na inversa proporção da limpidez das fontes de que provém e sem que os seus fins sejam claros e se cinjam apenas a fins desportivos.
São esses milhões que da noite para o dia transformam clubes sem histórico ganhador em campeões e dominadores das respectivas provas sem terem um percurso de crescimento e consolidação do estatuto de candidatos que o justifique.
Manchester City e PSG , campeões de Inglaterra e França, são hoje os exemplos mais visíveis desse fenómeno mas ninguém terá duvidas de que nesses campeonatos (especialmente o inglês)e noutros como o italiano isso também está a acontecer sem que os benefícios imediatos para os clubes não deem garantias de que não se vão transformar em problemas imensos no futuro.
A ver vamos...
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