É sabido que na vida pública, seja política, desportiva ,associativa ou qualquer outra é muito mais difícil construir , mostrar ideias, projectos, definir objectivos e alcançar metas do que pura e simplesmente destruir tudo aquilo que outros se proponham fazer.
E no destruir não me refiro literalmente a arrasar, demolir, “dar cabo
de...”, não deixar pedra sobre pedra mas “apenas” a outro tipo de destruição
que é aquele que se consubstancia em dizer mal, criticar sem fundamento, falar
por falar e até caluniar quando o resto falha.
São formas de estar.
Que em Portugal, por questões de tradição, “cultura” e ADN tem uma
larga aplicação em todos os sectores ao ponto de se entender como vulgar que
exista muito mais gente a destruir do que aquela que está realmente empenhada
em construir.
As razões são várias, as motivações da mais diversa ordem, mas o fim é
que não varia muito e traduz-se, regra geral, num enfraquecer daquilo que sem
esse tipo de atitude podia ser bem mais forte.
Na gíria desportiva aqueles que tem opinião sobre quase tudo sem
perceberem de quase nada costuma chamar-se os “treinadores de bancada” que é
uma espécie que pulula não só nas bancadas dos estádios (mas aí,vá lá, com
algum propósito) como em todos os outros sectores da vida social.
Nas empresas, nos partidos políticos, nas associações, na comunicação
social (então aí...)não faltam profissionais da opinião que regra geral não
conseguem ter opinião profissional como seria exígivel a quem gosta tanto de se
pronunciar sobre tudo.
Não se põe aqui em causa, minimamente, o direito inalienável de as
pessoas terem opinião e de a tornarem conhecida seja ela elogiosa seja critica
em relação seja ao que for.
Numa sociedade livre e democrática não pode existir qualquer ónus ao
direito de criticar, de divergir, de exercer o contraditório em relação seja ao
que for e em especial relativamente a quem detém poder.
Mal estávamos!
Mas acho razoável que se peça, para não dizer exija, que a critica, a
discordância, a divergência venham sempre acompanhadas de uma solução alternativa,
de uma proposta construtiva, da oferta de uma possibilidade de escolha.
Num pequeno aparte, mas para exemplificar, lembro que o partido
Aliança discorda da solução Montijo para o novo aeroporto de Lisboa mas propôs
em alternativa, devidamente estudada e fundamentada, a solução Alverca.
Discordou mas apresentou alternativa.
No fundo o importante é não transformar o acto critico, a postura
divergente, num simples “dizer mal” inconsequente que mais não visa do que
desvalorizar e desqualificar quem tem opinião diferente sem que se saiba o que
pensa de facto aquele que exerce o acto critico.
Até porque como defendo desde sempre a única forma de ser credível na
crítica é ser justo no elogio.
Quem só critica, quem só sabe pôr defeitos, quem prefere a denúncia de
um pequeno erro à valorização de mil grandes acertos nunca terá credibilidade
nas suas críticas nem poderá ser levado minimamente a sério por que ande
minimamente informado.
Infelizmente sempre assim foi e assim continua a ser em muitos
sectores da sociedade portuguesa.
Fenómeno defeituoso que as redes sociais vieram agravar de forma
exponencial.
Porque para lá das qualidades e benefícios que trazem, e são
inegáveis, acarretam de igual forma a maximização desses defeitos “genéticos”
de uma certa “cultura” portuguesa que passam por um “voyeurismo” desenfreado,
por uma irresistível tentação da critica fácil, por um gosto deplorável pela
denúncia , por uma irreprimivel necessidade de “contar novidades” , por um dedo
permanentemente esticado apontando em direcção aos erros dos outros ou aquilo
que o dono do dedo acha que são.
Muito mais isso em boa verdade.
Já para não falarmos daquilo que parece ser uma nova doença “profissional”
cujo principal sintoma é um formigueiro nos dedos perante um teclado!
A concluir diria que esta forma de ser traduz, essencialmente, dois
vícios intoleráveis em quem age desta forma: O pensarem que tem conhecimentos abalizados sobre tudo e está
toda a gente ansiosa por os conhecer e o acharem-se no direito de julgar
permanentemente atitudes e comportamentos dos outros.
Continuo a pensar, e não mudarei de ideias, que se está bem melhor do
lado de construir.
Ideias, projectos, instituições.
Dá muito mais trabalho, acarreta muito mais preocupações, arrosta
incompreensões e injustiças mas o “produto” final vale a pena porque se traduz
na construção de algo que vai perdurar e que deixa marca.
Ao contrário da critica fácil, do apontar obsessivo de possíveis
falhas e possíveis erros, do achar que os outros fazem tudo mal, porque isso
embora incomode ligeiramente mais do que uma melga no Verão acaba por se esvair
na inconsequência e na falta de sustentação.
Vale a pena Construir.
E é a força dessa convicção que dá alento a todos aqueles que andam na
vida com uma atitude positiva e empenhados em deixarem uma marca duradoura e
não sopros que a primeira brisa leva para longe.
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