domingo, novembro 07, 2021

"O Guimarães"

 O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Num mundo tão inexacto, tão falso nalgumas das suas envolventes, tão virado para o ilusório e para a ostentação de glórias alheias e distante como é o do nosso futebol em nada admira que isso se repercuta, também à boleia da preguiça profissional , da modorra intelectual e de uma ignorância persistente, na forma incorrecta como são chamados dois dos principais clubes do desporto português.
O Vitória Futebol Clube e o Vitória Sport Clube!
Um e outro incorrectamente chamados pelo local onde tem as suas sedes um pouco como dantes acontecia no exército onde os recrutas eram alcunhados com os nomes das suas terras de origem, pelos quais eram chamados, deixando de lado nome e apelido constantes do bilhete de identidade.
E assim no léxico do nosso futebol lá foram entrando os “Setúbal “ e “Guimarães” deixando de lado os verdadeiros nomes apesar de numa concessão aos remorsos provocados pela ignorância lá fossem condescendendo no “Vitória de Setúbal “ e “Vitória de Guimarães” amenizando mas não apagando a falta de respeito pelas duas instituições.
O que na boca do vulgar adepto de qualquer outro clube não deixando de ser ignorância acaba por ser tolerável, num mundo onde a sapiência rareia, mas já na boca e nas mãos de quem faz da comunicação social profissão é de uma brutal falta de rigor profissional e um desrespeito que considero inaceitável face a instituições que tem o direito a serem tratadas pelos seus nomes.
Porque o “José” não gosta que lhe chamem “Joaquim”, o André não gosta que lhe chamem “Alberto”, a “Francisca” não gosta que lhe chamem “Filomena” e os exemplos são tantos quantos os nomes próprios existentes.
Aliás no próprio futebol temos exemplos e mais que exemplos de clubes que são respeitosamente tratados pelos seus nomes verdadeiros e não pelos do seu local de origem como por exempo o Marítimo a que ninguém chama “Funchal”, o Leixões a que ninguém chama “Matosinhos”, o Rio Ave a que ninguém chama “Vila do Conde”, o Santa Clara a que ninguém chama “Ponta Delgada”, o Estoril a que ninguém chama “Cascais”, o Gil Vicente a que ninguém chama “Barcelos” e muitos outros que me dispenso de enumerar.
A que podemos juntar Benfica a que ninguém chama “Lisboa” e Académica a que ninguém chama “Coimbra” embora, curiosamente, ambos os clubes tenham na denominação social os nomes das respectivas cidades o que mostra bem que há critérios que variam conforme dá jeito a quem os usa.
Já sei que a preguiça aponta para o “Setúbal” e o “Guimarães”, o “Vitória de Setúbal” e o “Vitória de Guimarães” como uma forma de distinguir dois clubes com nomes próprios iguais mas o rigor não é compatível com esses facilitismos e por maioria de razão num tempo em que um deles se encontra a militar no mesmo escalão que a equipa B do outro!
Voltemos aquele que mais me interessa e que é, obviamente o Vitória Sport Clube.
Nos últimos anos tem sido muitos, mas não todos, os vitorianos que não gostando de ver o seu clube ser tratado por um nome que não é o seu , sem que isso belique seja no que for o seu amor a Guimarães, tem usado as redes sociais , os espaços de que dispõe na comunicação social, as caixas de comentários dos mais diversos sites e as simples conversas com amigos de outros clubes para exigirem firmemente que ao Vitória se chame ...Vitória.
Porque é esse o seu nome e não qualquer outro por mais que esse outro nos diga em termos afectivos!
E a verdade é que o caminho vai-se fazendo sendo perceptível nomeadamente em termos de comentadores e narradores televisivos que, pese embora um núcleo duro (mas cada vez mais reduzido) de ignorantes continue a existir, são cada vez mais aqueles que enveredaram pelo caminho do rigor e chamam ao Vitória...Vitória pese embora aqui ou ali uma cedenciazinha ao “Vitória de Guimarães”.
Tal como na própria Sport-tv no marcador dos jogos desapareceu o “GUI” para dar lugar, e muito bem, ao “VSC”.
É , contudo, um desiderato que ainda está longe de ser atingido porque continua a haver muito boa (e outra nem tanto...) gente que persiste em não chamar o clube pelo seu verdadeiro nome insistindo no “Guimarães” ou na sua versão atenauada “Vitória de Guimarães”.
E embora a qualquer vimaranense e vitoriano agrade a natural associação entre “Vitória” e “Guimarães” a verdade é que ceder a esse facilitismo e permitir, sem reparo, que ao Vitória se chame “Vitória de Guimarães” é abrir a porta ao retrocesso e voltar paulatinamente ao “Guimarães” que nos desrespeita.
Os estatutos do Vitória Spor Clube, no seu ponto 1 referem expressamente o seguinte:

“
Artigo 1º (Da Identidade do Clube) O Vitória Sport Clube é uma associação desportiva, cultural e recreativa, de utilidade pública reconhecida por despacho ministerial publicado no Diário da República II Série, de 18 de Julho de 1981, que foi fundada em Guimarães, em Setembro de 1922, que se rege pelos presentes Estatutos, durando por tempo indeterminado, e tem sede actual no Complexo Desportivo, sito na freguesia da Costa, da cidade de Guimarães, podendo mudá-la para qualquer outro ponto do concelho por deliberação da Assembleia Geral.”

Exigir que isto seja respeitado não só não me parece nada de extraordinário como também pode ser assumido por qualquer vitoriano como um dever perante o seu clube e a denominação que os seus fundadores lhe atribuiram.
Isto num tempo em que, ainda por cima, se pretende aproveitar o Centenário para expandir cada vez mais o Vitória para o país e para o mundo e não para o enclausurar no espaço fechado do Toural para o que uma denominação que não lhe pertence pode involuntariamente contribuir.

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