O meu artigo desta semana no zerozero.pt
Em relação à saída de Jota Silva do Vitória rumo à “Premier League” claro que podia escrever um texto cheio de elogios ao jogador, à sua relação fantástica com os adeptos, à empatia que criou com eles em apenas dois anos e “esquecer-me” de falar do negócio desportivo e financeiro e emitir uma opinião clara sobre ele.
Ou então enveredar, à boleia de três resultados europeus satisfatórios, por um conjunto de louvaminhices e elogios desbragados à equipa, ao treinador e à SAD, que seriam sempre politicamente correctos, agradáveis de ler, incapazes de gerarem discórdias mas num caso estaria a ser prematuro porque se no caso de treinador e equipa não podemos esquecer que o Zurique é um adversário de algum valor o Floriana é da quinta divisão europeia no outro, o da gestão da SAD, estaria a enveredar pelo reino da pura imaginação.
Quando se quer agradar a quem manda há sempre caminhos fáceis para percorrer.
Mas prefiro, como sempre, falar de factos.
E os factos dizem-nos, de forma objectiva, que a transferência de Jota Silva do Vitória para o Nottingham Forest foi um mau negócio para o Vitória.
Um muito mau negócio até.
Em termos desportivos e em termos financeiros.
Em termos desportivos nada há a fazer porque os clubes portugueses necessitam de vender (as razões para isso não são assunto para hoje mas serão em próxima oportunidade) todos os anos para sustentarem os orçamentos e por isso todos eles se veêm na contingência de época após época verem partir um ou dois dos seus melhores jogadores.
É assim há muitos anos e assim continuará a ser por mais alguns.
Vamos então aos termos financeiros dentro daquilo que se vai sabendo pela comunicação social dado que até á data não é conhecida nenhuma informação vinda da SAD vitoriana.
Jota Silva tem vinte e cinco anos, fez duas épocas ( esta época que seria a terceira fez um jogo e marcou um golo antes de ser transferido) pelo Vitória nas quais disputou 82 jogos, marcou 19 golos e fez 11 assistências.
Na temporada passada fez 42 jogos, marcou 15 golos e fez 7 assistências e fruto disso chegou à seleção A de Portugal pela qual , até à data, actuou duas vezes.
A sua cláusula de rescisão era de vinte milhões de euros um valor que tem de se considerar como razoável mas nada de especial face à valia do jogador e ao seu percurso.
Mas para se perceber, especialmente os leitores que não sendo vitorianos estarão menos familiarizados com o processo, a dimensão total do mau negócio há que recurar no tempo até à contratação do jogador pelo Vitória ao Casa Pia.
Na altura foi amplamente noticiado que Jota Silva chegaria livre ao clube, que nada haveria a pagar aos “gansos” e que a totalidade do passe ficaria na posse do Vitória com base nuns quaisquer pareceres jurídicos que garantiam isso à administrção da SAD vitoriana.
Seria bom...mas não foi.
Porque afinal o Vitória teve de pagar 190.000 euros ao Casa Pia, ficou apenas com 50 % do passe e os restantes ficaram para o Casa Pia (30%) e para os empresários do jogador (20%) o que viria a ter um enorme peso desfavorável ao Vitória no negócio agora consumado.
Terá ficado também estipulado que por mais 100.000 euros o Vitória poderia comprar mais 20% do passe do jogador até determinada data.
Face à grande época realizada, ao ter sido um dos melhores jogadores do último campeonato e às internacionalizações por Portugal é evidente que Jota Silva se tornou num jogador com bastante mercado e cobiçado por clubes de vários campeonatos europeus sendo certo que a vontade do jogador sempre foi o campeonato inglês o que é perfeitamente compreensível.
Foi assim que apareceu o Nottingham Forest.
Que levou o jogador pela ridicula verba de sete milhões de euros, muito abaixo da clausula de rescisão e muitíssimo aquém do real valor de Jota Silva.
E há que acrescentar um detalhe relevante.
O Vitória, por razões desconhecidas, não exerceu o seu direito de opção sobre mais 20% do passe do jogador e não o ter feito por 100.000 euros significou deixar de embolsar nesta transferência mais um milhão de quatrocentos mil euros o que deve fazer corar de vergonha os “louva –a-deus” da actual gestão da SAD.
Até se se lembrarem que por menos do que esse valor foi transferido em Janeiro Dani Silva um dos mais jovens e prometedores talentos da equipa da temporada passada.
E portanto o Vitória vendeu Jota Silva por sete milhões de euros.
Mesmo que tivesse encaixado 100% desse valor o negócio já seria mau, porque o jogador vale claramente mais, mas a realidade é infelizmente bem pior.
Porque tendo apenas 50% do passe ao Vitória tocam apenas 3,5 milhões de euros (os restantes dividem-se entre Casa Pia e empresários conforme atrás descrito) dos quais ainda há abater 30% para o fundo BDT&MSD ( eu sei que este valor abate ao passivo mas é preciso perceber que o recurso ao fundo decorre de um negócio imprudente com a Vsports, uma vez mais com base em pareceres jurídicos incorrectos, na sequência de se ter verificado que uma certa almofada financeira afinal não existia) mais as comissões para os empresários envolvidos no negócio sendo que um deles, o mais famoso de todos, não tem fama de trabalhar a preços de saldo.
Face a tudo isto não custa muito chegar à conclusão que liquida nos cofres vitorianos vai entrar uma quantia abaixo do milhão de euros (!!!) fruto da venda de um dos melhores jogadores portugueses do último campeonato.
E a isto apenas se pode chamar um muito mau negócio por mais tolerante e compreensivo que se queira ser.
É certo que há contratualmente previstos uns bónus futuros segundo os quais o Nottingham pagará mais dois milhões de euros quando Jota Silva marcar o décimo golo em jogos oficiais e um outro de 3 milhões de euros quando cumprir 15 jogos oficiais actuando um mínimo de 45 minutos em cada um deles.
Não pondo em causa que Jota Silva consiga cumprir esses objectivos falta ainda saber se esses cinco milhões de euros revertem integralmente para o Vitória ou se serão repartidos em proporção idêntica aos sete milhões iniciais o que em qualquer dos casos em nada modifica o tratar-se de um muito mau negócio.
Quando uma venda do jogador pela cláusula, que era o mínimo exigível, colocaria o clube ao abrigo da mais que provável necessidade de vender mais “jóias da coroa” temendo-se que face ao histórico conhecido se tratem de mais vendas a preço de saldo que não resolvem problemas estruturais ao clube e apenas servem como sucessivos balões de oxigénio.
É a minha opinião sobre o negócio entre Vitória e Nottingham Forest relativo à transferência de Jota Silva.
P.S. Claro que para alguns, os especialistas na defesa do indefensável, esta opinião não devia ser emitida num tempo em que o início de época está a ser tão positivo.
Claro que se o início de época estivesse a ser negativo diriam que esta opinião não devia ser emitida num tempo em que o início de época estava a ser tão negativo.
Há realmente gente para quem nunca é o tempo da verdade. Só da ilusão e da fantasia.
Sem comentários:
Enviar um comentário