O meu artigo desta semana no zerozero
O mundo do futebol, permanentemente sujeito a efeitos de enorme mediatismo em função do que nele se desenrola, viveu nesta última semana momentos extraordinários, mas radicalmente opostos em termos de fair play e falta dele.
Para não lhe chamar pior.
São o “sol” e a “sombra” do futebol.
Em Dortmund, numa prova cabal de que o fenómeno da violência terrorista nem o mundo do desporto respeita (em boa verdade isso já se sabia desde Munique/1972), o autocarro da equipa alemã, quando se dirigia para o estádio, foi atacado à bomba, felizmente sem consequências físicas (excepto para Marc Bartra, embora quase irrelevantes face ao que podiam ter sido), mas deixando enormes marcas anímicas em todos quantos nele viajavam e uma enorme preocupação no mundo do futebol, excepto para a UEFA, que mandou jogar no dia seguinte porque com o negocio não pode parar!!!
Mas, se o atentado foi a “sombra”, o “sol” apareceu quer no estádio, com os apoiantes do Mónaco a entoarem cânticos de apoio ao adversário, quer depois com esse exemplo extraordinário de os adeptos alemães terem acolhido em suas casas os monegascos que não tinham hotel para essa noite e assim puderam permanecer em Dortmund para verem o jogo.
Por cá também nesta semana tivemos casos de “sol” e “sombra”.
Em Guimarães, depois de um jogo em que o Vitória foi superior mas o Tondela discutiu o resultado até ao fim, deixando a sensação de que até podia ter feito um ponto, assistiu-se a um acto de enorme fair play do clube visitante que, através da sua conta no twitter, felicitou o Vitória pelo seu triunfo e deixou rasgados elogios aos mais de vinte mil adeptos vitorianos que assistiram ao jogo e deram ao longo de 90 minutos um apoio incessante à sua equipa.
Um exemplo de fair play de um clube “pequeno”que soube ser “grande” na atitude, em contraponto com aqueles a quem chamam “grandes” e que andam há semanas (meses...anos…) a darem tristíssimos espectáculos de quezílias, suspeições, insultos e o que mais se tem visto, recorrendo até, quanta “sofisticação”, a cartilhas para a “peixeirada” sair devidamente afinada.
Mas, se o Tondela foi o “sol” da semana”, a “sombra” foi indiscutivelmente claque do Porto e os seus miseráveis cânticos num jogo de andebol entre dragões e Benfica evocando, sem pudor, nem vergonha, nem respeito de qualquer espécie a tragédia acontecida ao Chapecoense.
Bem andou o clube em se demarcar por palavras do sucedido, mas falta agora o Porto e outros clubes demarcarem-se por actos concretos daqueles que nas claques, e não só, andam a semear violência dentro e fora dos recintos e a conspurcar o fenómeno desportivo.
E muito doente tem de andar uma sociedade quando entre ela abriga gente (???) capaz de atitudes como esta.
Que em termos dos chamados “grandes” não foi facto virgem porque ainda recentemente adeptos leoninos gozaram com a morte de adeptos dos No Name Boys e estes com o sucedido no Jamor no triste dia do very light.
Não é rivalidade.
É puro banditismo de indivíduos que têm de ser tratados na base do código penal como delinquentes que são.
Finalmente, dois exemplos de como também na disciplina há “sol” e “sombras”.
Aquando da visita do Vitória ao Boavista, em jogo da Taça de Portugal, todos nos recordamos das agressões de que foi alvo o guarda-redes vitoriano Miguel Silva por dois jagunços disfarçados de jogadores de futebol que ainda no relvado o agrediram cobardemente.
Nenhum foi punido por essas agressões.
No regresso da equipa vitoriana ao balneário, largos minutos depois do fim do jogo por ter estado a festejar com os adeptos o triunfo, a equipa vitoriana foi alvo de uma emboscada por parte de jogadores e dirigentes do clube da casa, que mais uma vez agrediram Miguel Silva que como é natural se defendeu das agressões.
Resultado?
Miguel Silva foi imediatamente suspenso pelo orgão disciplinar, sendo-lhe instaurado um processo de inquérito que durou semanas, com ele suspenso, e do qual até hoje, e salvo melhor informação, não se conhece desfecho.
A verdade é que esteve semanas suspenso sem poder dar o seu contributo à equipa.
Um caso de pura “sombra”.
Na passada semana, em Moreira de Cónegos, o benfiquista Samaris, com o jogo parado e sem qualquer motivo, deu um murro a um adversário.
O árbitro pode não ter visto, mas seguramente que muita gente viu e o acto foi devidamente captado pelas câmaras de televisão.
Como, aliás, já na jornada imediatamente anterior tinham captado o mesmo Samaris a dar um murro (que talento para o boxe se terá perdido com a sua opção pelo futebol...) no portista Alex Teles sem punição disciplinar imediata ou posterior!
Mas em relação ao acontecido em Moreira de Cónegos qual foi o desfecho?
Um inquérito face à gravidade do acto (segundo consideração do orgão disciplinar) mas com a “pequena” nuance de o jogador poder continuar em actividade enquanto o inquérito decorre (sendo expectável que só existam conclusões depois de o campeonato decidido…), precisamente o contrário do sucedido com Miguel Silva.
Poder-se-á considerar este exemplo como o “sol” da disciplina?
É claro que não.
Mas apenas como mais uma prova de como no futebol português o sol quando nasce não é para todos.
E por isso em Portugal não há verdade desportiva nas competições!
2 comentários:
Por tudo que aqui deixou escrito e relatado com factos concretos, fica demonstrado à saciedade que no nosso "burgo", continuam a existir clubes que ainda se movimentam muito bem na obscuridade dos túneis.
Quanto ao tratamento perante as leis que regem o nosso futebol, apetece-me citar George Orwell: " Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros."
Caro King_vsc:
Sim tem razão.
E no nosso futebol mais vale ser animal" (águia,leão, dragão) do que Rei.
Ironias d eum país cultural e desportivamente atrasado
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