terça-feira, março 20, 2018

Eleições

 O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.

O grande tema da semana em Guimarães são as eleições para os orgãos sociais do Vitória que se realizam no próximo sábado e que escolherão os dirigentes que vão governar o clube no próximo triénio.
As eleições no clube, desde os anos oitenta do século passado, tem-se quase sempre revelado(a excepção é quando ao acto eleitoral se apresenta apenas uma lista) momentos de exacerbado vitorianismo com os associados a dividirem-se entre as candidaturas e a pugnarem pelo triunfo daqueles que entendem como mais capazes de levarem o Vitória a “paraísos” onde, aliás, nunca chegou.
Convirá aqui recordar que até essa primeira eleição com duas listas, no inicio dos anos 80, a eleição dos orgãos sociais do clube era quase uma nomeação feita pelas elites vimaranenses que iam escolhendo os dirigentes vitorianos entre os industriais e comerciantes mais reputados do concelho sem azo a polémicas e dando ao clube orgãos sociais de inquestionável valia.
Essa prática, que vinha de 1922, ainda aguentou meia dúzia de anos após o 25 de Abril mas depois por força da evolução da sociedade portuguesa e da assumpção de valores fundamentais como a democracia acabou por dar lugar à bem mais democrática escolha dos dirigentes .
Mais democrática mas nem sempre mais qualitativa!
As primeiras eleições com disputa entre listas opuseram dois primos, António e Armindo Pimenta Machado, e resultaram mais de uma cisão na primeira direcção de António Pimenta Machado do que de qualquer diferença programática ou de objectivos a alcançar pelo clube.
Foram uma novidade.
Que dividiu os associados entres uma e outra, permitiu assistir à primeira (e muito mal sucedida) tentativa do poder político se tentar imiscuir no Vitória e tiveram como desfecho um claro triunfo do já presidente António Pimenta Machado que a partir daí embalaria para duas décadas de presidência que o consagrariam, na minha modesta opinião, como o melhor presidente de sempre.
E durante essas duas décadas houve várias eleições acesamente disputadas (Eduardo Fernandes, José Arantes,etc) em que o “cimento” que unia as listas de oposição era mais o ódio a Pimenta Machado do que qualquer rumo diferente para o clube.
Nunca o venceram.
E quando em 2004, desgastado por demasiados anos de presidência e por problemas que alguns “grandes vitorianos” arranjaram ao Vitória para tentarem abater o presidente do clube por vias judiciais já que pelas eleitorais nada feito, Pimenta Machado decidiu abandonar a presidência do Vitória o clube viu-se numa nova era da sua já longa vida.
Sem as elites do passado e sem o presidente que fizera a transição dos tempos de nomeação para os tempos de eleição os adeptos vitorianos deixaram-se “encantar” por uma campanha ardilosa e longamente elaborada para apresentar um associado sem qualquer ligação ao clube que não fosse pagar as cotas como o verdadeiro salvador da Pátria vitoriana.
E elegeram Vítor Magalhães.
Um trágico equivoco que nos custou bem caro.
E que uma vez resolvido, o equivoco, deu origem a outro equivoco chamado Emílio Macedo da Silva que conduziu o clube a uma crise financeira sem paralelo e que obrigou a que após ele fosse necessário serem tomadas medidas de excepção.
Manda, contudo, a justiça que se diga que Emílio Macedo prestou ao Vitória um relevante serviço quando assumindo a presidência com a equipa em décimo primeiro lugar da II Liga soube tomar todas as medidas necessárias a que a subida fosse possível e o inferno do segundo escalão durasse apenas um ano.
Ainda hoje creio que se não tem sido essa subida imediata o Vitória poderia ter ido parar sabe Deus onde.
E aqui importa fazer uma chamada de atenção.
Em 2010, quando já se percebia que o caminho trilhado pelos orgãos sociais de Emílio Macedo ia acabar mal, apareceu uma candidatura alternativa liderada por Pinto Brasil e que pela primeira vez propunha rupturas programáticas e novos caminhos para o clube fugindo às tradicionais promessas de contratar jogadores e fazer melhores equipas que eram normalmente a principal medida proposta pelas candidaturas anteriores.
Propunha a criação da “Fundação Vitória” , a construção de raiz de um centro de treinos para o futebol profissional longe da cidade (chegaram a ser vistos terrenos na zona de Ronfe) , a constituição de uma equipa B,  a aposta forte em duas modalidades(basquetebol e voleibol) para as por a disputar títulos nacionais, parceria com um grande clube estrangeiro, etc.
Ganhou?
Não.
Teve 30 % dos votos porque os associados vitorianos preferiram apostar em quem já conheciam, fechando os olhos a todos os sinais de alerta já existentes, e reconduziram Emílio Macedo rumo ao...precípicio!
Que chegou em 2012.
Com Pinto Brasil a assumir nova candidatura e tendo como grande proposta a rejeição de constituir uma SAD enquanto Júlio Mendes se candidatava retomando algumas das propostas de 2010 da candidatura de Pinto Brasil mas tendo como grande diferença o propor a constituição de uma SAD para gerir o futebol profissional.
A História de lá para cá, com tudo que ela tem de bom e de mau, é bem conhecida de todos e está presente no espírito de todos os associados vitorianos que no próximo sábado escolherão os orgãos sociais para o próximo triénio.
Democraticamente e sem qualquer drama.
Escolhendo entre Júlio Mendes que recandidata a sua equipa, apresenta o seu programa  e tem em apreciação os últimos três anos de mandato (os primeiros três já foram avaliados em 2015 como é sabido)e Júlio Vieira de Castro que se candidata acompanhado por um grupo de pessoas “virgens” em termos de presença nos orgãos sociais do clube e com o seu programa eleitoral .
São eleições normais, num clube que se rege por estatutos democráticos e que felizmente tem uma riqueza associativa que permite oferecer aos associados uma escolha entre duas candidaturas e não o andar em busca de quem queira ficar a dirigir o clube como acontece em tantos outros.
No sábado, ao fim do dia, Júlio Mendes será reeleito ou Júlio Vieira de Castro será eleito.
Democraticamente e sem qualquer drama repito.
Mas depois o essencial é que todos os vitorianos se unam em torno da direcção eleita, esqueçam as pugnas eleitorais, e contribuam para que possamos ter uma Vitória cada vez maior e cada vez melhor.

P.S . Optei por escrever este texto sem entrar em apreciações criticas/elogiosas aos programas eleitorais, aos candidatos, às acções de campanha de cada uma das listas ou até aos debate entre os dois “Júlios”.
Tal como não aconselho o voto em nenhuma das candidaturas.
Os associados tem, de certeza absoluta,a  maturidade e o discernimento necessários para na cabine de voto optarem por quem consideram melhor para o Vitória.

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