quarta-feira, abril 10, 2013

Grandeza

Uma das coisas que sempre me chocou na esquerda portuguesa, e aqui não incluo o PS que por norma tem posições mais sensatas nestas questões, é a falta de grandeza moral e intelectual para saber respeitar os adversários políticos na hora da morte.
Revolta-me profundamente ver essa esquerda, não democrática diga-se de passagem, ter no parlamento a atitude de votar contra os votos de pesar pelo falecimento deste ou daquele se por acaso for alguém que não lhe agrade ideologicamente.
Ao contrário de PSD e CDS , e quase sempre o PS, que na hora morte sabem respeitar quem partiu e não recusam o voto favorável ás referidas moções de pesar.
Foi por isso sem surpresa que na hora do desaparecimento de Margaret Tatcher, que ideologicamente era á direita da minha forma de ver a sociedade, se assistiu ao habitual chorrilho de criticas á sua governação por parte dos tais políticos e comentadores que fazem da intolerância a sua forma de estar.
Margaret Tatcher governou, com virtudes e defeitos, durante onze anos e meio o Reino Unido por vontade livre e expressa dos seus concidadãos.
No dia em que entenderam que estava errada...substituíram-na.
É uma prerrogativa formidável das democracias esta de dar a voz ao povo!
E essa esquerda portuguesa, seguidora de ditadores sanguinários como Fidel Castro, Mao Tse Tung, Estaline, José Eduardo dos Santos, Khadaffi ou Ceausescu (entre muitos outros) que mataram milhões e milhões de pessoas e nunca deram o voto livre aos seus povos o melhor que encontrou para criticar Tatcher foi que um dia ela recebeu Pinochet.
Patético.
Mas vindo de uma esquerda que até tem quem defenda que a ditadura esquizofrénica da Coreia do Norte é uma democracia já nada admira.
Há áreas em que de facto a inferioridade moral da esquerda é arrasadora.
Depois Falamos

4 comentários:

Rui Miguel Ribeiro disse...

É de facto lamentável. Margaret Thatcher foi uma política notável, que marcou uma era e deixou um legado que em parte ainda perdura. Infelizmente, a sua forma directa de estar na política e de defender os princípios em que acreditava, essas desapareceram.
A questão do Pinochet é anedótica. Dezenas de líderes de países democráticos receberam ditadores com pompa e circunstância. Ainda há pouco tempo estiveram em Portugal Khadafi e Mugabe, este apesar de uma proibição implementada pelos Estados-Membros da UE, que eram crápulas bem piores que Pinochet (ver em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2006/12/europa-e-frica.html ). Por vezes a ignorância, a estupidez e a intolerância andam de mãos dadas.

freitas pereira disse...

Caro Amigo, subscrevo e também creio que o respeito devido aos mortos deve ser , antes de mais, a postura civilizada de cada um ,no momento do desaparecimento dum adversário político.

Teci muitas criticas, e os próprios compatriotas de M.Thatcher também, ao personagem político que foi Margareth Thatcher , entre as quais, a filosofia econômica que nos legou e é seguida, infelizmente, atualmente, e da qual hoje sofrem todos os povos europeus. Já discutimos o sujeito noutro media.

Onde não estou de acordo com o meu Amigo é sobre o assunto Pinochet. Porque como muito bem diz no seu "post", M.Thatcher dirigiu um pais democrático e, quando a sua política desagradou ao povo, os seus próprios correligionários do partido encarregaram-se de a fazer partir do poder. Lucidez dos responsáveis do partido e grande lição de democracia.

Aqui, somos obrigados de considerar o erro considerável e imperdoável de M. Thatcher, para quem, o fato que Salvador Allende tenha sido eleito DEMOCRATICAMENTE pelo povo do seu pais, não tenha tido para ela o mesmo valor que a sua própria eleição pelo povo britânico.

Pinochet, ao assassinar o presidente Allende, com a ajuda da CIA e de Reagan, amigo de Thatcher, cometeu um crime de lesa majestade da DEMOCRACIA.
Além dos milhares de Chilenos vitimas da ferocidade de Pinochet, foi um sinal enviado aos outros ditadores do planeta, que o meu Amigo muito bem descreveu, que a DEMOCRACIA é a valor variável, segundo que ela é aceite pelos grandes deste mundo ou não, em função de interesses geo-estratégicos.
Na realidade, nada diferenciava Pinochet dos ditadores que citou.

Ao receber e proteger o carrasco do povo chileno, M.Thatcher espetou um punhal nas costas da DEMOCRACIA. Esta mesma democracia que queremos dar como exemplo ao resto do mundo .

Freitas Pereira














d

freitas pereira disse...

Já escrevi as mesmas palavras, "elsewhere! ", que não são minhas.

"Barely 100 out of the 256 Labour MPs attended the day of praise, and some, notably Glenda Jackson, broke with the tone set by Miliband accusing Thatcherism of wreaking over a decade "the most heinous, social, economic and spiritual damage upon this country, upon my constituency and my constituents".
Thatcherism, she said, transformed into virtues "the vices of greed, selfishness, no care for the weaker, sharp elbows, sharp knees". She added: "The first prime minister of female gender, OK. But a woman? Not on my terms."

Mas, Caro Sr. Rui Miguel Ribeiro, não é possível para alguém da estatura de M.Thatcher, num pais berço da Democracia, agir benevolamente, com criminosos daquela estirpe do Pinochet, mesmo se há outros que o ultrapassaram no crime, talvez, em países não democráticos.

Sarkozy recebeu Ghedaffi e outros tiranos, mas não recebeu Pinochet; nao ousou !

A imprensa britânica está muito dividida no que concerne os méritos e desméritos de M. Thatcher. Mesmo o seu funeral levanta problemas, porque muitos pensam que ela não pode ter mesmo tratamento que Churchill. O que eu acho pueril.

Como europeu, considero que o "thatcherismo" que vivemos hoje em toda a Europa, não tem futuro. Os tremendos sacrifícios exigidos ao povo britânico para implementar o liberalismo financeiro, o mesmo que nos impõem hoje em toda a Europa, arrasa a sociedade humana e cria condições pré-revolucionárias. Sobretudo quando os esforços são aplicados nas áreas fundamentais que são a educação, a saúde e o trabalho.

O governo social democrata que temos hoje em França, mesmo numa economia que frisa a recessão - 0,1% de crescimento em 2013 -, decidiu hoje , no quadro do orçamento 2013, contratar 6 000 professores para melhorar a educação, que tinha sido selvaticamente sacrificada pela direita de Sarkozy, esquecendo que a educação da juventude é o investimento capital numa sociedade.

Ia frequentemente ao RU durante a época de 70 e vi a industria automóvel inglesa desaparecer aos bocados, assim como outras industrias. M.Thatcher orientou a sua politica para a finança. A City de Londres deve-lhe muito e se hoje esta praça é o bastião da especulação na Europa, indo até à manipulação do Libor, que serve para definir custo do crédito entre bancos,
, é porque o governo britânico fechou os olhos.

A economia britânica não se porta melhor que os outros, apesar de dispor da sua própria moeda e do seu banco de emissão. E as agências de notação retiraram-lhe recentemente um "A", por esta razão. Apesar de ter injectado 400 mil milhões de libras na economia, através dos bancos.

Freitas Pereira

luis cirilo disse...

Caro Rui Miguel:
Deve aquilo a que chamam "realpolitik" e que mais não é do que fazer negócios a qualquer preço.
Caro Freitas Pereira:A questão central do meu post era o respeito perante a morte. E aí estamos totalmente de acordo. Em relação a Pinochet, um criminoso execrável,não me parece que ter sido recebido por Tatcher tenha uma gravidade maior do que aquela que representou outros ditadores serem recebidos por líderes democráticamente eleitos. E continuam a ser. Basta ver a reverência ocidental perante a ditadura de Pequim .