Em semana do mais antigo, mais
importante e mais “clássico derbi do futebol português que é aquele que se
trava entre Vitória Sport Clube,de Guimarães, e Sporting Clube de Braga,de
Braga, importa aqui deixar aqui algumas palavras sobre a rivalidade entre os
dois clubes mas também sobre a rivalidade em geral.
Eu sei que para aqueles que acham que
o centro do mundo está na segunda circular de Lisboa ou na avenida Fernão de
Magalhães no Porto as palavras anteriores devem fazer muita confusão mas a verdade
é que a rivalidade quase centenária entre Vitória e Braga é apenas a versão
mais recente de uma rivalidade milenar entre Guimarães e Braga pelo que
qualquer derbi à beira deste é muito recente e de importância relativa!
A rivalidade faz parte da própria
essência do futebol.
Nela ao longo dos
anos assentou o crescimento, a popularidade, a divulgação do jogo como a
modalidade desportiva mais apaixonante de todo o planeta.
A rivalidade não
tem dimensão única.
Existe em todos os
tamanhos.
Desde as turmas da
escola, passando por ruas vizinhas, colectividades populares da mesma
comunidade, até atingir a dimensão máxima que lhe é dada pelos grandes clubes
de futebol.
Em que muitas das
vezes a rivalidade atinge picos entre clubes da mesma cidade de que o melhor
exemplo que conheço é a existente entre os dois maiores clubes de Sevilha.
O Bétis e o Sevilha.
Mas há muitas
outras conhecidas a nível europeu e mundial.
Manchester United -
Manchester City, Arsenal -Tottenham, Liverpool - Everton, Milan - Inter,
Flamengo - Fluminense, River Plate - Boca Juniores, Juventus- Torino,
Barcelona-Espanhol, Lazio-Roma, Benfica-Sporting, Porto-Boavista,
Corinthians-Santos e por aí fora.
Depois há as
rivalidades entre polos opostos no mesmo país.
Barcelona – Real
Madrid, Liverpool – Manchester United, PSG- Marselha, Porto-Benfica,
Milan-Juventus entre tantas outras.
São rivalidades
assentes na competição desportiva mas a que não escapa, em muitos dos casos,
uma componente política normalmente associada ao facto de um dos clubes ser da capital
do país e o outro de uma grande cidade que se considera injustiçada face aos
privilégios da capital.
Barcelona, Porto e
Marselha são três casos claros de que a rivalidade desportiva tem uma forte
componente de reivindicação regional!
Mas a rivalidade
que quero aqui hoje falar é outra.
A existente entre
Vitória e Sporting de Braga.
Ou entre Guimarães
e Braga se quisermos ser mais abrangentes.
É uma rivalidade
entre duas comunidades, que nos últimos quase 100 anos se reflectiu e alcançou
expressão máxima na disputa desportiva entre os dois clubes, que ao longo da
História sempre reclamaram uma primazia de importância de uma face á outra.
Tem Guimarães e
Braga bons argumentos, é indiscutível, para cada uma delas se reclamar mais
importante do que a outra face aos indicadores que lhe dão jeito.
Uma é no comércio e
serviços a outra na indústria.
Uma na sua
importância histórica enquanto berço da nação e a outra o seu significado
religioso face à importância da Igreja na construção de Portugal ao longo dos
séculos.
Guimarães foi a
primeira capital de Portugal.
Braga é capital de
distrito e o seu arcebispo é primaz de Portugal e das Espanhas conforme o seu
título.
Vitória e Braga não
escapam a esse confronto de “importâncias”.
O Vitória tem a seu
favor a posição no ranking de todos os campeonatos, nos quatro terceiros
lugares que já alcançou, nas inúmeras vezes que se superiorizou ao seu rival
nos antigos campeonatos do Minho, no facto de ter muito mais participações na
1ª divisão do que o seu oponente.
Mas também no facto de ter um estádio,
um pavilhão e um excelente complexo desportivo seus enquanto o Braga nem uma
sala tem para fazer as suas assembleias gerais.
Tendo, o Vitória,
como cereja em cima do bolo uma massa associativa incomparável em dimensão,
entusiasmo e dedicação exclusiva ao clube que lhe permitem ser de forma
consistente o quarto clube português em médias de assistência apenas atrás dos
do “costume”.
Curiosamente o Vitória B é também o
quarto clube em média de assistências na II Liga depois de em anos anteriores
ter chegado a liderar essa estatística e ter entrado no ranking dos vinte clubes
com mais espectadores à frente de algumas equipas da primeira Liga.
Entre muitas outras
coisas.
O Braga esgrime com
as “suas”duas taças de Portugal, o seu vice campeonato, a participação na final
da Liga Europa,a taça ctt, o crescimento sustentado ao longo dos últimos quinze
anos, a crescente fidelização de uma nova geração de adeptos ao clube
ultrapassando a tradição de muitos anos do bi clubismo que os caracterizava.
Creio que hoje,
friamente analisado, o Braga vai desportivamente á frente do Vitória.
Fruto do tal
crescimento sustentado, das boas opções desportivas, da escolha correcta de
aliados.
Mas o Vitória,
esse, mantém o seu maior trunfo.
Uma massa
associativa que é do clube, só do clube, e que no seu pior momento dos últimos
50 anos (a passagem pela II liga) deu uma resposta espantosa de dedicação e
amor à instituição.
Os vitorianos
provaram, e provam todos os dias,que são do Vitória.
Falta os
bracarenses provarem que são do Braga e não das vitórias e troféus que o Braga
tem alcançado nos últimos anos.
Concluo com duas
notas:
A primeira para
dizer que não trocaria nunca a nossa História pela História do Sporting de
Braga.
Tenho muito orgulho
em o Vitória ser como é, e ser o que é.
A segunda para
constatar o belo desafio que se põe à direcção vitoriana que sair das eleições
de 24 de Março:
Com base num
trabalho racional e sustentado, em estreita ligação com a massa associativa,
devolver o Vitória ao seu lugar de quarto clube português em termos desportivos.
Porque no resto, e
é muito esse resto, nunca deixou de o ser!
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