Se há coisa que nós vimaranenses aprendemos desde pequeninos é a termos um orgulho desmedido na nossa Terra e no lugar da História que ela ocupa como indiscutível berço da nacionalidade.
Ser de Guimarães, onde nasceu Portugal, é um motivo de orgulho que
passa de pais para filhos ao longo de gerações e é aquele suplemento de alma
que nos permite fazer frente `s injustiças de que a nossa Terra foi alvo ao
longo dos anos.
São muitos, e bons, os exemplos de ocasiões em Guimarães saiu à rua a
exigir justiça, a impor respeito, a mostrar que é terra de gente que não se
verga nem se cala quando a sua comunidade é posta em situações que geram
prejuízos e traduzem injustiças.
E foi sempre assim ao longo dos anos.
Desde o tempo em que os procuradores de Guimarães à Junta Geral do
Distrito de Braga foram enxovalhados à saída de uma reunião no governo civil de
Braga, em pleno século dezanove, o que motivou enormes manifestações de rua em
Guimarães a exigirem a desanexação do concelho do distrito de Braga e a criação
do distrito de Guimarães ou em alternativa a adesão ao distrito do Porto.
E assim foi em muitas outras ocasiões fosse por razões desportivas,
como decisões lesivas dos interesses do Vitória, fosse por razões que diziam
respeito a matérias tão importantes como a instalação da Universidade do Minho
que estando inicialmente projectada para um “campus “em Caldas das Taipas foi
posteriormente repartida entre Guimarães e Braga sendo que o pólo de Guimarães
só foi garantido graças ao papel da Unidade Vimaranense e às diligências por
ela desenvolvidas.
Entre as quais uma enorme manifestação de rua em 1973.
Vem isto a propósito de algumas conversas cruzadas que mantive sábado
passado, num camarote do estádio da Luz enquanto assistia aquela “desgraça” de
jogo, e perante a admiração dos benfiquistas que me rodeavam pela forma
espectacular como as centenas de adeptos vitorianos apoiavam entusiasticamente
a sua equipa absolutamente indiferentes à marchado resultado e à mais que certa
derrota do Vitória.
Centenas que perante mais de sessenta mil adeptos do adversário, num
dia de festa previamente anunciada por todos os meios de comunicação social, se
faziam ouvir e por vezes até calavam o resto do estádio.
E um desses amigos, benfiquista de Lisboa, incrédulo com o que via
chegou a perguntar-me “…porque razão vocês são assim?...” confessando que por
muito menos os adeptos do seu clube assobiavam a equipa e insultavam jogadores
e treinadores.
Expliquei-lhe que a razão era muito simples.
Chama-se bairrismo educado e culto, um bairrismo que passa de pais
para filhos e nos ensina a valorizar o que é nosso, a termos amor pela nossa
Terra e pelas suas instituições, a preservarmos princípios que nada tem a ver
com modas ou circunstâncias conjunturais.
Valores e Princípios apenas.
Creio que admiração deles ainda redobrou quando terminado o jogo viram
o Vitória, derrotado por 0-5, dirigir-se para a bancada onde estavam os seus
adeptos e ser por eles entusiasticamente ovacionado como se tivesse acabado de
vencer o jogo e não sofrer uma derrota pesada.
Um deles, de boca aberta, a única coisa que conseguiu dizer-me (mal
sabendo o elogio que estava a fazer) foi “vocês são únicos, nunca vi nada assim
no nosso futebol” ao que lhe respondi que para os vitorianos muito mais importante
que ganhar ou perder é o próprio Vitória porque somos adeptos do clube e não
das vitórias.
E ainda tive oportunidade de lhes explicar mais duas coisas, com o
único prazer que tive naquela tarde convenhamos, acerca de Guimarães e do
Vitória.
Uma é que em Guimarães não existem “feitorias coloniais” de Benfica,
Porto ou Sporting.
Pela simples razão de que a esmagadora maioria dos vimaranenses são
vitorianos e os poucos que não são estão reduzidos à sua insignificância.
A outra foi o garantir-lhes, numa altura em que as televisões já
mostravam a festa no Marquês e noutras cidades do país (Porto, Braga, Faro,
Coimbra, Funchal, etc ) que em Guimarães não haveria festejos com o triunfo do
Benfica no campeonato fosse com concentração de pessoas no centro da cidade
fosse com caravanas automóveis.
E assim foi.
Creio que de alguma forma consegui explicar-lhes “porque somos assim”.
Ao ponto de à despedida me terem dito, de forma que creio sincera, que
tinham pena que em Portugal não houvesse mais cidades e clubes como Guimarães e
o Vitória porque certamente teríamos um país melhor e um futebol bem mais
competitivo.
“Somos assim”!
E assim continuaremos a ser estou certo disso.
4 comentários:
"Ao ponto de à despedida me terem dito, de forma que creio sincera, que tinham pena que em Portugal não houvesse mais cidades e clubes como Guimarães e o Vitória porque certamente teríamos um país melhor e um futebol bem mais competitivo."
Esses provincianos tem pena??? Que digam ao presidente do clube deles (e dos outros 2 estarolas) que nao queiram ser eles os unicos donos do futebol portugues e que, sobretudo, nao tenham mentalidade de eucalipto, secando tudo a volta.
O campeonato portugues nao se joga apenas com 3...
Caro Saganowski:
Nem todos os benfiquistas são "Vieiras" ou "Pedros Guerra".
E acredito que aqueles que gostam do seu clube mas também gostam de futebol não gostem do que se vê em Portugal.
Precisamos de ganhar um campeonato. Não percebo como ainda não se aproveitou esta força humana para festejar o titulo nacional, espero ganhar a taça de Portugal, já seria bom.
Cumprimentos
FF
Caro FF:
Faço essa pergunta a mim próprio muitas vezes.
Talvez por estar cansado de ver a épocas de sucesso sucederem épocas de frustração.
Parece fado nosso.
A próxima época será uma grande oportunidade de inverter esse paradigma se a SAD investir a sério no futebol em vez de vender tudo para que apareça comprador.
Até porque a Liga Europa dará uma almofada financeira interessante.
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