Segundo a Constituição da República Portuguesa o nosso país é um Estado laico não tendo, portanto, nenhum religião ou credo religioso oficial ao contrário do que acontecia até ao 25 de Abril em que a religião católica era a religião oficial.
E por isso, entre outras coisas, era obrigatória nas escolas a disciplina de Religião e Moral e nas salas de aula estava pendurado um crucifixo para dar apenas dois exemplos que estão presente na memória daqueles que viveram esses tempos.
Com o 25 de Abril e a aprovação do texto constitucional democrático essa panorama foi alterado passando a vigorar o laicismo de que atrás falava como postura do Estado perante todas as religiões existentes e praticadas no país.
Essa é a Lei.
Mas depois há a realidade e essa diz-nos que Portugal é um país de profundas raízes cristãs e católicas, que a Igreja teve um importante papel ao longo dos séculos (desde a independência de Portugal para a qual deu importante contributo) na formação e educação de sucessivas gerações de portugueses, que a Igreja através dos seus missionários levou Portugal por todo o mundo entre muitos outros exemplos que poderiam ser citados e que bem demonstram a profunda ligação entre Portugal e a Igreja católica.
Convirá até recordar que apesar de o Estado ser laico em Portugal existem vários feriados de índole religiosa, desde logo o Natal, pelo que como em tantas outras áreas da vida comunitária não há regra que não tenha a correspondente exceção.
E creio que bem levando em linha de conta aquele que é o sentir profundo na maioria dos portugueses que sendo mais ou menos praticantes professam a religião católica e gostam de ver a sua fé respeitada pelo Estado.
Sexta feira chega a Portugal essa figura admirável que é o Papa Francisco.
A sua vinda ao nosso país, ainda que por um curto período de tempo e circunscrita a Fátima onde vai comemorar o centenário das aparições, está a despertar um profundo entusiasmo em todos os católicos e mesmo naqueles que não o sendo admiram a estatura moral e o líder exemplar que o Papa indiscutivelmente é.
Em linha com isso, e seguindo o exemplo de anteriores governos aquando das visitas de João Paulo II e Bento XVI (curiosamente aquando da visita de Paulo VI, nos tempos da ditadura e com o catolicismo como religião oficial, Salazar não foi nisso…) o governo das “esquerdas” deu tolerância de ponto aos funcionários públicos no dia de sexta feira.
O que prova, no mínimo duas coisas:
Uma é que um governo de esquerda, ideologicamente adepto do laicismo e composto maioritariamente por ateus, quando se trata do populismo de isentar o funcionalismo público de um dia de trabalho (ainda por cima em ano de eleições) não hesita em deitar oportunisticamente mão da visita de um líder religioso, ainda que da religião largamente maioritária no país ,como fizeram no passado governos da tão detestada direita.
A outra é que o governo das esquerdas, auto apregoado defensor das mais amplas...igualdades, não tem o mínimo problema de ao serviço da sua demagogia e oportunismo estabelecer uma separação brutal entre os portugueses que são funcionários públicos e tem tolerância de ponto e os que não o sendo tem de trabalhar.
Pessoalmente discordo por completo desta tolerância de ponto.
Porque os devotos(sendo ou não funcionários públicos), aqueles que já tinham a legítima vontade de acompanharem a visita do Papa, há muito que tinham marcado férias ou pedido dispensa de trabalho para o dia de sexta feira sem estarem à espera de eventuais tolerância de ponto do governo.
Os outros, especialmente os ateus e os que professam religiões a quem o Papa nada diz, vão aproveitar a generosa tolerância de ponto para tudo menos para irem a Fátima participarem nas cerimónias religiosas.
E por isso um governo a sério, mais preocupado em governar para todos do que para fazer demagogia junto de alguns, só tinha duas atitudes a tomar se queria ficar bem na “fotografia” deste acontecimento.
Ou não dava tolerância de ponto a ninguém deixando à vontade de cada um a participação na visita do Papa.
Ou dava um dia feriado que abrangesse todos os portugueses e não apenas os funcionários públicos como acontece com a tolerância de ponto.
Como diz o povo na sua infinita sabedoria “ou há moral ou comem todos” !
Assim é que não!
P.S. Algumas câmaras municipais, como Braga, Penafiel, Ponte de Lima - para citar exemplos de maiorias PSD,PS e CDS- entre outras (poucas) resolveram não alinhar no “nacional porreirismo” do governo e não deram tolerância de ponto aos seus funcionários.
Há que saudar e felicitar a coragem desses executivos.
Eles é que estão certos.
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