quinta-feira, outubro 06, 2022

Encruzilhada

O meu artigo desta semana no zerozero.pt

Fugindo aquela tentação tão comum de olhar o futebol pela rama dos resultados, das exibições, da bola que bateu no poste e não entrou ou do lance polémico que serve para tertúlias de café durante toda a semana acho cada vez mais importante as pessoas que mandam no nosso futebol, com os presidente e administradores das SAD á cabeça, fazerem uma séria reflexão pelos caminhos por onde ele, futebol, vai.
Porque me parece que vai por muito maus caminhos!
O campeonato não tem verdade desportiva!
Inquinado por más arbitragens a favorecerem sempre os mesmos, por actuações (ou falta delas) incompreensíveis dos VAR, com cobertura cúmplice de quase toda a comunicação social mais preocupada em defender os interesses de dois ou três clubes do que em transmitir a verdade dos factos.
O mal, com conivência de todos os outros clubes, começa logo nas assembleias gerais da Liga onde aceitam de forma pacífica que existam sorteios com condições especiais para três clubes, que se aprovem regulamentos que são lesivos da verdade desportiva, que se concorde com tabelas de taxas e multas que são muito uteis para dar de comer às muitas bocas que há na LPFP mas que são gravemente lesivas da saúde financeira das SAD.
Tal como se concorda com a calendarização de transmissões televisivas que não defende os clubes que tem mais adeptos no estádio, que pode ser lesiva da verdade desportiva porque não é indiferente a precedência dos jogos em fases adiantadas das competições e que pratica horários que não defendem o futebol e essencialmente os espectadores.
E tudo isso tem consequências.
As más arbitragens, a forma tendenciosa como os árbitros e VAR defendem Benfica, Porto e Sporting prejudicando todos os outros, as decisões (ou falta delas) aberrantes como nos últimos Vitória vs Benfica e Marítimo vs Casa Pia (mas há, infelizmente, muitos outros exemplos possíveis) levam a que UEFA e FIFA queiram , e muito bem, os árbitros portugueses longe de europeus e mundiais por não lhes reconheceram a capacidade, a competência e o respeito pela função que deviam ter.
Mas leva também a que o interesse que há em mercados televisivos externos, nomeadamente asiáticos, pelas transmissões da liga portuguesa a valorize ao nível de segunda ligas de outros países e a anos luz dos valores pagos pela transmissão das principais ligas europeias.
Se a isto, que já não é pouco, acrescermos os preocupantes fenómenos de violência em crescendo no nosso futebol de que são exemplo o ataque ao centro histórico de Guimarães por bandidos croatas guiados por bandidos portugueses adeptos do Benfica antes do jogo com o Hajduk Split, os incidente violentos nos festejos do último título do Porto, os frequentes fenómenos de violência em Lisboa entre adeptos dos dois clubes da segunda circular, o que aconteceu em Famalicão antes do recente jogo com o Boavista e a detenção em Braga de dezenas de adeptos do Benfica que para lá iam fazer disturbios depois do jogo em Guimarães temos um retrato que indicia um crescendo de fenómenos violentos que deve merecer a preocupação de todos a começar pela Justiça que nestas matérias tem de ser célere e implacável.
E depois ainda há aqueles pequenos, mas que não podem ser desvalorizados, factores de descredibilização do nosso futebol e de consequente irritação dos adeptos que vão do mais que esquisito esquema de remuneração da equipa técnica da selecção nacional por parte de uma entidade de utilidade pública como a FPF até à forma como a televisão SIC desrespeita uma equipa portuguesa (o Sporting de Braga) atirando mais uma vez com uma transmissão de um jogo deste clube na Liga Europa para o canal de cabo SIC Radical algo que jamais faria se o jogo tivesse por intérprete o Benfica ,o Porto ou o Sporting.
Que é apenas mais um indício da forma miserável como televisões e jornais desportivos (especialmente Bola e Record) discriminam todos os outros clubes que não os seus três tão queridos e que são acarinhados com dezenas de horas semanais de reportagens , directos e programas de debate no caso das televisões e com capas, manchetes e dúzias de páginas impressas por semana no caso dos jornais a propósito de tudo e geralmente de nada que lhes diga respeito.
Finalmente convirá não esquecer, até pela gravidade de que se reveste, a ponta do icebergue constituída pelas recentes denúncias de assédio sexual no futebol feminino matéria em que muito ainda estará escondido mas que acabará por ver a luz do dia.
Em suma o futebol português está numa encruzilhada.
Ou continua por este caminho de perdição, cada vez menos credível, com cada vez menos verdade desportiva, com a violência a crescer nos estádios e fora deles, sem qualquer prestigio internacional e com o continuo exôdo dos nossos melhores jogadores ou muda de vida.
E para essa mudança de vida tenho uma coisa como certa.
A Benfica, Porto e Sporting não interessa que nada mude!
Quando muito até podem fazer de conta que querem mudanças mas lá no fundo apenas admitem mudar o acessório para manterem o essencial.
Andam há cem anos a beneficiar de as coisas serem como são.
A mudança tem de ser liderada pelos outros.
Desde logo pelos três maiores a seguir aos chamados “grandes” que são Vitória, Braga e Boavista que rivalidades à parte tem de se entender naquilo que é verdadeiramente essencial para todos.
A que se juntem todos os clubes que disputam as duas ligas profissionais e desejavelmente outros que por vicissitudes próprias andam hoje pela Liga 3, como são os casos de Académica, Varzim, Vitória Futebol Clube, União de Leiria e Belenenses, mas que são clubes com larga história e um enorme trajecto em termos de primeira liga.
E todos juntos tem de promover mudanças.
Na Liga e em quem elegem para a dirigir, nos regulamentos e sorteios, na centralização dos direitos televisivos, influenciando as Associações distritais de que fazem parte para exigirem mudanças na FPF, varrendo a incompetência e o compadrio da Arbitragem e da Disciplina, impondo regras claras à comunicação social no tratamento que esta lhes dispensa, exigindo no imediato medidas que melhorem a verdade desportiva das competições como o aprofundamento da experiência com árbitros estrangeiros a dirigirem jogos da Liga (mas sem deixar de fora os três do costume como aconteceu na época passada) e essencialmente tornando públicas no imediato as comunicações audio entre árbitro e VAR em nome da transparência e da clareza de procedimentos.
Há que mudar.
Mudar depressa , mudar bem e mudar radicalmente.
O futebol português não se pode dar ao luxo de na encruzilhada em que se encontra optar por continuar pelo mau caminho!
Porque se o fizer todos os problemas atrás descritos tenderão a agravar-se rumo a uma desgraça que um dia vai acontecer e depois todos lamentaremos amargamente.
Tem a palavra os presidentes e administradores das SAD que competem nas ligas profissionais, e não só, com excepção daqueles três que ouvimos todos os dias, várias vezes ao dia, mas que em termos de mudança para melhor nada tem a dizer.

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