segunda-feira, março 02, 2020

Debacle

O meu artigo desta semana no zerozero.

A jornada europeia da passada semana foi mais esclarecedora quanto ao que vale hoje, realmente, o futebol português do que as mil e quinhentas horas semanais de programas televisivos sobre futebol ( em boa verdade sobre três clubes) , mais as notícias em todos os telejornais e as quase sempre encomiásticas primeiras páginas dos jornais supostamente desportivos mas que raras vezes fogem do seu destino de boletins dos tais três clubes.
Porque nas competições europeias, com os tais árbitros estrangeiros que tanto se reclamam para alimentar guerrilhas domésticas mas que em boa verdade não dariam jeito nenhum aos que tanto gostam de árbitros portugueses, com ritmos e intensidade de jogo que nada tem a ver com as manhosices do nosso campeonato, com os VAR a estarem lá para ajudar à verdade desportiva e não como cá em que são orgão auxliar de recurso quando no relvado as coisas não se resolvem, com tudo isso mais a valia das equipas que chegam a esta fase das competições as equipas portuguesas foram varridas de uma penada da Liga Europa numa debacle como há muito não acontecia.
Também por culpa própria, é verdade, mas já iremos ao detalhe.
Não esquecendo que o “meu” Vitória nem da fase de grupos passou mas realizando, porventura, as melhores exibições europeias esta época feitas por qualquer uma das equipas portuguesas e que deixaram um travo amargo num não apuramento que podia ter tido outro desfecho.
Quanto ás outras há que dizer o seguinte:
Aquando do sorteio que destinou Shaktar, Leverkusen, Istambul e Rangers como adversários das equipas portuguesas tive, desde logo , a percepção de que Benfica e Porto dificilmente passariam (não, não me guio por A Bola, Record, O Jogo) , o Braga seria uma incógnita porque as equipas escocesas são capazes do melhor e do pior em muito pouco tempo  enquanto que o Sporting me parecia francamente favorito para a sua eliminatória.
Disputados os jogos da primeira mão, que se saldaram por três derrotas e um solitário triunfo precisamente do Sporting, o panorama parecia melhor porque os derrotados tinham-no sido pela margem mínima mas todos eles tinham marcado fora o que é muito importante em provas deste género.
Mas havia sinais de aviso que convinha não ignorar e que passavam pela categórica recuperação do Rangers de 0-2 para 3-2 , para a sensação de que Benfica e Porto tinham perdido ambos por 1-2 mas bafejados por alguma sorte porque seus adversários fizeram o suficiente para resultados mais folgados e para o incómodo que um resultado de 3-1 sempre causa por oposição a um 3-0 que é um resultado quase definitivo na esmagadora maioria dos casos.
E veio a segunda mão.
Que começou logo mal quando um Rangers nos seus melhores dias passeou por Braga e conquistou um apuramento que parecia difícil mas que os seus jogadores tornaram fácil face à qualidade da exibição produzida.
Fazendo com que o Braga europeu de Rúben Amorim fosse a antitese do Braga europeu de Sá Pinto  precisamente o contrário do que tem acontecido no campeonato!
Depois o Porto frente ao Bayer Leverkusen, uma das quatro ou cinco melhores equipas alemãs,foi a exibição bem conseguida de uma incapacidade confrangedora da equipa portuguesa absolutamente incapaz de fazer frente a uns alemães que fizeram da viagem ao “Dragão” quase uma visita turística e chegaram a fazer perpassar a memória de uns jogos com o Liverpool poucos anos atrás.
É verdade que qualquer uma das cinco ou seis melhores equipas alemãs é melhor que qualquer equipa portuguesa mas mesmo assim a fragilidade portista, nomeadamente no sector defensivo, deve ter dado (e assim continuará) grandes dores de cabeça aos seus responsáveis cientes da necessidade de reforços de qualidade e conscientes de que não tem dnheiro para eles.
O Sporting foi a maior das surpresas  negativas desta noite europeia em que nenhuma surpresa positiva há a registar.
Porque jogava com o adversário mais fraco, porque ia para a Turquia com dois golos de vantagem e porque na primeira mão dera uma clara sensação de superioridade face a uma equipa turca da quarta divisão europeia.
Mas o Sporting vive numa permanente crise de resultados, de ânimo, de falta de jogadores de qualidade, de estabilidade exibicional e emocional fruto de tudo que vem acontecendo no clube há já demasiados anos.
E por isso sofreu dois golos, ainda marcou um que o colocava no eliminatória seguinte, mas conseguiu a “proeza” de sofrer o terceiro (que igualava a eliminatória) no último minuto de jogo e não contente com isso ainda cometeu um penalti idiota a dois minutos do final do prolongamento vendo-se assim arredado da Europa por exclusiva responsabilidade sua.
Longo e árduo caminho tem pela frente este histórico clube para voltar aos seus tempos de glória futebolística.
Finalmente o Benfica.
Que tal como os seus amigos do Porto enfrentava um adversário que se sabia mais forte mas sem que isso significasse a impossibilidade de seguir em frente porque a diferença de valores não era dramática e o Benfica ainda gozava da vantagem de o adversário vir da pausa de inverno e portanto sem grande ritmo competitivo.
As coisas na Ucrânia nem correram mal de todo mas na Luz o Benfica viu-se confrontado com a para ele trágica dicotomia entre grande eficácia ofensiva (fez três golos o que em condições normais garantiria o apuramento) e , tal como o Porto, uma grande fragilidade defensiva que originou que sofresse outros três que obviamente significaram a eliminação.
E assim as quatro equipas portuguesas viram-se afastadas da Liga Europa porque os adversários foram melhores, os árbitros estrangeiros foram isentos e rubricaram bons trabalhos, e a real (falta de ) qualidade do nosso futebol veio ao de cima mal o grau de dificuldade aumentou qualquer coisa minimamente significativa.
Que seja ao menos motivo para uma reflexão séria sobre o nosso campeonato, a falta de verdade desportiva nele existente e uma competitividade muito insuficiente face aos reais tempos de jogo, às manhosices com que se queima tempo por tudo e por nada e à política de filhos e enteados que leva as equipas portuguesas a chegarem à Europa e encontrarem uma realidade muito diferente da que vivem no dia a dia do nosso cada vez mais futebolzinho!

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