O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.
Com o calendário político a acelerar vertiginosamente rumo ao ano
eleitoral de 2019, em que em europeias e legislativas os portugueses dirão o
que pensam do Estado da Nação, quase todos os partidos se encontram já em
campanha eleitoral cientes de que nos tempos que correm convém ir formando a
opinião dos eleitores com a devida antecedência.
Nessa matéria o PS será, ao momento, aquele que se encontra em melhor
posição e portanto bem maior tranquilidade face a um conjunto de circunstâncias
que se vão desenrolando em seu redor.
Está no governo num ciclo de crescimento da economia que a par do
trabalho do anterior governo na por das contas públicas em ordem lhe tem
permitido fazer uns floreados e distribuir uns dinheiritos que mais cedo ou
mais tarde lhe renderão dividendos eleitorais.
Independentemente de questões de mérito , da oportunidade perdida de
consolidar as contas públicas e da certeza de que pagaremos caro,um dia, este
demagógico abrir de cordões à bolsa(veja-se o aumento de crédito dado pelos
bancos e a subida sem cessar da dívida pública)as coisas são o que são e o PS
vai tirar benefício disso.
E portanto olha em redor não só com a tranquilidade de quem nunca
teve,em quarenta anos, de reparar os erros que ele próprio cometeu mas também
de não ver na linha do horizonte nenhum tipo de oposição que o perturbe.
Esmagados no “abraço do urso” BE e CDU vivem na dependência de um
apoio a um governo de que não gostam particularmente (então a CDU nem se
fala...) mas do qual nenhum deles tem a coragem política suficiente para de
demarcar e voltar ao papel de oposição
pura e dura.
E se o PCP ainda tem a frente sindical para marcar umas greves, causar
alguma agitação e fazer de conta que
eleva a fasquia reivindicativa para os níveis que lhe eram habituais já o BE
face à sua irrelevância sindical e autárquica limita-se a um patético arremedo
de oposição aqui e ali mas disfarçando muito mal a sua vontade de se afirmar
como o parceiro “porreiro” no acordo de sustentação de governo com a mal
disfarçada esperança de que nas próximas eleições o PS precise dele e possa
dispensar o PCP e assim caiam de S.Bento uns lugares no governo.
Grosso modo à esquerda do PS o panorama é este e António Costa não
perderá uma única noite de bom sono a pensar em problemas que os “domesticados”
BE e CDU lhe possam causar.
Ainda por cima quando o PSD lhe ofereceu de borla , com a anunciada
disponibilidade para substituir os parceiros de esquerda na viabilização de um
minoritário governo socialista (gentileza que o PS não retribuiu face a um
muito hipotético governo minoritário do PSD) , a alavanca necessária a
condicionar ainda mais os parceiros da Frente de Esquerda.
À direita do PS o panorama é outro.
Por um lado o CDS, que sai do congresso deste fim de semana unido e
mobilizado, e que deixou claro que quer ir a votos sozinho (enfim, colocando a
si próprio uma fasquia plena de imaginação)o que não deixa de ser mais uma boa
notícia para o PS dadas as vantagens que o método de Hondt dá às coligações no
aproveitamento do número de votos e consequente transformação em mandatos.
Pode ser uma boa estratégia para o crescimento e implantação do CDS,
não o nego, mas é ainda melhor para um PS que ambiciona ,embora não o diga,
chegar a uma maioria absoluta e governar sem depender de BE e PCP.
Do lado do PSD as notícias também não deixam de ser boas para o PS.
Rui Rio ainda não soube unir o
partido (o acordo feito no congresso com Pedro Santana Lopes nem trouxe os apoiantes
deste para o seu lado nem contentou os seus próprios apoiantes), tem-se
multiplicado os “casos” em vez das “causas” e a própria estratégia de
subalternização ao PS quer na anunciada disponibilidade para ser “bengalinha”
dos socialistas (que estes aliás recusaram de imediato) quer na inacreditável “estratégia”
divulgada por um seu vice presidente ao semanário Expresso de as eleições “que
interessam” são as de 2021 e depois as de 2023 (uma espécie de estratégia “Gil
Vicente” para quem o próximo campeonato não conta para nada só o que se lhe
segue em que regressará à primeira divisão é que interessa) e não as de 2019 o
que terá soado como música celestial para os ouvidos de António Costa e do PS.
Quando se está no poder , tranquilo e confortável, se neutralizou a
oposição de esquerda e o principal partido de oposição (que não por acaso até
ganhou as duas ultimas eleições legislativas) não tem pressa em voltar a ser
governo que mais pode pedir o PS no seu rumo para voltar a ser poder e desta
vez ganhando eleições?
Rigorosamente nada!
P.S. Como hoje me dizia um amigo meu, com muita piada, António Costa
tem tanta sorte que desde que Rui Rio tomou posse no congresso do PSD acabou a
seca e voltou a chuva que tanta falta fazia.
Sem comentários:
Enviar um comentário