É uma história pequena, passada há vinte e três anos atrás, mas que me
veio à memória ao ler este fim de semana a imprensa vimaranense e mais
propriamente o jornal “Mais Guimarães” e uma troca de acusações entre o vereador
do PSD Bruno Fernandes e o presidente da Câmara Municipal Domingos Bragança.
Contextualizemos:
Depois de sucessivos alternâncias na liderança camarária entre PS (venceu
em1976 e 1982) e PSD (1979-1985)nas autárquicas de 1989 o PS venceu pela
primeira vez com maioria absoluta sob a liderança de António Magalhães na sua
segunda candidatura à presidência (fora derrotado por António Xavier em 1985)
do município.
Em 1993, numa altura em que apesar do poder absoluto do PS o seu
domínio da autarquia(e de aspectos vários da vida da comunidade) ainda estava
longe da expressão que viria conhecer nos anos seguintes, o PSD fez uma opção
altamente discutível pela renovação total da sua lista candidata ao invés de
concorrer com os seus “pesos pesados” e tentar reconquistar a Câmara na lógica
da alternância dos anos anteriores.
Perdeu.
E não só perdeu como ainda viu o PS reforçar a votação, solidificar o
poder, lançar as bases para o que infelizmente seria o seu domínio da autarquia
até aos dias de hoje.
Quiseram as vicissitudes da sua vida interna, matéria em que o PSD
sempre foi de uma riqueza inigualável, que depois de anos de conflitos entre a
direcção política concelhia liderada por José Mário Lemos Damião e os
vereadores eleitos com a consequência inevitável de profunda divisões internas
tenha sido possível chegar a um entendimento para que em 1996 fossem eleitos
orgãos concelhios de consenso para tentar dar um rumo diferente ao partido face
às autárquicas de 1997.
Assim foi.
E embora o consenso tenha durado pouco, por razões que neste contexto
nada interessam, foi possível eleger uma comissão política concelhia com
pessoas de ambos os lados da divergência presidida por mim e tendo o Emídio Guerreiro
como vice presidente numa lista que integrava também o então vereador Vitor
Borges, o Rui Miguel Ribeiro, o saudoso José Alberto Gomes Alves (um dos amigos
mais leais que tive em toda a minha vida política), o Armando Marques entre
várias outras pessoas.
A tarefe era imensa e decidimos desde logo que era preciso romper com
o “status quo” e fazer qualquer coisa de diferente para tentar ganhar a câmara
a um Partido Socialista cada vez mais forte.
Foi assim que se decidiu tentar convencer o então presidente do
Vitória, António Pimenta Machado, a ser o candidato nas autárquicas de 1997
liderando uma lista que se pretendia ser
tão abrangente quanto possível no espaço não socialista de molde poder
derrotar o PS.
Também a história dessa candidatura que não o chegou a ser dava para
uma bela história, ou até um livro tantos foram os episódios, mas importa agora
é contar que na preparação dessas autárquicas e para lá da escolha do candidato
à Câmara importava fazer o trabalho de casa ,ou seja, preparar as candidaturas
às juntas de freguesia.
E por isso a comissão política iniciou uma ronda de visitas às
freguesias ora para convidar os presidentes de junta eleitos pelo PSD a
recandidatarem-se ora para tentar encontrar nas freguesias socialistas
personalidades que pudessem protagonizar candidaturas ganhadoras.
Nunca para convidar eleitos de outros partidos a concorrerem pelo PSD
que fique claro.
Um “belo” sábado foi agendada uma visita a duas freguesias de maioria
PSD, Arosa e Castelões, tendo a delegação da concelhia sido composta por mim,
pelo Emídio Guerreiro, pelo Joaquim Silva Ferreira, pelo Armando Marques e mais
uma ou duas pessoas que francamente já não recordo quem eram.
De manhã visitamos Arosa, onde se almoçou, e de tarde fomos a
Castelões.
Em ambas as visitas, e ao contrário do previamente combinado, fomos acompanhados apenas pelos
respectivos presidentes de junta não tendo sido possível “avistar” qualquer
membro dos respectivos executivos naquilo que foi uma evidente tentativa de
ocultar a visita da concelhia aos eleitos locais.
Se a isso somarmos conversas daquelas que apenas servem para “deitar
fora”,a par de nas visitas às freguesias se ter andado por onde não...andava
ninguém, fácil foi concluirmos que andava “mouro na costa” e que aqueles dois
presidentes de junta já andariam a ser tentados pelo poder municipal
socialista.
E por isso regressamos dessas duas visitas certos que naquelas
freguesias também teríamos de encontrar outros candidatos porque aqueles
estavam de abalada.
Foi por isso que sem qualquer surpresa constatamos, meses depois, que
ambos seriam candidatos pelo PS às respectivas juntas de freguesia com uma
argumentação pseudo-justificativa que veríamos repetida nos anos seguintes (até
à actualidade) em casos similares e que mais não servirá do que para acalmar as
respectivas consciências perturbadas pela alienação de valores e princípios.
Memórias de um passado já algo remoto despertas por notícias dos
tempos que correm.
P.S. Sim, em Guimarães o PS sempre assediou politicamente os autarcas
dos outros partidos.
É mais fácil negar que a Terra é redonda do que essa evidência dos
últimos largos anos.
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