Creio que se alguma frase uniu ontem muitos vitorianos e benfiquistas, antes, durante e depois da final de taça foi a rejeição de algum dia regressarem ao Jamor.
Porque foi mau demais.
Adeptos do futebol pagarem o seu bilhete (20, 27,5 ou 35 euros pouco importa a diferença) para assistirem a uma final da Taça de Portugal, um dos jogos mais importantes de qualquer época, e depois estarem mais de duas horas à chuva, expostos à intempérie apenas porque a final se disputa num estádio velho, caduco, pequeno para a dimensão dos opositores de ontem e essencialmente com bancadas descobertas sujeitando espectadores à chuva inclemente de ontem ou ao calor abrasador de outras ocasiões é inaceitável sob qualquer ponto de vista.
Ainda para mais num país que gastou fortunas para construir e remodelar estádios para receber o Euro 2004, num país que tem,portanto, estádios modernos alguns dos quais capacitados para receberem finais europeias como já foi o caso de Alvalade e da Luz.
Não cheguei ontem a esta conclusão.
Há quase dez anos que o venho defendendo publicamente, quer em artigos de opinião quer num programa televisivo em que colaborei no Porto Canal, porque entra pelos olhos dentro que o Jamor de há muito que não tem condições de conforto, nem a dimensão necessária ,para receber jogos com o mediatismo e o interesse popular que uma final de Taça sempre desperta.
E prova disso é que a própria selecção nacional há muito deixou de lá jogar precisamente porque essa falta de condições o tornam desaconselhável para jogos ao mais alto nível.
Fui pela primeira vez ao Jamor em 1988 numa final de Taça entre Vitória e Porto.
Um calor terrível ao ponto de até a pedra das bancadas (ainda não havia cadeiras) aquecer de tal forma que tornava difícil permanecer sentado.
Fiquei, desde logo, mal impressionado.
Voltei em 2000, casualmente, para assistir a uma finalíssima entre Porto e Sporting jogada à noite e a meio da qual começou imprevistamente a chover o que me obrigou a assistir (a mim e a muitas pessoas) à segunda parte abrigado entre as árvores do topo norte!
Reforcei, e muito, a minha convicção de que aquele estádio não serve.
Regressei em 2011 para a final Vitória-Porto. Outro “banho” de calor.
Em 2013, na final entre Vitória e Benfica, foi a minha ida ao Jamor em que o tempo se mostrou mais colaborante mas já nesse jogo a falta de capacidade do estádio foi gritante com milhares de adeptos de ambos os clubes a ficarem de fora por não conseguirem bilhete.
Ontem foi “aquilo” que se viu e ,do meu ponto de vista, a prova definitiva de que continuar a apostar no Jamor para palco das finais de Taça por razões apenas históricas e paisagísticas (porque outras não há) é persistir no erro e mais do que isso uma falta de respeito pelo público pagante.
Vi, desde pessoas mais idosas a crianças, pessoas completamente encharcadas, a tiritarem de frio a quem apenas a paixão pelos seus clubes mantinha no estádio expostas à inclemência do tempo com graves riscos para a saúde.
Como também vi algumas, por manifestamente não conseguirem resistir à chuva e às roupas encharcadas, abandonarem o estádio profundamente contristadas porque lhes era manifestamente impossível lá continuarem.
Na viagem de regresso, parando em áreas de serviço para tomar café e reabastecer o carro e na Mealhada para outro tipo de “reabastecimento”, em todos os locais encontrei vitorianos amigos, conhecidos e pessoas que não conhecia mas também adeptos do Vitória com as roupas encharcadas a fazerem viagens penosas pelo evidente desconforto resultante dessa situação.
E seguramente que o mesmo se passou com adeptos do Benfica.
Não pode ser!
E por isso creio ser tempo de a FPF proceder a uma reflexão séria sobre o assunto, eliminar o Jamor como palco da final e pensar noutro modelo para escolha do estádio que albergará esse jogo porque o futebol profissional do século XXI é uma industria demasiado séria para estar presa ao romantismo inerente à utilização de um estádio caduco de meados do século passado.
Pessoalmente gosto do modelo espanhol.
No qual o estádio da final é escolhido por acordo entre os finalista e normalmente equidistante,tanto quanto possível, a ambas as equipas.
É um sistema justo que serve a ambos os finalistas e a que Portugal não teria dificuldade em se adaptar face a possuir três estádio de grande lotação e mais sete de lotação média e que podiam ser alternativa para finais entre clubes com menor número de adeptos.
Exemplifico:
A final de ontem poderia ser em Alvalade ou no Dragão.
Mas uma final entre, por exemplo, Rio Ave e Paços de Ferreira podia ser em Guimarães ou Braga tal como uma final entre Belenenses e Boavista podia ser em Coimbra, Leiria ou Aveiro entre muitos outros exemplos possíveis.
Haja a vontade e o bom senso de também nesta matéria se modernizar o nosso futebol.
Depois de ontem será muito mau se tudo ficar na mesma.
P.S. Por falar noutros modelos: Neste sábado realizaram-se as finais de taça em Inglaterra, Espanha, Alemanha e França que são quatro das maiores Ligas europeias.
Realizaram-se no sábado porquê?
Para permitir aos adeptos dos finalistas regressarem a casa no final dos jogos e aproveitarem o domingo para descansar.
Em Portugal a final de Taça é ao domingo.
E por isso ontem ao fim da noite e hoje de madrugada milhares de vitorianos chegaram a suas casas cansados das viagens, encharcados pela chuva e na sua esmagadora maioria a terem de trabalhar hoje de manhã.
Não é justo.
E por isso a FPF deve considerar a hipótese de também em Portugal a final de taça passar a ser jogada ao sábado.
É uma decisão fácil de tomar.
8 comentários:
Sr. Luis Cirilo, sou adepto do Braga e posso confirmar em primeira mão aquilo que refere. Nos últimos dois anos sofri, na pele, todas as peripécias possíveis provocadas pelas más condições daquele "estádio". Queimaduras na pele devido ao sol (estádio sem cobertura? em 2015? 2016?), meia dúzia de casas de banho, entradas apertadas, bares dentro do estádio com ouro à venda (parecia devido ao preço), parque à volta também não está preparado para receber tanta gente e digamos que embora goste de "pic-nics" faze-lo num local sem condições no meio da erva não é agradável.
Gostaria de acrescentar um outro pormaior. A parolice e actos saloios da organização. Que em 2015 nos brindou a nós com marchas de lisboa e onde o clube dito grande tem tratamento especial por parte da segurança e policia. Também tenho reparado que Benfica/Porto/Sporting ficam sempre com o topo Norte. Porquê?
Por último faz algum sentido acordar às 4h da manhã de um Domingo e só me deitar às 4h da Segunda? 24 horas para ir a Lisboa, comer panados, ver um jogo, voltar e trabalhar no dia seguinte? Por amor de Deus, os srs. que em 30 ou 45 min estão em casa têm de pensar nisso mas o seu comodismo e os resquícios do tempo de salazar impede-os...
Quanto ao dia, o Domingo só serve para os Lisboetas, não serve a mais ninguém, por isso é mais do que obvio que a final da taça de Portugal deveria ser sempre a um Sábado à mesma hora.
Quanto ao local tenho uma opinião um pouco diferente da sua.
O que eu acho que deveria ter sido feito era a remodelação do estádio nacional para o Euro 2004, quiseram-se "premiar" cidades como Leiria ou Aveiro (uma com uma remodelação, feia e mais cara que a do nosso D.A.Henriques, outra com um elefante branco enorme e caríssimo pois está parado!) ao invés de apostar num estádio que, aí sim, deveria ser sempre o palco da final da Taça de Portugal e de vários jogos das várias selecções nacionais.
Como isso não foi feito a solução nesta altura passará pelo modelo que propões, o modelo espanhol acompanhado de uma espécie de recolha de fundos (de patrocinadores, de bilheteira, de transmissões) que permita remodelar, se não até construir de novo, o Estadio Nacional no Jamor, na cidade de Oeiras.
E cada vez que vou ao Jamor, talvez pelo tipo de arquitectura ou pelo vencedor ter de subir ao camarote de sua excelência para receber a taça, não o consigo dissociar da ditadura...
Miguel Leite
Eu estive no Jamor este ano, assim como já tinha estado anteriormente, e reconheço que não seria possível noutro estádio, o mesmo tipo de vivência.
Claro que concordo que este estádio está caduco, facto que se acentua em condições meteorológicas adversas, como aconteceu desta vez
É a chuva, é a lama, é até o perigo das bancadas escorregadias.
Além disso nem condições sanitárias o estádio tem. Claro que alguém deve fazer uma grande negociata com o aluguer daquelas tenebrosas cabines de construção civil.
A Federação anda cheia de dinheiro, julgo que seria de considerar, antes da decisão drástica de abandono (que, diga-se, não acredito que aconteça), uma remodelação do estádio.
Há hoje em dia soluções arquitetónicas que poderiam minorar a dificuldade da falta de cobertura.
Gostava de ver essa discussão aprofundada
Caro Luís Cirilo,
Concordo consigo quando diz que o dia do jogo deveria ser ao sábado, não faz sentido ser ao domingo, principalmente para as equipas que vêm de fora de Lisboa.
A questão do local nunca vai gerar consenso, pois existem os fundamentalistas que não querem abandonar o Jamor por nada deste mundo, e existem os outros que defendem melhores condições.
A verdade é que assim como está agora, não deve continuar. Por muito que eu goste de ir ao Jamor, aquilo não tem condições para receber tanta gente.
A curto prazo a solução que o Luís Cirilo defende acho que é a melhor, joga-se num estádio em função das equipas que disputem a final. A longo prazo, penso que a solução passará pela remodelação/reconstrução, ou até da construção de um novo Estádio Nacional, que sirva os interesses nacionais e não apenas os interesses de alguns.
Abraço
Miguel
Caro Anónimo:
Concordo por inteiro com o seu comentário. Porque o Jamor só interessa mesmo a Benfica, Sporting e a quem manda no futebol e gosta daquele cenário para a final da taça sacrificando os espectadores a um estádio com péssimas condições.
Por isso entendo que os outros clubes, com Vitória e Braga à cabeça porque são os maiores a seguir aos chamados "grandes", deviam impor-se nesta e em muitas outras matérias. Infelizmente parecem mais interessados em disputarem as medalhas que caem da mesa do que a ela se sentarem.
Quanto à preferência pelo topo norte para as equipas do "poder" não sei as razões. Das quatro vezes que fui ao Jamor com o Vitória em três ficamos no topo sul. A excepção foi 2011.
Mas de lá para cá a verdade é que Académica, Vitória, Rio Ave, Braga, Braga e Vitória (ordem consoante os anos) viram os seus adeptos ficarem sempre no topo sul.
Quanto ao jogo ser ao domingo apenas lhe posso dizer que quem escolhe a data são os mesmos que escolhem o estádio. E que tendo lugares na tribuna de honra estão a "leste" dos problemas de quem paga bilhetes. E moram em Lisboa é claro.
Caro Francisco Guimarães:
Quanto ao dia do jogo de acordo. Quanto ao Jamor creio que remodelar sairia mais caro que fazer um estádio novo. E Portugal já gastou dinheiro que chegasse em estádios. Se queriam o Jamor para este fim e para jogos das selecções tinham-no remodelado em 2004 (como em Inglaterra fizeram com Wembley)para o Europeu.
Caro Miguel Leite:
O subir à tribuna é o menos. O pior é mesmo tudo o resto.
Caro luso:
A questão não é só a cobertura embora esse seja essencial. São as casas de banho, o desgaste das bancadas, a pequena lotação para jogos destes, as dificuldades de estacionamento. Não me parece que valha a pena gastar lá um euro que seja para o remodelar. Há em Portugal muitos estádios bem melhores para receberem a final da Taça.
Mas nada a opor, como é evidente, a que se aprofunde a discussão do assunto.
Caro Miguel:
O dia do jogo é apenas uma questão de bom senso. Só não mudam se não quiserem. E se não quiserem é uma falta de respeito por todos os clubes que não são de Lisboa e arredores.
E digo isto porque não acredito que mesmo face às evidências a FPF vá desistir de jogar a final no Jamor.
Quanto ao estádio não me parece que este tenha solução nem quero acreditar que este país gaste mais um cêntimo a construir novos estádios quando tem alguns do Euro 2004 ao abandono.
A solução que defendo é a que melhor serve o futebol e defende todos os clubes por igual.
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