domingo, novembro 30, 2014

O Congresso da"Omertà"

Imagem: www.observador.pt

O congresso do PS ,agora terminado, não trouxe nada de novo.
Querem o poder, de preferência com maioria absoluta para não terem de partilhar nada com ninguém, querem governar o mais depressa possível mas sem dizerem como e muito menos calendarizarem medidas e explicarem como as vão por em prática.
Fora isso ( e um discurso de encerramento de António Costa bem construído. e inteligente na forma como dirigiu algumas mensagens a segmentos específicos, há que reconhecê-lo) foi blá blá atrás de blá blá dos oradores do costume.
Do exemplo mor de ressabiamento, Ferro Rodrigues, aos "jovens turcos" que emergem convictos de que são os donos e senhores da verdade e o país um bando de lorpas ansiosos pela sabedoria de que querem dar mostras.
Mas foi também um congresso marcado pela "lei do silêncio" anunciada por António Costa logo no discurso de abertura com três ou quatro "sound bytes" quanto ao recluso 44 do estabelecimento prisional de Évora sem nunca lhe pronunciar o nome.
E com isso deixando claro que nada mais havia para dizer sobre o assunto.
Silêncio quanto a Sócrates e ao processo judicial em que está envolvido.
Pelo receio de que a discussão do caso caísse mal na opinião pública mas também pelo enorme jeito que essa "lei do silêncio" acabou por lhe dar.
Porque não falar de Sócrates significou também não ter de falar do seu governo e da responsabilidade no estado do país em 2011 ,aquando das eleições que arredaram o PS do poder, a menos de um mês da bancarrota!
E por isso Sócrates, o "menino de oiro" do PS foi apenas um fantasma a pairar sobre o congresso sem ninguém se atrever a citá-lo e sem ninguém assumir(ó ironia...) a sua herança politica.
O que viria a confirmar-se nos novos orgãos com o arredar dos mais próximos de Sócrates do poder interno tentando com isso dar ao tal país de lorpas a ideia de que o socratismo estava afastado da direcção do PS como se o novo secretário geral não tivesse sido durante  anos o nº 2 do recluso de Évora na direcção do partido.
Mas se o silêncio quanto a Sócrates foi uma directiva de Costa houve outro silêncio que pesou como chumbo.
António José Seguro.
O anterior líder, "defenestrado" em nome da (agora maldita) herança de Sócrates, e cujo nome também não foi ouvido na FIL.
Pese embora ter vencido duas eleições (autárquicas e europeias) como líder do PS sem para isso precisar de evocar heranças outrora benditas para alguns.
E esse silêncio sobre Seguro foi o silêncio do comprometimento e da vergonha.
Do comprometimento por parte dos seus apoiantes, receosos de desagradarem ao novo "chefe", que agora integram orgãos do partido e amanha, em alguns casos, querem continuar nas listas de deputados em lugares elegíveis.
E por isso se dispensaram da maçada de evocarem o até à pouco líder.
Mas também o da vergonha.
Dos outros.
Daqueles que apoiaram Seguro e depois se passaram apressadamente para Costa quando este desafiou Seguro para as "primárias" (conheço tantos casos no país, no distrito de Braga e no concelho de Guimarães...),dando o dito por não dito, e assumindo a necessidade de mudarem de líder porque Seguro não defendia a herança de Sócrates!!!
E sabem bem, hoje melhor que nunca, que Seguro tinha razão e estava no caminho certo em termos de estratégia perante o país.
E sabem, também, que a forma como "defenestraram" Seguro foi uma vergonha para o PS.
E esses naturalmente nunca falariam do ex líder.
Daí que num congresso em que tanto discurso se ouviu o que mais releva são os silêncios.
Sobre Sócrates e sobre Seguro.
Silêncios ensurdecedores.
E que vão continuar a pairar sobre o PS.
Os silêncios...e os silenciados.
Depois Falamos.

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