domingo, abril 19, 2020

Futurologia

Nestes tempos de confinamento social em que a política parece ter hibernado, ora ao sabor do interesse do governo, ora conforme a vontade de trocar alternativa por colaboração, ora por outras razões que agora não importa especificar, é um tempo bom para reflectir sobre o que será o futuro dos partidos no pós pandemia.
À esquerda nada de novo.
O PS que merece dos portugueses, desde sempre, uma grande credulidade quanto às promessas e uma enorme tolerância quanto ao seu não cumprimento, "navega" em sondagens confortáveis e que mais milhão para os artistas, mais 15 milhões para a imprensa, mais outras inevitáveis benesses a grupos específicos lhe valerão umas autárquicas tranquilas em 2021 e umas legislativas previsivelmente satisfatórias em 2023 ou antes se António Costa o entender útil.
Á sua esquerda nada de novo também.
O PCP (ou CDU que é mais ou menos o mesmo) continuará com um pé dentro e um pé fora, resistindo ao seu maior adversário que é o passar do tempo e resignando-se à inevitabilidade de perder mais umas câmaras para os socialistas continuando a diminuição da sua expressão autárquica.
Mas resistirá. Pelo menos mais alguns anos.
O BE, que é uma espécie de Carochinha que se oferece a quase todos para casar mas quase nenhum a quer para mais do que namorar, e à distância que isto do confinamento às vezes dá jeito, continuará destinado a ser um partido de protesto, de algumas causas ditas fracturantes, entregue à demagogia das irmãs Mortágua, à verborreia daquela espécie de mascote que o lidera e a um ou outro dirigente mais susceptível de andar com os pés no chão da realidade.
Continuará a ser peça importante , à esquerda, do galheteiro em que Costa apoia a sua governação ( a peça à direita é o PSD que Costa usa quase exclusivamente para ameaçar os que estão á sua esquerda mas nada mais) mas está consciente que dificilmente chegará ao governo do país e menos ainda ao de qualquer autarquia porque nas 308 que o país tem não há uma que dê os seus votos maioritários aos bloquistas.
Uma que seja!
Nos partidos parlamentares há  depois aquele fenómeno moribundo chamado Livre cujo destino parece ser voltar rapidamente para um quase anonimato, do qual nunca devia ter saído, depois do monumental hara quiri chamado Joacine Moreira.
E portanto à esquerda reinará a tranquilidade no pós pandemia.
Eu sei que é injusto mas é a realidade.
À direita do PS é que as coisas mudam bastante de figura face ao que se tem vindo a passar desde as legislativas de 2015.
De lá para cá nada correu bem aos partidos não socialistas.
Correram mal as autárquicas de 2017, correram mal as europeias de 2019, correram mal as legislativas de 2019 e , tudo o indica, igualmente vão correr mal os próximos actos eleitorais de curto/ médio prazo.
Marcelo vai ser reeleito, é verdade, mas Marcelo hoje é tudo menos um candidato que faça o pleno do centro direita desagradado que este está com a forma como exerceu a presidência e colaborou , muito para lá do admissível, com o governo de Costa.
O PSD, mergulhado numa estratégia colaboracionista que ninguém lhe agradecerá pese embora as boas intenções de que se reveste, vai ter o primeiro impacto negativo já em 2021 quando as autárquicas se traduzirem por um reforço da já predominante posição autárquica do PS.
Não nas suas câmaras maiores porque não vejo Ricardo Rio perder Braga, Carlos Carreiras perder Cascais ou Rogério Bacalhau perder Faro (para citar uma do norte, outra da região de Lisboa e outra do sul) mas prevejo que nas médias e pequenas câmaras pode haver algumas perdas com significado que ainda fragilizarão mais o maior partido da oposição.
O que fará dele uma não alternativa nas próximas legislativas mesmo que a linha de rumo e os protagonistas sejam outros porque das perdas de agora não se recupera num passe de mágica nem num estalar de dedos.
O CDS, que saiu fortemente contundido das últimas legislativas, tem uma nova liderança,a que o país se tem mostrado algo indiferente, mas em bom rigor é outro que como o PSD caminha para mais um mau resultado eleitoral o que à sua dimensão corre o risco de ser francamente desolador.
O mesmo se pode dizer da Iniciativa Liberal.
Elegeu um deputado, é verdade, fruto da excelente comunicação (redes sociais e outdoors particularmente criativos) mas não existe como partido no todo nacional e está muito concentrado em Lisboa o que se notará nas próximas autárquicas de forma particular.
Poderá reeleger no futuro o deputado que tem, ou até mais um ou dois, mas por si só não deixará de ter de conviver com a sua pequenez.
O único que tem boas razões para estar contente, pelo menos por agora, é o Chega.
Elegeu um deputado que pese embora a sua solidão parlamentar tem sido o principal rosto da oposição ao governo e as sondagens indicam que isso tem sido reconhecido pelos portugueses dado apresentarem um crescimento contínuo das suas intenções de voto.
Claro que esse crescimento traz riscos associados e o partido já estará a dar por ela disso com o despertar de muitas e variadas ambições em seu torno que levaram inclusivé André Ventura a demitir-se para impor uma clarificação.
Se tiverem o bom senso de não matarem a "galinha dos ovos de ouro" o Chega poderá crescer exponencialmente nas próximas legislativas e ambicionar a formação de um sólido grupo parlamentar em 2023. Nas autárquicas é que não me parece que vá ter grande sucesso. A seu tempo se verá.
Não é um partido parlamentar mas a Aliança também entra nesta análise e adiante se perceberá porquê.
A Aliança teve um 2019 particularmente diverso.
Começou muito bem com a realização do seu primeiro congresso, cuja dimensão e espectacularidade não receiam comparações com os do PSD ou do PS, continuou bem com o estabelecimento rápido de estruturas em todos os distrito do país e nas regiões autónomas, criou expectativas de bons resultados nos actos eleitorais do ano.
Correram mal.
As europeias não elegeram Paulo Sande, pese embora a excelência do candidato e da lista, as regionais da Madeira correram muito abaixo do esperado e traduziram uma primeira fuga de votos em relação às  europeias e as legislativas foram um brutal banho de água fria não elegendo deputados nem sequer atingindo uma votação equivalente à das europeias com todas a consequências daí advindas.
Num partido que tinha uma implantação e organização  nacional superior a Chega, Livre , Iniciativa Liberal e até PAN.
Aqui chegados vamos então à futurologia.
Creio que os os próximos anos trarão um PS a caminho da hegemonia, um BE relativamente tranquilo, uma CDU a resistir e um Livre a desaparecer no que à esquerda toca.
Mais detalhe menos detalhe as coisas andarão por aí.
O PSD continuará a ser o segundo partido mas cada vez mais longe do primeiro e nem nas mais optimistas previsões capaz de voltar a ganhar umas eleições nacionais sozinho.
Perderá dimensão nacional, verá reduzida a sua posição autárquica, encontrar-se-à na maior encruzilhada da sua História desde 1978 quando forças diversas o quiseram reduzir a um pequeno partido. Mas em 1978 tinha Francisco Sá Carneiro. Agora não tem. Nem nada que , ainda que remotamente, se pareça.
O Chega continuará a crescer (se não fizer disparates) e será no curto/médio prazo um partido com dimensão nacional e um grupo parlamentar relativamente numeroso. Para ele o futuro promete ser radioso.
CDS, Iniciativa Liberal e Aliança terão forçosamente de se entenderem.
Aproveitando a dimensão, passado histórico e representatividade autárquica do CDS , a excelente comunicação  e algumas das suas boas  propostas da IL e a implantação nacional , os quadros de valor que a Aliança tem em todos os distritos do país bem como o valioso conjunto de ideias que produziu neste ano e meio de vida.
Se esse entendimento passará por uma coligação , por uma fusão dos três num partido de ideologia liberal, ou por uma coligação seguida de fusão isso é prematuro saber-se.
Penso é que é urgente fazer-se.
Para oferecer uma alternativa política sólida e com potencial de crescimento quase ilimitado a todo o eleitorado, e é muito, que está hoje descrente do PSD, nunca acreditou no PS e não quer apoiar a direita representada pelo Chega.
Se os três partidos quiserem entender-se, e entender-se depressa, creio que Portugal lhes agradecerá nas urnas de forma progressivamente significativa.
Se preferirem ficar-se pela medição dos umbigos, por distanciamentos ideológicos sem sentido dada a irrelevância de quase todas as diferenças, por aquele "clubismo" que faz sentido noutros lados mas na politica cada vez menos então o "agradecimento" de Portugal será manifestado de outra forma.
Fazendo-os desaparecer do mapa político.
Um, depois outro, outro ainda a seguir.
Mas todos!
Depois Falamos.

P.S. Os mais atentos terão reparado que não analisei o PAN. Defeito meu que não consigo olhar para "aquilo" como um partido normal. Pelo que tanto poderão ter vida longa como desaparecer numa próxima eleição. Dependerá de como estiverem certas modas.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro Luís Cirilo, como sempre, fizeste uma análise muito clara da actual situação política Nacional e, na minha modesta opinião, uma ainda melhor previsão do panorama dos próximos anos e actos eleitorais. Domínio, absoluto, do PS , PSD " a reboque" do António Costa, perdendo identidade, BE em banho maria, CDU a desaparecer e, o grande " ganhador" será o Chega, não por mérito, mas por grande demérito das restantes forças políticas de centro direita. Em terra de cegos, quem tem um olho é rei. A tua analise sobre a IL, o CDS e o Aliança, parece me um excelente caminho para uma " nova e refrescada" Direita. Infelizmente temo q , os líderes, olhem apenas para o umbigo. O tempo o dirá. Um abraço

luis cirilo disse...

Caro amigo:
É uma análise do momento presente e uma previsão do que poderá ser o futuro.
Claro que como todas as previsões é falível porque implica muitas variaveis que implicam vários partidos. Sei é que no caso daquilo a que chamas "nova e refrescada" direita para isso se concretizar implica um conjunto de cedências e despreendimentos que não são vulgares no nosso panorama político e que não sei se haverá disponibilidade para os levar a cabo
Estou é bastante convencido que se isso não acontecer nenhum dos três partidos terá um futuro auspicioso. As coisas são o que são