sexta-feira, abril 24, 2020

Europas

O meu artigo desta semana no zerozero.

Passam os dias, passam as semanas, correm os meses e o mundo continua a combater o covid-19 sem ter nenhuma certeza quanto ao sucesso desse combate nem aos prazos nos quais poderá regressar a uma normalidade que nunca será a normalidade do pré pandemia mas algo de bem diferente.
Com a Europa e os Estados Unidos a registarem quase 90% das infecções e mortes por causa da pandemia ( o que não deixa de ser sintomático e a merecer outro desenvolvimento que não o de num artigo sobre desporto) é evidente que o sucesso do combate ao corona vírus passará pelo sucesso que esse continente e esse pais conseguirem nos seus esforços.
Deixando de lado os Estados Unidos, que é outra realidade económica, política e social a Europa , duramente castigada pela pandemia, tem sido incapaz de até agora concertar uma resposta comum ao combate que tem pela frente bem como um lamentável atraso nas medidas, e na sua dimensão,  que se entendem necessárias para combater a enorme crise económica que se prevê para o pós covid-19.
Não direi que é cada um por si mas pode bem dizer-se que a solidariedade entre países da União Europeia não foi a desejável o que obrigou a que outros protagonistas (Rússia e China ) aparecessem a ajudar os país mais fustigados como foi, por exemplo, o caso da Itália.
Se a Europa como continente, e a União Europeia como realidade política , não foram capazes de darem resposta cabal ao problema nem preparar o futuro, mostrando que há na Europa várias Europas, não seria muito de esperar que no que ao futebol concerne a UEFA fosse capaz de fazer muito melhor.
Porque a UEFA, como alguns governos, é excelente a navegar em “águas mansas” e fartura de meios económicos (quem não é ?) já quando as coisas se complicam, e muito como neste caso, tudo muda de figura e revela-se incapaz de não só propor soluções para o conjunto das suas federações como dirigir o “barco” em águas encapeladas.
E daí a desorientação que grassa quanto aos campeonatos nacionais, as competições europeias e a época de 2020/2021.
Sem grande esforço de memória todos nos recordamos que a UEFA, depois de reuniões por videoconferência com as federações nacionais, tomou basicamente duas grande decisões:
A primeira foi adiar  o campeonato da Europa para 2021 face às impossibilidades várias  que tornavam inviável que ele fosse disputado este ano.
A segunda, sobre o concluir das provas nacionais, foi decidir que... não decidia empurrando as decisões para as federações e ligas de cada país trocando assim uma decisão centralizada que mereceria o respeito de todos, porque igual para todos, por um “à vontade do freguês” que ameaça correr mal um pouco por todo o lado.
Mas, pior ainda, mal uma federação nacional decidiu de forma que à UEFA não agradou logo veio a terreiro criticar a decisão tomada nesse país (a Bélgica) e ameaçar com a exclusão dos seus clubes das provas europeias da próxima temporada.
Sintomático do desnorte que por lá grassa e mais uma prova do quão pouco democrática é a instituição que manda no futebol europeu.
E por isso se chegou a esta situação de num mesmo continente e numa mesma associação de federações haver um conjunto díspar de decisões.
A Bélgica decidiu dar o campeonato por terminado e homologar a respectiva classificação.
A Holanda decidiu dar o campeonato por terminado mas sem campeão, sem subidas e descidas, fazendo tábua rasa desta época desportiva. Há clubes que discordam e ameaçam recorrer aos tribunais pelo que ninguém sabe como o assunto irá acabar.
A Alemanha anuncia o retomar da competição para 9 de Maio, com jogos à porta fechada, mas sem se saber ainda todas as condições em que será disputado.
Em Itália, um dos países europeus mais castigados pelo vírus, quer-se terminar o campeonato até dois de Agosto mas o processo está   atrasado  por força de negociações entre sindicatos de jogadores e a Liga entre outros problemas não se sabendo como e aonde serão os jogos.
Em Inglaterra pretendem regresso dos jogos, à porta fechada, a 1 de Junho  com jornadas de dois em dois dias para não porem em causa os prazos para o começo da próxima época.
Em Espanha Federação e Liga querem o regresso aos treinos, sem apontarem datas para os jogos, mas é um dos campeonatos em que a oposição dos jogadores ao retomar da competição é mais forte pelo que neste momento as decisões ainda não estão tomadas.
Em França o modelo é outro; A Federação quer fazer disputar, no final de Junho, as finais da Taça e da Taça da Liga e posteriormente reiniciar o campeonato ainda em Junho ou logo no princípio de Julho.
E Portugal?
Se na Europa há várias Europas em Portugal não podia deixar de haver vários “Portugais”.
Para o futebol não profissional já houve uma decisão que passa por campeonatos suspensos e ausência de campeões e de subidas e descidas. É assunto arrumado.
Para o futebol profissional a decisão é radicalmente diferente e passa por acabar os campeonatos à viva força embora ainda sem datas para a disputa dos jogos, sem decisões sobre locais e apenas se sabendo que serão à porta fechada.
A Federação está a estudar o processo em todas as suas componentes com a abrangência necessária, o sindicato dos jogadores vem pondo algumas reservas ao regresso dos jogos sem estarem reunidas todas as condições de segurança (Que obviamente são impossíveis de garantir) enquanto o governo já deu “luz verde” ao regresso do futebol.
Os clubes, por seu turno, cada um faz como lhe parece melhor com uns já a treinarem , outros a programarem o regresso aos treinos e outros com os jogaodres e treinadores ainda de férias.
Há para todos os gostos.
É impossível , hoje, prever como tudo isto irá acabar nas várias  Europas e em Portugal.
Interesses desportivos, interesses televisivos, questões legais (como contratos de jogadores por exemplo) questões de segurança, combate ao vírus, conciliação de datas são um novelo complexo que não será fácil desenrolar e menos ainda quando os organismos com poder para isso, como a UEFA, estão a falhar rotundamente.
Deseja-se apenas que no corolário do processo não “morram “ alguns clubes, como se começa a temer em várias latitudes, porque em função do covid-19 já há mortes que cheguem e sobrem.
Quanto ao resto...andando e vendo!

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