terça-feira, janeiro 14, 2025

Instabilidade

 O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Há um velho chavão, que a realidade vai confirmando, segundo o qual “o futebol é o momento”!

E é mesmo.
Sendo que os últimos meses, ou talvez anos, do Vitória Sport Clube Futebol, SAD tem sido um exemplo disso com vários acontecimentos inesperados a alterarem as rotinas de algo que parecia estar a correr dentro de alguma normalidade.
A época passada, nem vale apena recuar mais do que isso, foi perfeitamente atribulada  com Moreno a iniciar a temporada mas demitindo-se após o primeiro jogo do campeonato algo raramente visto no futebol e de que não tenho memória alguma vez ter acontecido no Vitória.
Foi substituído interinamente por João Aroso e depois apareceu de forma absolutamente surpreendente Paulo Turra, e ao que parece contratado através de uma conversa no Messenger (!!!), um técnico sem experiência no futebol português enquanto treinador e que ao contrário do que foi então peremptoriamente afirmado pelo presidente da SAD também não tinha as habilitações necessárias para ser treinador principal!
Durou meia dúzia de jogos.
Com a chegada de Álvaro Pacheco regressou a estabilidade e a equipa sob a sua direção fez um bom campeonato e conseguiu o apuramento para a Liga Conferência a par de entre treinador e adeptos se ter estabelecido uma muito especial empatia justificada pelos resultados e pela forma de ser e de estar do treinador.
Mas o que é bom raramente dura muito, nestes tempos instáveis, e com a época a terminar surgiu a novela de um clube brasileiro a querer contratar o treinador e pese embora este tenha sempre mantido a entidade patronal ao corrente do que se passava a SAD resolveu prescindir dos seus serviços e foi Rui Cunha quem orientou a equipa no final de temporada.
Uma época em que a instabilidade no banco apesar de tudo não comprometeu o apuramento europeu mas ficando por saber até onde poderia o Vitória ter ido sem essa instabilidade quer se Moreno fizesse a época toda quer se aquando da sua saída tivesse sido contratado de imediato Álvaro Pacheco em vez do evidente( menos para quem o contratou)  erro de casting que foi Paulo Turra.
Esta época parecia ser diferente.
Foi contratado Rui Borges, autor de um bom trabalho no vizinho Moreirense, e a época parecia ser de sucesso face às exibições e resultados que a equipa ia conseguindo e que estavam a despertar um enorme entusiamos nos adeptos que fruto a sua paixão pelo clube estão sempre disposto a entusiasmarem-se ao mínimo sinal de esperança.
Magnífico percurso na Liga Conferência com dez triunfos e dois empates que lhe permitiram o segundo lugas na fase liga e o apuramento directo para os oitavos de final.
Um excelente inicio de campeonato com quatro vitórias nos cinco primeiros jogos, e uma derrota nas Aves que foi fruto daqueles dias em que nada sai bem no futebol, mas a partir daí uma quebra de rendimento (minimanente explicável pelo foco na Europa) com apenas um triunfo , três empates e uma derrota nos cinco jogos seguintes, a que se seguiria um ciclo com um  triunfo e duas derrotas  a ser claro aviso para o que se seguiria e que foi uma sequência de quatro empates com que encerrou a primeira volta e que mostram uma equipa que não ganha há cinco jogos e pontualmente está pior que na época anterior com Álvaro Pacheco ao leme.
Também por força das lesões, da falta de opções para algumas posições e da falta de concentração que permitiu a vários adversários empatarem os jogos em tempo de compensação dos mesmos.
Na taça da Liga a equipa foi afastada da “final four” por uma dupla de pontas de lança chamados Fábio Verissimo e João Pinheiro num jogo de má memória em Braga e na Taça de Portugal ultrapassadas sem problemas as duas primeiras eliminatórias o caminho para as meias finais parecia desbravado face a compromissos com duas equipas da quarta divisão.
Mas era novamente tempo para o regresso da instabilidade.
Que começou em...Alvalade com a inopinada saida de Ruben Amorim para o Manchester United e face ao tão completo como previsível falhanço do substituto o Sporting resolveu virar-se para a contratação de um treinador que estava a orientar outra equipa do mesmo campeonato (pelos vistos comportamento padrão porque já fizera o mesmo com o referido Ruben Amorim quando estava ao serviço do Braga) e com contrato em vigor para lá da corrente época o que é probido pela FIFA mas isso não foi impeditivo dos contactos com Rui Borges.
E aqui acentua-se a instabilidade.
Porque enquanto o presidente da SAD diz que quando um treinador manifesta vontade de sair “ sai 5 minutos antes” (sic) já Rui Borges afirmou alto e bom som que nunca pediu para sair do Vitória o que que convenhamos são versões bastante diferenciadas do mesmo assunto.
Assunto esse que em bom rigor ainda está longe de ser totalmente esclarecido pelo que a ligeireza com que alguns se apressaram a crucificar o treinador não passa disso mesmo, de ligeireza.
Certo é que o treinador saiu e o Vitória ficou com um vazio que urgia preencher.
A escolha recaiu em Daniel Sousa, que tinha começado a época em Braga onde orientara três jogos das competições europeias e fora despedido após o primeiro jogo de campeonato ( igualando Moreno na época anterior com a diferença de que Moreno se demitira e Sousa foi despedido) para gaudio de muitos, contratação que suscitou o habitual entusiasmo nos que se entusiasmam com facilidade não faltando logo quem dissessse que era muito melhor que Rui Borges e já devia ter sido contratado no início da época!
Durou três jogos!!!Um empate em Faro consentido em tempo de descontos e depois um jogo épico com o Sporting em que a equipa esteve a perder por 1-3 mas conseguiu dar a volta e colocar-se a vencer por 4-3 para depois, e uma vez mais, consentir ingloriamente a igualdade no último minuto do tempo de compensação.
Ainda assim dois resultados que tem de se considerar como normais até porque a equipa tinha no estaleiro os dois principais pontas de lança e o central Borevkovic, que é o líder do sector defensivo, entre outros lesionados.
E chega Elvas.
O tal primeiro compromisso para a Taça de Portugal com uma equipa da quarta divisão em que nem nas piores perspectivas se admitia outra coisa que não fosse o triunfo do Vitória.
A verdade é que ele não aconteceu.
E pela primeira vez na sua História o Vitória foi eliminado por uma equipa de um escalão tão baixo depois de no passado já lhe ter acontecido o mesmo com equipas do terceiro escalão como o Sintrense e o Vasco da Gama de Sines por exemplo.
E foi eliminado fruto de uma exibição inenarravelmente fraca e de um conjunto de opções de Daniel Sousa muito difíceis de entender como o apenas ter dado entrada ao ponta de lança Ramirez aos 95 minutos quando a equipa já perdia desde os 75.
Mas são coisas que acontecem no futebol e por si só não justificam o despedimento de um treinador com três semanas de casa e por  isso foi com enorme estupefacção que ontem se soube do despedimento de Daniel Sousa e da sua susbtituição por Luis Freire despedido semanas atrás do Rio Ave.
E só cabe aqui uma pergunta: Com que critério e com que convicção nas suas qualidades e no seu trabalho se contrata um treinador para o despedir ao fim de três escassos jogos mesmo com uma derrota humilhante para a Taça de Portugal e os empates um num jogo fora com um “aflito” e o outro em casa com o campeão nacional?
É o triunfo da instabilidade.
De uma instabilidade com raizes internas porque diga-se  o que se disser não é normal que num mandato de três anos a actual SAD já vá no oitavo treinador ( sete na última época e meia) e na presente temporada que ainda vai a meio já vai no terceiro técnico.
Moreno, João Aroso, Paulo Turra (com João Costeado a figurar como treinador principal) , Álvaro Pacheco, Rui Cunha, Rui Borges, Daniel Sousa e agora, e por agora, Luís Freire.
Convenhamos que há alguma falta de jeito na escolha de treinadores.
Mesmo considerando a interinidade de João Aroso e Rui Cunha é um absoluto exagero e a clara evidência de uma enorme falta de estabilidade no banco do Vitória que explica bem, a par de uma discutível politica de aquisições, vendas e dispensas, porque razão continuamos a falhar nos momentos cruciais e a ficarmos aquém daquilo que bem podiamos conseguir.
Sinceramente clube e adeptos merecem mais. Muito mais! 

Nota: A marcação de eleições da forma mais precipitada de que há memória no clube apenas confirma que a instabilidade é reconhecida e os seus efeitos temidos por quem está no cerne da questão.

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