O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.
Quando em 1988 o Professor Freitas do Amaral regressou à liderança do
CDS, num daqueles erros de avaliação política tão frequentes na sua carreira
após 1980, fê-lo com base numa estratégia de equidistância do partido em relação
a PSD e PS que na sua opinião transformaria os democrata-cristãos no partido
essencial a quem dos outros dois quisesse formar um governo estável e
duradouro.
Enganou-se.
Porque se em relação ao PS a estratégia até podia ter funcionado, com
os socialistas a viverem os tempos de irrelevância da liderança Constâncio que
o então Presidente Mário Soares arrasava de forma quase diária, já do lado do
PSD a coisa fiava muito mais fina.
O partido tinha acabado de conquistar a sua primeira maioria absoluta
e o seu líder, Cavaco Silva, era ( e
continua a ser) um especialista na interpretação dos ciclos políticos e dos
timing de intervenção pelo que a estratégia do então líder centrista acabou no
celebérrimo “táxi” a que o CDS se viu reduzido após as legislativas de 1991 e a
segunda maioria absoluta dos social democratas.
É o exemplo maior, embora existam outros, que na política portuguesa a
equidistância é um equivoco sem remédio que condena os seus defensores a
derrotas políticas sem apelo nem agravo.
Pela simples, pelo menos para mim, razão de que política não é
geometria e portanto não é possível traçar equivalências em matérias que
envolvem ideologia, princípios programáticos, prática política consolidada por
mais de quarenta anos de democracia e impossibilidade de conciliar o inconciliável.
É um erro de consequências imprevisíveis pensar que o PSD se pode
posicionar a igual distância do PS e do CDS e ser charneira de um quadro
político-partidário hoje desequilibrado à esquerda quando se percebe bem que
esse posicionamento serve ao PS, serve ao CDS e só não serve a quem o propões!
Vejamos:
O PS governa hoje num quadro de alguma tranquilidade face ao apoio
parlamentar do PCP e do BE e todas as sondagens apontam no sentido de os
socialistas poderem vencer as legislativas de 2019 e até aproximarem-se de uma
maioria absoluta ou, pelo menos, uma maioria sem o PCP que é o verdadeiro
desejo de boa parte dos actuais dirigentes socialistas possuidores de grande
afinidades com o BE.
O que pode perturbar esse quadro de tranquilidade?
Ou um PSD forte e alternativo, o que neste momento parece longe de
suceder, ou um quadro reivindicativo vindo de PCP e BE que por razões diferentes
resolvam “esticar a corda” apresentando a António Costa um quadro de exigências
que a estabilidade financeira e os compromissos internacionais não permitam ser
aceite pelo governo.
O que dá jeito ao PS?
Ter um PSD cordato e disposto a entendimentos, que troque debates por “reuniões
de trabalho” e lideres parlamentares incómodos por alguém que ofereça “chá e
simpatia”, e que se ofereça publicamente para ajudar o PS naquilo que for
preciso.
E dá jeito porquê?
Não para fazer entendimentos, porque esses o PS só fará com o PSD aqueles
que lhe derem mesmo jeito e em matérias ideologicamente inócuas, mas para
conter as exigências dos seus parceiros da Frente de Esquerda dentro de limites
que respeitem a tal estabilidade financeira e os acordos internacionais.
Ameaçando-os com o “papão” de um acordo com o PSD.
Ou seja ao PS dá jeito um PSD que funcione como o “idiota útil”!
Ao CDS é evidente que um PSD encostado à Frente de Esquerda, que tenha
como objectivo substituir BE e PCP como parceiro menor de um acordo parlamentar
que sustente um governo PS, é o sonho possível de uma Assunção Cristas apostada
em replicar o grande resultado que teve em Lisboa nas autárquicas.
Ficando com um vasto espaço de centro direita ao seu dispor!
Seria o cumprimento, quarenta anos depois, da teoria de entalar o PSD
entre “duas bossas” que sustentou a formação do governo de coligação entre PS e
CDS em 1978 e que foi brilhantemente teorizada por Adelino Amaro da Costa.
Que está para o CDS como Francisco Sá Carneiro para o PSD.
E por falar em Sá Carneiro, a que agora o novo líder do PSD tanto se
refere, seria bom que Rui Rio lesse aquilo que o fundador do PSD escreveu entre
1976 e 1979 sobre a bipolarização do nosso sistema político entre dois grande
blocos.
Um liderado pelo PSD e outro liderado pelo PS.
Porque nessas teses de Francisco Sá Carneiro , ainda hoje plenas de
actualidade, está tudo que Rio precisa saber se tem a aspiração de vencer as
legislativas de 2019 e liderar o próximo governo de Portugal.
Sabendo que ganhar as eleições e governar significa ter 116 deputados(caso
contrário já se sabe o que fará a Frente de Esquerda) e que isso só é possível
liderando um bloco de que faça parte o CDS e até um ou outro pequeno partido
que se queira juntar.
Bipolarizar em suma.
Com o bloco liderado pelo PSD a ser a alternativa à Frente de Esquerda
e assumindo isso desde já com toda a frontalidade e com agressividade política necessária a acabar
com a “boa vida” ao governo.
Exactamente o contrário do que Rio tem feito ,e dos sinais que dá
quanto ao que pretende fazer, mas ainda vai a tempo de rectificar a estratégia
e seguir um caminho condizente com o que tem sido,desde sempre, o percurso
político do PSD.
2 comentários:
Caro Cirilo:
Riacho é um caso perdido! Não presta para nada, é prepotente e malformado.
Exteriormente é um mentecapto: a não ser que um riachinho amigo precise de proteção -daí o ódio à PGR; ou que muitos riachinhos precisem de ganhar uns trocos, dos milhões que os socialistas roub, perdão, desviam.
Ele fala em Sá Carneiro, mas é o boy do Veiga arqui-inimigo de Sá Carneiro! E sempre esteve do lado dos PSD's que odeiam o PSD. Devíamos chamar um pupilo do Dr. Freud -tem de haver uma explicação racional para o caso
Cara il:
Quando se fala de Miguel Veiga é preciso ter a memória que a minha amiga tem (e eu também) porque de facto ele gostando muito de falar em Sá Carneiro foi um dos seus maiores opositores no tempo das "Opções Inadiáveis" e não só. Já não está entre nós mas isso não me impede de dizer que é personagem com quem nunca, mas nunca, simpatizei. Quanto a Rio ele agora fala muito em Sá Carneiro. Agora...
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