segunda-feira, outubro 19, 2020

Dérbi?

Serão os jogos entre Vitória e Boavista um dérbi?
Duvido.
O grande dérbi do futebol português, o mais antigo e mais clássico de todos eles, é o Vitória Sport Clube versus Sporting Clube de Braga e quanto a esse não há a menor duvida que assim é e pode enfileirar no lotes dos grandes dérbis que fazem a glória e o fascínio do futebol.
É um "dérbi" entre duas comunidades vizinhas que dura há mais de mil anos e que nos últimos quase cem teve no futebol a sua expressão mais mediática mas não única.
Agora com o Boavista a história é diferente.
Durante muitos anos jogar com os axadrezados era como jogar com a Académica, o Belenenses, o Marítimo, o Farense ou qualquer outro clube sem o interesse acrescido de jogar com Sporting, Porto ou Benfica e muito menos com o grande rival de "Trás Morreira" como na brincadeira se chama ao Braga.
Tudo mudou em dois anos consecutivos por obra de um vigarista chamado António Garrido que em duas arbitragens desgraçadas prejudicou amplamente o Vitória, beneficiou largamente o Boavista e contribuiu para criar entre os dois clubes e respectivas massas adeptas uma animosidade que nunca mais acabou.
Em 1974/1975 na última jornada do campeonato o Vitória recebia o Boavista com dois pontos de avanço e bastava o empate para finalizar a prova no quarto lugar que dava acesso à taça UEFA.
Garrido não quis.
E com dois golos em foras de jogo não assinalados o Boavista venceu por 2-1 e logrou o apuramento europeu à custa do Vitória e do...carro do árbitro queimado nos incidentes que se seguiram ao fim do jogo e que só terminaram com intervenção de forças militares perto da meia noite muitas horas depois de o jogo terminar.
Na época seguinte Vitória e Boavista encontraram-se na final da taça de Portugal, disputada no estádio das Antas, e surpreendentemente arbitrada pelo mesmo António Garrido que não era o árbitro escalado mas que mexeu os cordelinhos para passar a ser e concretizar uma das maiores vigarices que alguma vez vi num estádio de futebol.
O Boavista ganhou (desta vez com golos limpos) por 2-1 mas o patife de apito na boca sonegou ao Vitória três grandes penalidades a última das quais (sobre Almiro) foi mesmo à frente da bancada onde eu estava e se aquilo não era penalti não há penaltis no futebol.
Em dois anos o Vitória perdeu, graças a um árbitro que nunca o devia ter sido, dois apuramentos europeus e uma taça de Portugal a favor do Boavista e a partir dessa final de taça nunca mais as coisas foram iguais entre clubes e respectivos adeptos.
A que acresce o facto de a partir de 1980 com duas lideranças fortissímas nos clubes, Pimenta Machado no Vitória e Valentim Loureiro no Boavista , a tensão entre ambos andar sempre perto dos limites e os triunfos de um perante o outro serem especialmente significativos e valorizados porque para lá da disputa entre clubes havia um "duelo" pessoal entre presidentes.
São muitos os episódios a ilustrarem esses tempos, desde as palhaçadas do guarda redes Alfredo que custaram seis jogos de interdição ao Vitória até ao guarda chuva com que Marinho Peres foi agredido no Bessa sem esquecer uma tumultuosa saída de campo do guarda redes William , um golo de antologia de Romeu ou aquele inolvidável golo de chapéu marcado por Pedro Mendes a Ricardo ,no Bessa , com um remate desferido ainda no meio campo vitoriano.
Os jogos entre Vitória e Boavista poderão não ser um dérbi, no sentido clássico do termo, mas são jogos que que qualquer um dos clubes gosta especialmente de ganhar face à tal tensão existente entre ambos desde 1976 e essa famigerada final de taça.
Espero que hoje ao entrarem em campo os jogadores do Vitória e o seu treinador, João Henriques, se lembrem disso.
Se lembrem que ganhar ao Boavista vale três pontos e mais qualquer coisinha.
Depois Falamos.

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