Começado o Mundial andam os portugueses entusiasmados com a sua selecção por força daquele épico empate com a Espanha (a melhor equipa que vi até agora na prova) esquecendo-se um pouco que ele resultou muito mais do imenso talento individual de um jogador do que da valia de um colectivo que deixou bastante a desejar e que terá de melhorar muito para justificar um estatuto de candidato a ficar na Rússia até meados de Julho.
Mas hoje não vou escrever sobre a participação da selecção neste
Mundial.
E também não o vou fazer, embora me apetecesse bastante porque é
assunto para que já alertei neste espaço, sobre o papel maléfico do VAR na
deturpação da verdade desportiva de alguns jogos sempre a favorecer os
teoricamente mais fortes naquilo que mais não é que defender o negócio em volta
do futebol e aqueles que para ele mais contribuem.
Já tínhamos experiência disso na nossa Liga mas quando na prova maior
do futebol mundial se assiste ao que se vem assistindo não podem existir mais
dúvidas sobre o real significado da sigla VAR que é “Vamos Ajudar (os) Ricos”.
Assunto a que talvez volte brevemente.
Hoje escreverei sobre um assunto estranho, com contornos de misterioso
até, que é a má relação da selecção nacional com a cidade de Guimarães e com o
estádio D.Afonso Henriques mais propriamente.
Estádio que detém há muitos anos a quarta melhor média de assistências
de Portugal (tem público), estádio onde os seus habituais frequentadores criam
um clima de apoio à equipa que lá joga consensualmente reconhecido como dos
mais espectaculares e fervorosos do país (há apoio vibrante) , estádio onde,
contudo, a selecção nacional rarissimamente joga por opção inexplicável da
Federação Portuguesa de Futebol.
A FPF foi fundada em 1914, cento e quatro anos atrás, mas a selecção
nestes mais de cem anos apenas jogou em Guimarães...seis vezes!
Estreou-se em 16 de Fevereiro de 1983 (já a FPF tinha 69 anos de
idade) num jogo particular com a França de Platini e Cia, que apenas um ano
depois se sagraria campeã europeia depois de bater Portugal naquela meia final
de Marselha e a Espanha na final do Parque dos Príncipes, num jogo disputado a
meio da tarde de um dia normal de trabalho (uma quarta feira) porque o estádio
ainda não tinha iluminação.
Como não tinham outros onde a selecção disputava jogos oficiais.
Depois foi preciso esperar dezasseis (!!!) anos para a FPF voltar a
marcar um jogo para a cidade berço.
E, quanta generosidade, um jogo oficial com o Azerbaijão a contar para
a fase de apuramento para o Europeu de 2000 que Portugal venceu por robusto
sete a zero (que foi durante anos a mais dilatada vitória da selecção) e que
ficará para a pequena História por ter sido nesse jogo que Pauleta se estreou a
marcar pela selecção de que é, ainda hoje, o segundo melhor marcador de sempre
apenas superado por Ronaldo e por ter sido a primeira internacionalização de
Pedro Espinha ao tempo guarda redes do Vitória.
Esse jogo foi disputado à noite, com as bancadas a terem uma
configuração muito parecida com a actual, e casa cheia num apoio vibrante à
selecção.
O “agradecimento” da FPF foi só ter voltado a marcar um jogo para o
estádio D.Afonso Henriques quatro anos depois, um particular com a Espanha que
perdemos por 0-3, já em fase de aquecimento dos motores para o Euro 2004 e em
que a equipa de Scolari fez uma exibição muito abaixo do expectável.
Ou seja entre 1914 e 2004 (noventa anos)a selecção jogou em Guimarães
três vezes!
Dois jogos particulares e um oficial num ostracismo absolutamente
inexplicável.
Em 2004 disputou-se o Europeu em Portugal e para o efeito foram
construidos de raiz seis novos estádios ( Alvalade,Dragão, Municipal de Braga,
Algarve, Luz e Municipal de Aveiro)e modernizados quatro (D.Afonso Henriques,Cidade
de Coimbra, Magalhães Pessoa em Leiria e
Bessa) ficando o nosso país com dez modernos estádios todos eles aptos a
receberem jogos da selecção nacional.
De lá para cá como tratou a FPF a cidade de Guimarães?
Cinco (!!!) anos depois do Euro 2004 (a 14/10/2009) lá marcaram um
jogo , com Malta na fase de apuramento para o Mundial de 2010, que Portugal
venceu por 4-0 em mais uma noite de gala com as bancadas do DAH cheias de um
público entusiasta.
Talvez por isso, talvez por alguma má consciência, talvez por
coincidência (o mais provável) cerca de um ano depois (mãos largas...) novo
jogo oficial na estreia da fase de apuramento para o Euro 2012 face a Chipre.
Não correu lá muito bem e o empate final, a quatro golos, foi um dos
mais caricatos resultados de sempre da selecção portuguesa embora a
responsabilidade do mesmo não possa ser atribuída ao estádio nem ao público.
Resultado?
Mais três anos de “seca” até ao particular com o Equador, em Fevereiro
de 2013 em plena fase de apuramento para o Mundial do Brasil, que se saldou por
uma derrota por 2-3 face a umas bancadas com menos público do que o habitual
porque os vimaranenses já começavam a estar fartos de comer gato por lebre,ou
seja, verem marcado jogos oficiais com selecções de terceiro ou quarto escalão
europeu (Malta,Chipre, Azerbaijão)enquanto os jogos com selecções de primeira
linha (e apenas França e Espanha) eram particulares.
Esse jogo com o Equador, em 2013, marcou a ultima aparição da selecção
nacional no estádio D. Afonso Henriques.
De lá para cá , cinco anos decorridos,nunca mais foi vista !
O que significa que nas fase de apuramento para o Europeu de 2016 e
para o Mundial de 2018 a selecção nacional de futebol não veio a Guimarães
disputar um único jogo, fosse ele particular fosse oficial,naquilo que
constitui uma imensa falta de respeito pela cidade e pelo concelho de Guimarães
que , como foi dito atrás, garantem ao futebol português há muitos anos a sua
quarta melhor média de assistências e nunca faltaram à selecção com o seu apoio
entusiasta nas seis escassas vezes em que ela jogou em Guimarães.
Desde 2004, altura em que Portugal passou a ter os tais dez estádios
modernos e com todas as condições para jogos oficiais da selecção, como se
distribuíram os jogos da mesma?
Jogou vinte e uma vezes em Lisboa (Luz e Alvalade mas curiosamente
evitando o tal Jamor que nos gostam de vender como excelente para outro tipo de
jogos), dez vezes no Porto (Dragão e Bessa), oito vezes no desértico estádio de
Leiria onde nem o União actualmente joga,sete vezes no Algarve num estádio que
nem jogos (e público)de campeonato tem, cinco vezes em Aveiro outro estádio ao
abandono dado que o Beira Mar deixou de o utilizar), quatro vezes em Coimbra e
outras tantas em Braga e as tais três vezes em Guimarães o que deixa o estádio
da cidade berço como o menos utilizados dos dez do Euro 2004.
Os números não mentem e mostram, de forma clara, que a FPF não gosta
de Guimarães nem de marcar jogos para o estádio D. Afonso Henriques.
Não por falta de condições, muito menos por falta de público e do seu
apoio caloroso, mas apenas porque todos os interesses económicos que se movem
em volta da selecção apontam para outros palcos e para outros clubes a serem
favorecidos financeiramente com jogos da selecção nos seus estádios.
É comum em Guimarães, cada vez mais comum e não apenas nas bancadas do
estádio D.Afonso Henriques, ouvir-se dizer que “ a nossa selecção é o Vitória” num claro repúdio pela forma como a FPF trata a cidade berço.
E ninguém pode levar a mal que assim se pense.
A isso fomos levados por muitos anos de um ostracismo e um desprezo
que nada justifica e que Guimarães, e a selecção de Portugal, não merecem!
4 comentários:
Já por várias vezes tenho abordado este assunto, junto daqueles que me são mais próximos.
Esta situação, só demonstra a "azia" dos os estarolas por nós, e dos outros que gostavam de ser como nós.
Pior do que isso, é a prova provada de como o vitória não tem voz nas altas instãncias desportivas, nomeadamento no Futebol.
E como não há 2 sem 3, a condecoração ao presidente da FPF na última gala vitoriana....
Caro ON:
Seja qual for a razão ou razões a realidade é que a selecção não vem a Guimarães.
E bem gostava d eperceber as razões dessa má vontade federativa ao longo dos anos porque seis vezes em mais de cem anos é inaceitável.
Quanto ao galardão dado ao presidente da FPF na Gala também não percebi a razão.
Em Guimarães, no dia 6-Fev-2013, no Portugal-Equador os adeptos locais passaram o jogo todo a assobiar o Custódio (que por acaso até é natural do concelho de Guimarães). Na altura, era ele jogador do SC BRAGA. Se em Guimarães não sabem separar as águas, acho muito bem que a FPF não marque para lá jogos para não se correr o risco de voltar a assistir a episódios desses.
Caro Anónimo:
Esse é um argumento completamente ridiculo e que apenas dá vontade de rir.
Já vi ao vivo em vários estádios deste país (todos os do Euro com excepção do Algarve) dezenas de jogos da selecção nacional. E já a vi algumas vezes, felizmente muito poucas, ser mais assobiada do que foi esse jogador nesse jogo.
Nomeadamente na Pedreira de Braga já que percebo bem de onde vem esse comentário disparatado.
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