terça-feira, março 27, 2018

Politizar Eleições

O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.

À partida o conceito pode parecer um contra senso porque se há algo que deve ser naturalmente politizado são precisamente eleições com o normal confronto ideológico e programático entre os vários concorrentes.
E de facto assim é quando se tratam de eleições políticas no sentido mais restrito do termo.
Já não é de esperar que assim seja quando as eleições se disputam fora do âmbito partidário e ocorrem noutro tipo de instituições onde o normal deve ser restringir o âmbito dos debates às matérias que essas instituições tratam e não fazer recair sobre elas outros tipos de “tutelas” ou de tentativas de aproveitamento partidário.
Já os antigos diziam a “Deus o que é de Deus e a César o que é de César” como forma de separarem “águas” que não se devem misturar.
Ocorre-me esta reflexão a propósito das últimas eleições no Vitória e da curiosa convergência de apoios à lista que curiosamente, mas não por causa deles, saiu vencedora.
Em Guimarães há nas ultimas décadas uma larga tradição de o poder político tentar canibalizar todo o movimento associativo seja na vertente cultural, seja na vertente social, seja na vertente desportiva e disso há bastos exemplos em todas as áreas.
Mas há também uma honrosa tradição, largamente solidificada nos tempos de Pimenta Machado mas em perda depois dele, de o Vitória ter resistido sempre a essa “canibalização” pese embora os esforços feitos nesse sentido por várias personalidades dos executivos camarários.
Também disso há fartos exemplos e bastará recordar a forma como o partido político que domina o executivo há três décadas  patrocinou e se empenhou em candidaturas alternativas a Pimenta Machado, numa primeira e mal sucedida fase em que apenas colheram derrotas, para depois estar na primeira linha do apoio às candidaturas vitoriosas de Vítor Magalhães e Emílio Macedo da Silva em cujos elencos era bem visível a presença do poder autárquico  a par de alguns social democratas e centristas que  atenuavam a imagem (mas não o predomínio) dos socialistas
Com a chegada à liderança do Vitória de Júlio Mendes, ele próprio um ex vereador socialista, dá-se um recentrar das coisas com o Vitória a manter um bom relacionamento institucional com o poder socialista mas separando as aguas e não permitindo demasiadas proximidades nem intromissões nas esferas de competência exclusiva do clube.
É verdade que aqui ou ali houve exageros (o pior dos quais foi a entrega da taça de campeões nacionais de juvenis no edifício da câmara) mas mais imputáveis ao voluntarismo e despudor do poder político do que propriamente à vontade do clube nesse sentido.
E é nesse quadro que se chega às recentes eleições.
Onde se dá o espantoso fenómeno de da direita à esquerda existir uma enorme convergência no apoio à lista B aparecendo publicamente a prestar-lhe apoio algumas das mais relevantes figuras locais do PS,do PSD, do CDS e do PCP.
Todos!
Uns por convicção, outros por oportunidade, outros ainda por moda do momento a verdade é que todos queriam ficar na fotografia dos mais que prováveis vencedores de forma a poderem cantar vitória na noite eleitoral.
E alguns exageraram.
Como o vereador do desporto da autarquia que ao invés de manter o distanciamento aconselhável a quem teria de trabalhar com a lista que vencesse mergulhou de cabeça no apoio á lista B com receio de não poder aparecer na “fotografia” do triunfo.
Cometendo o erro que qualquer ministro do desporto cometeria se caisse no disparate de apoiar uma lista candidata a uma qualquer federação desportiva!
É certo que houve excepções mas não foram mais do que a confirmação da regra “sui generis” existente nestas eleições.
Mas enganaram-se.
Porque estas eleições demonstraram exuberantemente que o apoio político a uma lista pouca ou nenhuma influência teve no resultado final cujo equilíbrio nada teve a ver com a enorme desproporção dos apoios políticos entre ambas as listas.
A lista B ganhou, à tangente mas ganhou, não por causa dos apoios políticos (e religiosos...) mas apesar deles.
E aqueles que vieram a estas eleições em busca de dividendos políticos para o futuro saíram largamente derrotados nos seus intentos.
E essa é uma lição que o Vitória deu de borla à classe política vimaranense.

P.S. Devo dizer que excluo de qualquer politização destas eleições nomes como André Coelho Lima e José João Torrinha .
Por um lado porque sempre estiveram, ao longo do mandato, ao lado de Júlio Mendes e da direcção reeleita.
Por outro porque sei que ambos são “demasiado” vitorianos para alguma vez porém interesses políticos à frente dos interesses do Vitória.

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