Neste tempo de defeso em que todas as atenções estão
concentradas no Mundial da Rússia e por cá, pelo nosso futebol, nada há de novo
a merecer especial destaque com cada equipa a tratar do respectivo plantel para
a próxima época com as habituais contratações, dispensas, empréstimos e
quejandos mas sem notícias de encher o olho é tempo para fazer uma reflexão
serena sobre a envolvente emocional do futebol.
Do futebol em geral e não apenas na sua vertente
clubística.
Não tenho nenhuma duvida que o futebol é a modalidade
desportiva mais popular do planeta e aquela que mais paixões desperta junto dos
seus incontáveis adeptos.
Há vários factores que contribuem para isso.
É um desporto que começou a ser praticado, de forma
organizada, no século 19 e por isso já vai no seu terceiro século de existência
contando com um histórico e uma tradição que são inigualáveis por qualquer
outra modalidade desportiva.
A sua beleza competitiva, a estética e movimento de que se
reveste, a simplicidade das suas regras tornam-no acessível a todos e fácil de
praticar por qualquer um que o deseje.
A organização dos campeonatos nacionais para clubes e de
provas internacionais para clubes e selecções (o primeiro Mundial foi em 1930!)
deram ao futebol uma atenção e uma popularidade extraordinária que o advento
das televisões exponenciou de forma brutal ao levar as grandes equipas e os
grandes jogadores a casa de cada um.
E por ultimo, mas seguramente o factor mais importante,
porque os grandes jogadores, as grandes jogadas, as grandes equipas,os golos
espectaculares e inesqueciveis fidelizaram muitos milhões de adeptos ao longo
dos anos.
E por isso o futebol faz parte da vida de todos nós.
Mas como tudo que gera paixões e estados extremos de emoção
o futebol também encerra perigos.
O perigo do excesso e o perigo do defeito.
Os excessos são bem conhecidos e tem trazido ao longo dos
anos muitos episódios perfeitamente condenáveis e que muito tem prejudicado a
imagem da modalidade e as condições de segurança de quem a ela quer assistir em
segurança e tranquilidade.
Para além de quezílias entre aqueles que deviam ser os
primeiros interessados na boa imagem da "industria" em que o futebol
se tornou.
Mas há também os perigos por defeito.
Hoje muitas pessoas por força das dificuldades da vida
projectam no futebol os seus espaços de realização, de cumprimento de
objectivos, de obtenção de alguma felicidade que compense as agruras do dia a
dia.
Até porque o futebol, e aí está outros dos seus enormes
atractivos, permite a surpresa, o imprevisto, o triunfo do mais fraco perante o
mais forte.
E quem não deseja isso da própria vida em tantas
circunstâncias?
E por isso criam-se em volta do futebol em geral, mas
especialmente em torno das equipas de cada um,expectativas quantas vezes
exageradas e que se não forem correctamente "temperadas" e geridas
pelos responsáveis podem descambar em fenómenos nocivos de que a descida da
média de assistências em muitos campeonatos é um fenómeno que se vem
vulgarizando.
Quero com isto dizer que hoje exige-se aos responsáveis
directivos, mas também aos treinadores, que sejam para lá do resto também
pedagogos na explicação do futebol e mestres na sabedoria com que comunicam com
os adeptos.
Deles se esperam discursos racionais, nos quais sejam
objectivos no que podem ser as ambições dos seus clubes e na explicação de que
na esmagador maioria das equipas não se podem ter jogadores do nível daqueles
que se vêem na televisão nos grandes campeonatos, mas igualmente discursos que
potenciem as forças que todos tem e não uma explanação continua das fraquezas
que devem ser preservadas no seio de cada instituição.
Exige-se, acima de tudo, a dirigentes e treinadores
que não sejam destruidores dos sonhos dos adeptos.
Que precisam de sonhar, precisam de ter esperança, precisam
de sentirem motivação,ambição e sentido de conquista para eles próprios não
esmorecerem perante os problemas e as dificuldades que se põe a todos
quantos não sejam adeptos de clubes de grandeza extra.
Significa isto muito claramente que os adeptos precisam de
dirigentes e treinadores que saibam, também pelo discurso, transformar
dificuldades em oportunidades e não daqueles que fazem do miserabilismo, do
acentuar dos problemas e das mais diversas formas de desculpabilização dos
insucessos o pão nosso de cada dia.
Um dia, num contexto muito próprio para a selecção
nacional, o então seleccionador José Torres disse a famosa frase
"...deixem-nos sonhar...".
É isso que os adeptos do futebol devem exigir dos seus
dirigentes e dos seus treinadores.
Deixem-nos sonhar.
Com muita ambição mas também com a racionalidade
necessária.
Para tristeza já bastam as dificuldades que ensombram o dia
a dia das pessoas.
Não façam do futebol uma modalidade triste ,ou um factor de
tristeza mais, porque ele não merece e os adeptos também não.
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