O meu artigo desta semana no zerozero.
Faltam dez curtos dias para começar na Rússia o maior evento
desportivo a nível de todo o mundo e que apenas tem comparação, em termos de
mediatismo e audiências, com os Jogos Olímpicos.
Refiro-me como está bom de ver ao campeonato mundial de futebol.
Conhecidos os participantes, feito o sorteio dos grupos, divulgadas as
convocatórias das trinta e duas selecções apuradas é tempo agora de se realizarem
os últimos jogos de preparação antes de a 14 de Junho as equipas de Rússia e
Arábia Saudita darem o aguardado pontapé de saída da prova.
Naturalmente que antes de a bola rolar é também tempo de fazer
previsões, avaliar hipóteses e dar palpites sobre quais são as selecções
favoritas a levantarem o mais cobiçado troféu do mundo do futebol.
Para este Rússia 2018 é óbvio que não se foge a essa regra e desde os
simples adeptos às casas de apostas todos procuram adivinhar, porque neste
momento é disso que se trata, quem será a mais forte das selecções e portanto
aquela que terminará a competição em primeiro lugar.
Noutra oportunidade, mais para a frente, também aqui deixarei a minha
previsão mas por agora quero apenas falar da selecção portuguesa e daquelas que
poderão ser as suas ambições neste mundial procurando nesta análise despir a
camisola de adepto e acentuar tanto quanto possível o rigor analítico.
Primeiro dado, e absolutamente objectivo, é que Portugal chega à
Rússia como campeão europeu em título o que lhe dá o direito de ser olhado como
uma das mais fortes equipas presentes (o que é acentuado pelo quarto lugar no
ranking da FIFA) e deixa alguma expectativa quanto à sua prestação.
Transforma-o isso num favorito à conquista do Mundial?
Não.
E num candidato?
Muito dificilmente.
A verdade, a minha verdade para ser claro, é que considero que
Portugal não tem hoje uma selecção que lhe permita ombrear e vencer algumas das
outras que ostentam,elas sim, o estatuto de favoritas quer pelo seu histórico
quer, essencialmente, pelo valor dos seus jogadores.
Costuma-se dizer, com alguma razão, que o Mundial é o Europeu mais o
Brasil e a Argentina em termos de grandes selecções do futebol mundial o que
corresponde à verdade com a devida licença do Uruguai e dos seus dois já
remotos títulos mundiais.
E se olharmos para esse panorama de grandes selecções vemos que existe
de facto um grupo delas que está acima de Portugal em termos de valor absoluto
e que é constituído pelas duas referidas equipas sul americanas mais os bem
europeus Alemanha, Espanha e França que constituem do meu ponto de vista o
quinteto de grandes favoritos a venceram a prova.
Depois...depois há outras equipas que num cenário favorável podem
aliar o valor próprio aos caprichos de um sorteio “amigo” que lhes permita
assumirem uma candidatura que à partida não seria considerada como provável.
E ,aí sim, podemos falar de selecções como Portugal, como Inglaterra,
como Bélgica ou até a Rússia que poderá
beneficiar da tradicional “simpatia” dos poderes ocultos da FIFA pelas
selecções organizadoras dos campeonatos.
Para se ganhar um Mundial é necessário um bloco de jogadores de alta
qualidade, repartido por todos os sectores do terreno, a que depois a presença
de (pelo menos)uma super estrela pode dar o toque de Midas necessário a
conseguir fazer a diferença para os outros competidores.
Mas há casos em que o bloco de jogadores de alta qualidade, sem super
estrelas, foi suficiente para vencer o título e bastará recordar os dois
últimos mundiais para constatar que assim é quando grandes selecções de Espanha
e Alemanha saíram vencedoras.
Mas dificilmente uma super estrela, por si só, pode transformar uma
boa equipa num campeão mundial.
Sem recuar aos primórdios do futebol direi que ao longo dos vinte
mundiais já disputados apenas em duas ocasiões a super estrela foi suficiente
para levar ao colo uma boa equipa até á conquista do título superiorizando-se
assim a adversários mais fortes enquanto colectivos.
Garrincha em 1962 no mundial do Chile e Maradona em 1986 no mundial do
México!
Em 1962 um Brasil sem Pelé, que se lesionou no segundo jogo, e com boa
parte dos campeões de 1958 já veteranos valeu-se do talento fenomenal de Mané
Garrincha para ser campeão o mesmo acontecendo com a boa (mas apenas isso) selecção argentina em que
um Maradona no auge da carreira fez a diferença face à concorrência.
Mas também há muitos casos em que a super estrela, mesmo rodeada de
boas equipas, não conseguiu vencer o Mundial.
Pelé e Eusébio em 1966, Cruijff em 1974, Zico em 1982, Maradona em
1990, Ronaldo em 1998, Cristiano Ronaldo e Leo Messi em 2010 e 2014 são alguns
dos exemplos que ilustram essa impossibilidade-
E o “problema” de Portugal é precisamente esse.
Tem a super estrela, tem em seu torno uma equipa de boa qualidade, mas
não me parece que seja o suficiente para ganhar o Mundial porque no actual “vinte
e três” de Portugal são muito poucos os jogadores em que se “vê” um campeão
mundial.
Para lá da super estrela, cinco vezes considerado o melhor do mundo e
outras cinco o segundo melhor, veem-se poucos jogadores que possam formar a “guarda
de honra” necessária a construir um candidato a vencer o Mundial.
Pepe e Quaresma são os mais categorizados e “cabem” num campeão do
mundo mas são jogadores trintões que com o avançar da prova terão cada vez
maior dificuldade em recuperarem fisicamente.
Rui Patrício também (veremos como chega ao Mundial com todos os
problemas que tem em Alvalade) e Bernardo Silva poderá aproveitar este Mundial
para se afirmar definitivamente no primeiro plano do futebol mundial tal como
Raphael Guerreiro se ultrapassar a falta de jogos com que chega à Rússia.
Depois há os prometedores Gelson e Gonçalo Guedes, o valor seguro de
João Mário, Moutinho, William, Adrien,Fonte , Cédric e Manuel Fernandes os
emergentes Ricardo Pereira , André Silva e Bruno Fernandes, os estreantes Mário
Rui e Rúben Fernandes, o veteranissimo Bruno Alves e os guarda redes Anthony
Lopes e Beto que completam a selecção.
Uma boa equipa mas “curta” para campeão do mundo.
Se por qualquer arte mágica neste lote se pudessem integrar alguns dos
melhores do Euro 2004 ( Figo, Rui Costa, Ricardo Carvalho, Deco, Pauleta,
Maniche, Jorge Andrade, Costinha)com a idade que tinham nessa altura então não
teria duvidas em afirmar que Portugal era não só candidato mas também um dos
maiores favoritos.
Infelizmente não é possível.
E por isso, tal como em França, há que ir jogo a jogo para ver até
onde é possível chegar.
Sendo certo que ultrapassar a fase de grupos é obrigatório e depois
vai depender de quem nos for saindo em sorte sendo certo que nos oitavos de
final teremos pela frente o Uruguai ou a Rússia salvo se o “faraó” Salah
conseguir o milagre de classificar o Egipto num dos dois primeiros lugares do
grupo A.
Ultrapassada essa fase, que creio estar ao nosso alcance pese embora o
“perigo” russo (pelas razões atrás citadas), nos quartos de final teremos muito
provavelmente o encontro com França ou Argentina , se a lógica não for neste
caso uma batata, e aí saberemos de facto o que podemos ambicionar.
Mas uma coisa de cada vez.
E não sendo, do meu ponto de vista,
favorito e dificilmente candidato Portugal será certamente uma selecção
ambiciosa e crente nas suas possibilidades tal como aconteceu no último
Europeu.
E, quem sabe, isso pode ser meio caminho andado para uma boa surpresa.
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