O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.
As minhas memórias políticas, e da política, vem de muito longe o que
não sendo em termos etários bom sinal tem contudo a vantagem de já tendo visto
muita coisas ser cada vez menor a capacidade de me admirar ( e surpreender) com
o que vou vendo nos tempos que correm.
Embora ainda muito jovem e sem qualquer sensibilidade política
lembro-me bem das eleições de partido único ou quase, da propaganda que a
oposição (CDE e CEUD) metiam pela calada da noite nas caixas de correio porque a
PIDE existia e sem oposicionista não era nada fácil, dos colegas mais velhos
que no Liceu distribuíam nas casas de banho no meio das maiores cautelas propaganda
contra o regime e especialmente contra as guerras de África.
Lembro-me bem de tudo isso, como me lembro do 25 de Abril com todo o
encantamento que a Liberdade provocou, transversalmente em várias gerações, com
a sensação de que se viviam novos tempos e nada seria doravante como tinha sido
até então.
Na minha geração, e no meu grupo de amigos então na casa dos
catorze/quinze anos, já se ia falando então com alguma preocupação da guerra
que era um “fantasma” ainda distante mas que em poucos anos nos ia bater à
porta.
Depois com a Liberdade veio a
Democracia, os partidos políticos, a vida partidária começada na JSD em 21 de
Janeiro de 1975 precisamente uma semana antes do primeiro comício do PPD em
Guimarães em que o principal orador foi Francisco Sá Carneiro, e uma
participação política que se prolongou por estes quarenta e três anos que se seguiram a essa longínqua
filiação.
Nesse tempo vi muita coisa.
Dentro e fora do meu partido, no nosso sistema político, na evolução
de Portugal de uma ditadura para uma democracia consolidada para a qual o 25 de
Novembro deu um indispensável contributo, na luta partidária, na evolução
constitucional, na disputa de sucessivas eleições de âmbito diverso.
Vi eleger presidentes da república, parlamentos com e sem maiorias,
deputados europeus, autarquias locais e orgãos regionais nos Açores e na
Madeira.
Vi eleger lideres partidários em congressos, em eleições directas, em
estranhas formas de “democracia” em que o voto é de braço no ar, vi lideres que
se afirmaram nos partidos e no país e outros que nunca saíram da cepa torta e
redundaram em enormes desilusões.
Vi muita coisa.
Mas apesar disso ainda me consigo surpreender com algumas coisas que
vou vendo.
E uma das que me surpreendeu mais pela indignidade, pelo despautério,
pela falta de vergonha foi este ataque verdadeiramente “assassino” do PS, por
instruções óbvias de António Costa, à pessoa de José Sócrates.
Algo de verdadeiramente miserável.
Não tenho, como é mais que óbvio, qualquer simpatia pela personagem
sinistra que é José Sócrates que foi enquanto teve poder um perigo para a
democracia e para o Estado de Direito (em que tentou controlar das formas que
se vão sabendo a Justiça, o poder económico e a Comunicação social) e cuja
queda em eleições é mais um serviço que Portugal deve ao PSD e a Pedro Passos
Coelho.
Mas daí a vê-lo, agora que caiu em desgraça, ferozmente atacado por
aqueles que enquanto ele teve poder e cometeu os crimes de que é agora acusado
estiveram ao seu lado sem nada verem, sem com nada se admirarem, sem nunca se
terem minimamente demarcado de todo o pântano em que ele vivia e para o qual
arrastou o PS é bem a prova da dimensão a que pode atingir a canalhice na raça
humana.
António Costa foi o seu número dois no partido durante os anos em que
Sócrates o liderou e foi também seu número dois no governo.
Nunca viu nada? Nunca se interrogou sobre a vida faustosa do chefe?
Nunca encontrou nenhum motivo para dele se demarcar? Nunca percebeu as ligações
perigosas de Sócrates à banca e às empresas do grande amigo Carlos Santos Silva?
Ou percebeu, viu, soube e calou-se porque era do seu interesse um
procedimento à cangalheiro (“não quero ninguém morra mas quero que a vida corra”)
até ao dia em que manhosamente pudesse tomar-lhe o lugar?
O mesmo se pergunta em relação ao seráfico Santos Silva, ministro de
várias pastas durante os seis anos de governo de Sócrates, que ou também nunca
deu por nada ou então exerceu eficientemente a arte de passar entre os pingos
da chuva sem se molhar.
E que dizer de Carlos César?
Será que naqueles anos todos, ao menos num intervalo do tempo que ocupava a empregar
familiares ou a receber subsídios a que não tinha direito, não teve cinco
minutos para reflectir sobre tudo que se ia sabendo e dizendo, nomeadamente nos
corredores do poder partidário, sobre a estranha forma de vida do então líder e
primeiro-ministro ?
E por aí fora nem valendo a pena citar personagens minúsculos como a
despeitada Câncio ou o então opinador pago ( por Sócrates)João Galamba, entre
outros que entretanto despertaram de um profundo “sono”, porque esses apenas
servem para confirmar os malefícios da canalhice de que seres humanos são
capazes.
A verdade é que depois de seis anos de absoluta conivência com
Sócrates, mais que não fosse por silêncio e omissão, enquanto ele teve poder e
outros seis depois de ele perder as eleições debaixo de uma orientação de Costa
por SMS na noite da prisão de Sócrates (“à Justiça o que é da Justiça”)de
repente abriram todos os olhos, fingiram uma vergonha que nunca tiveram mas que
agora por questões tácticas dá jeito fingir que tem, e desataram a “malhar”
naquele que antes idolatravam, incensavam e seguiam ao que parece de olhos
fechados.
Tem pelo menos a discutível qualidade de serem bem mandados; antes por
Sócrates,agora por Costa, estão sempre disponíveis para todos os fretes que o
chefe, seja ele quem for, lhes ordena!
Em política não há acasos.
E estas “almas penadas” do socratismo desatarem todas a falar ao mesmo
tempo, e com a mesma orientação, é evidentemente por estratégia de António
Costa que vendo o terreno a fugir debaixo dos pés a um PS envolvido em tantos
casos suspeitos resolveu fazer de Sócrates um alvo a abater na esperança de que
isso distraia as atenções das pesadas responsabilidades do seu partido no
encaminhamento da democracia para um novo pântano.
Não vai ter sorte porque a vergonha para o PS não se resume a Sócrates
e Pinho e aos casos em que estes estão envolvidos.
Abarca todos aqueles que nada viram, nada fizeram, de nada quiseram
saber porque importante era manterem-se na direcção do partido e no governo
mesmo que para isso tivessem de vender a alma ao...Sócrates.
E boa parte deles, a começar por António Costa, continuam por lá.
Com ou sem vergonha esse é o problema que o PS vai ter de resolver
mais dia menos dia!
P.S. Recordo bem o quanto António José Seguro foi criticado, por
alguns desses, pelo simples facto de se querer demarcar o mais depressa
possível do legado de Sócrates consciente do quanto ele era gravoso para o PS.
6 comentários:
«...nunca se terem minimamente demarcado de todo o pântano em que ele vivia e para o qual arrastou o PS é bem a prova da dimensão a que pode atingir a canalhice na raça humana...»
Caro Cirilo:
Claro que não se demarcaram! Eles comeram com ele e continuam a comer usando os mesmos métodos. Um, Kosta, 3 meses depois de ir para a CML, deixou o apartamento modesto onde vivia e comprou, a pronto, uma majestosa quinta de prestígio em Sintra. Além disso vivia num andar prime, com renda 'subsidiada' pelo senhorio.
O herdeiro também já tem um imóvel de luxo, mas como veio nos jornais, nem comento. Pena eu não saber quando se vendem estes andares e quintas por 'tuta e meia'-também comprava, dado que eles até têm escrituras legais e tudo. O pior é o resto e eu não sou colega das senhoras que os puseram neste mundo...
Cara il:
O que só prova que tendo Sócrates saído do PS o que levou ao socratismo continua por lá. Basta ver quantos, na dorecção do partido e no governo, são do tempo do menino de ouro agora ex socialista
Caro Cirilo:
Os socratinos do PS nem me incomodam tanto como os do PSD. Aí é que eu fico com raiva. É que o sistema 'comprou' alguns e infiltrou outros -é uma tristeza que não haja alternativa ao regime republicano, socialista e laico. Só que as coisas na Europa estão a mudar vertiginosamente. Os povos estão fartos de ladrões e gente sem valores morais.
Depois falamos...
Cara il:
Com Rui Rio não se incomodam de certeza.
Com o PSD já não digo o memso porque ainda esta semana o Costa se incomodou bastante com as perguntas do Fernando Negrão. De resto acredito que esta sucessao de casos vai impedir que tudo fique como está. Tem de haver consequências
Caro Cirilo:
Em mouro: in cha Allah, mas ná'credite
Cara il:
Pelo menos espero sentado
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