segunda-feira, abril 24, 2017

Europa

O meu artigo desta semana no zerozero.

Os quartos de final das competições europeias, Liga dos Campeões e Liga Europa, foram a prova clara de que o futebol campeão europeu de selecções  não tem a mesma expressão quando se trata de clubes portugueses envolvidos nessas competições.
Onde, curiosamente e confirmando o atrás escrito, também marcam presença bastantes jogadores e dois treinadores portugueses provando que o grande problema do nosso futebol não está seguramente nos seus profissionais mas sim nos clubes e na organização dos campeonatos.
Mourinho na Liga Europa e Leonardo Jardim na Liga dos Campeões, dois reputados treinadores portugueses o primeiro dos quais no topo dos melhores a nível mundial, são candidatos a vencerem as respectivas competições embora em boa verdade mais Mourinho do que Jardim face às equipas que treinam e aos adversários que terão pela frente.
Ronaldo, Pepe, Coentrão, Tiago, João Moutinho e Bernardo Silva na Liga dos Campeões e Anthony Lopes na Liga Europa são também eles candidatos a vencerem as respectivas competições o que para os jogadores do Real Madrid nem será propriamente uma novidade dado o palmarés que ostentam.
A verdade é que nenhum clube português esteve sequer perto de jogar esses quartos de final.
Na Liga Europa há muito que os emblemas nacionais desapareceram de prova face à fragilidade de que deram mostra frente aos adversários europeus, e nenhum era um “tubarão”, assinando um ano pobre de Portugal nessa competição.
Na Liga dos Campeões Benfica e Porto ainda conseguiram chegar aos oitavos de final mas deles foram facilmente arredados por Borússia Dortmund e Juventus que se revelaram claramente forte demais para o actual potencial dos clubes portugueses.
Do meu ponto de vista isso não tem tanto a ver com a sempre evocada diferença de orçamentos entre os clubes portugueses e os grande clubes europeus, que sendo verdadeira está longe de explicar tudo, mas muito mais a ver com as idiossincrasias das competições internas, da organização dos clubes e do rigor e verdade das competições.
Compare-se com a selecção:
Portugal tem Ronaldo, é verdade, mas depois os jogadores que o rodeiam (com excepção de Quaresma e Pepe) não estão no topo do futebol europeu embora alguns, como Raphael Guerreiro,
possam lá chegar num prazo mais ou menos curto.
Então como explicar que uma selecção que não é a melhor da Europa seja campeã europeia?
Para lá do imenso mérito de jogadores e treinadores há uma organização por trás, da FPF, que é de excelência e deu à equipa a mais valia necessária a equilibrar as operações face a adversários com outro poderio competitivo.
Desde a organização das viagens aos locais de estágio, passando por tudo o mais que rodeia uma equipa profissional de futebol, há um profissionalismo, um rigor e uma competência que colocam a federação portuguesa na primeira linha do futebol mundial.
E naturalmente as selecções, não apenas a A, beneficiam largamente disso.
Nas competições internas que temos?
Dentro dos relvados assistimos a jogos raramente bem jogados, a uma gritante falta de verdade desportiva nalguns deles, a campos “inclinados” a favor dos chamados “grandes” quando jogam com os outros, a um anti jogo em crescendo de ano para ano, a uma invasão de estrangeiros de qualidade mais que duvidosa e , essencialmente e a explicar os tais falhanços europeus, a uma gritante falta de competitividade na maioria dos jogos.
Fora dos relvados vemos médias de assistências vergonhosas, com excepção dos chamados “grandes” e do Vitória (vá lá do Setúbal  do Braga e do Marítimo também…), sorteios das competições feitos para favorecerem três clubes, regulamentos de provas anedóticos (taça CTT por exemplo)constantes quezílias entre dirigentes dos clubes, um estado de permanentes insinuações e suspeições, um clima de banditismo instalado entre alguns membros das claques dos chamados “grandes” orgãos disciplinares sem critério nem isenção nas decisões que tomam sendo frequente para casos idênticos decisões diferentes consoante as camisolas envolvidas.
E por isso as equipas portuguesas envolvidas nas competições europeias, especialmente os tais chamados “grandes”, pouco habituados a uma competitividade interna intensa como a de outras ligas (Inglaterra,Espanha, Alemanha, Itália) e mal habituadas ao “colo” dos árbitros quando se encontram face a adversários europeus de algum gabarito baqueiam com a regularidade que se tem vindo a afirmar como norma dos últimos anos.
Há que mudar de rumo.
Na disciplina, na arbitragem, na organização das competições, nas mentalidades.
Mas essencialmente no dirigismo a nível de clubes e da sua Liga.
Porque é neles clubes ,e nela Liga ,que estão os grandes responsáveis pelas equipas portuguesas não terem as prestações e a influência internacionais que a selecção e a FPF tem.
Num lado estamos no século XXI. No outro persistimos em continuar em meados do século XX.
E enquanto assim for nas grandes competições internacionais de clubes continuaremos a ver quartos, meias e finais disputadas por jogadores e treinadores portugueses mas duvido que lá voltemos a ver os nossos clubes.
Por sua exclusiva responsabilidade.

P.S. As lamentáveis afirmações dos presidentes de Benfica e Sporting depois do jogo de ontem são apenas mais uma prova do que atrás afirmei.
Enquanto não forem os principais interessados a defenderem a industria do futebol como podem querer que ela seja lucrativa, apelativa e fomentadora de verdadeira competitividade?

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