Não foi por acaso que depois de se saber que nos oitavos de final nos calhava em...azar o Uruguai exprimi desde logo, nomeadamente aqui, as minha preocupações quanto ao apuramento de Portugal para os quartos de final.
Preocupações que radicavam essencialmente em três factores:
O primeiro a inquestionável valia da selecção uruguaia.
Que não joga um futebol espectacular mas que é uma equipa muito eficaz a defender (Godín e Giménez são uma dupla de categoria mundial) e letal a atacar por força da excepcional categoria da dupla Suárez/Cavani a quem não se pode dar um palmo de terreno porque nele fazem "miséria".
Para lá de outros jogadores de indiscutível valia como Bentancur, Vecino ou Laxalt.
A segunda preocupação radicava nas fracas exibições de Portugal que empatara com a Espanha num jogo que mereceu perder, que venceu Marrocos numa partida em que o empate já seria lisonjeiro e que empatou com o Irão acabando o jogo em pura aflição o que deixava claro que ou melhorávamos ou então com o Uruguai as coisas tinham tudo para correr mal.
E a terceira, curiosamente a que mais me preocupava, tinha a ver com a irreprimível tendência tão portuguesa para complicar nas piores alturas comprometendo resultados que de outra forma podiam ser bem melhores.
Nem todas as preocupações se confirmaram embora o resultado tenha sido o temido.
O Uruguai confirmou tudo que dele pensava.
Muito bem a defender, chegou a este jogo sem golos sofridos, usando um estilo de jogo muito parecido com o Atlético de Madrid (lá está, Godín e Giménez) e letal a atacar porque fez três remates e marcou dois golos enquanto no outro Rui Patrício teve de fazer uma grande defesa.
Em termos exibicionais Portugal melhorou e fez o seu melhor jogo deste Mundial.
Por um lado porque Bernardo Silva finalmente "apareceu" e com ele a jogar ao seu nível a equipa cresce, torna-se mais acutilante e consegue ter bola e por outro porque o Uruguai também consentiu nesse domínio português recuando as linhas e construindo um sólido bloco em frente a Muslera enquanto espreitava o contra ataque com o perigo que se conhece.
Mas foi na tendência para complicar que Portugal perdeu o jogo e saiu do Mundial.
E aí Fernando Santos, não sendo o único , é o grande responsável.
Começou logo na equipa e na táctica escolhidas para o jogo que não lembrava ao "careca" mas lembrou-lhe a ele no pior dia possível para inventar.
Com uma equipa rotinada no 4-3-3 resolveu-se por um estranho losango com William mais recuado, Bernardo a jogar a 10 mas alternando com João Mário que começou sobre o flanco direito mas aparecia pelo meio enquanto Adrien jogava sobre a esquerda compensado as subidas de Raphael Guerreiro e a lentidão a recuperar de William.
Na frente prescindiu de Quaresma em forma e motivado pelo grande golo ao Irão para dar lugar a mais um médio e trocou André Silva por Gonçalo Guedes que trazia como carta de recomendação as duas deprimentes exibições face a Espanha e Marrocos.
E se a entrada de Bernardo se justificou a de Guedes foi mais um fracasso, tal a sua completa inoperância, que o seleccionador demorou longos setenta e quatro minutos a reconhecer até proceder à sua substituição por um André Silva que devia ter jogado de início.
Tal como a manutenção em campo de João Mário, oitenta e cinco minutos a fintar para trás e passar para o lado, foi um erro e o desperdiçar da possibilidade de ter outro jogador que oferecesse outras perspectivas a uma equipa que pareceu pouco imaginativa.
Mas o erro decisivo, do meu ponto de vista, foi aos 55 minutos quando com a equipa a perder tem Quaresma prestes a entrar e face ao golo de Pepe suspende a entrada.
Ou seja em vez de aproveitar a galvanização do golo do empate (e consequente desnorte adversário), meter Quaresma e ir para cima dos uruguaios para tentar ganhar desde logo o jogo o seleccionador fez outra coisa completamente diversa que lhe saiu totalmente mal.
Suspendeu a entrada do jogador,trocando a ambição pelo conservadorismo, e ficou a ver em que paravam as modas .
Pararam no segundo golo do Uruguai e Quaresma entrou,três minutos depois,não para ajudar a uma tentativa de ganhar vantagem mas sim para o habitual contributo para correr atrás do prejuízo que já era então de sucesso duvidoso.
Depois demorou mais dez minutos a meter André para o lugar de Gonçalo (podia perfeitamente ter feito as duas substituições em simultâneo)e outros dez para a entrada de Manuel Fernandes que trouxe à equipa em nove minutos aquilo que lhe faltara durante o restante tempo que foi o remate de meia distância em que não tendo sido feliz fez,ao menos, algo de diferente.
Mas já era tarde.
E assim a confirmaçaõ da valia uruguaia mais o receio confirmado das invenções portuguesas foram mais fortes que a melhoria exibicional da nossa selecção e ditaram um perfeitamente evitável regresso a casa.
Como tantas vezes no passado podemos queixar-nos, essencialmente, de nós próprios.
Depois Falamos.
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