Há mais de trinta anos, seguramente, colaborava eu no extinto "Jornal do Vitória" que se publicava em papel (nesse tempo não havia outras opções) e era dirigido por Lourenço Alves Pinto tendo como chefe de redacção José Eduardo Guimarães.
Jornal que como muitos recordarão tratava apenas assuntos do clube com crónicas e reportagens dos jogos de futebol ,e das poucas modalidades ao tempo existentes, e entrevistas a jogadores, treinadores e dirigentes entre outras rubricas.
Num determinado fim de semana foi-me atribuída a crónica de um jogo caseiro do Vitória, não tenho já a mínima ideia de quem era o adversário, que fiz dentro das minhas capacidades analíticas concluindo-a com uma crítica , que entendi justa, à inoperância dos apanha bolas que em nada ajudavam a equipa!
Foi o bom e o bonito.
Alguns dirigentes de então ficaram tão melindrados com a critica que o assunto foi a reunião de direcção, então presidida por António Pimenta Machado (que ao que soube posteriormente não ligou nada ao assunto), porque consideravam critica de lesa majestade que no jornal do clube se criticasse um determinado aspecto da organização dos jogos mais propriamente a escolha dos apanha bolas e as instruções que (não) lhes eram dadas.
Passaram trinta anos.
E a situação não melhorou.
No estádio do Vitória os apanha bolas continuam a ser crianças ou jovens adolescentes que num tempo de profissionalismo rigoroso, em que todos os detalhes contam, continuam a não saber interpretar o jogo, a perceberem quando tem de ser mais rápidos (ou mais lentos) a reporem as bolas , nem sequer procedem à elementar pressão de quando o Vitória está em desvantagem e a bola sai pela linha final para pontapé de baliza atirarem de imediato outra bola para dentro do relvado para limitarem a perde de tempo por parte do guarda redes adversário.
Nos escassos meses de 2012 em que estive como vice presidente para o futebol e modalidades, entre as muitas coisas que havia para fazer e as muitas preocupações com o estado do clube, também quis resolver essa questão da inoperância dos apanha bolas a bem da eficácia das equipas A e B.
Para isso, com o apoio do Rui Leite ao tempo director da formação, delineamos um projecto em que os apanha bolas seriam jovens futebolistas da formação já com noções básicas do que é o jogo e da importância da temporização das jogadas quando a bola sai do terreno.
Entretanto saí da direcção ,o projecto caiu no esquecimento, e os apanha bolas no estádio D.Afonso Henriques continuam a ser de um amadorismo que já não devia existir.
Mas existe.
Recordei tudo isto a propósito da acção de José Mourinho quando ontem foi abraçar um apanha bolas como agradecimento por uma rápida reposição de bola em jogo (leitura perfeita do lance pelo jovem) que permitiu ao Tottenham fazer o segundo golo face ao Olimpiakos.
No futebol a "sério" os apanha bolas não são uma questão menor.
Serão um detalhe, dentro da enorme orgânica de um desafio de futebol, mas é nos detalhes que muitas vezes se ganham jogos.
Depois Falamos.
P.S. Quando refiro que os apanha bolas deviam saber ler o jogo consoante os interesses do Vitória isso não significa que, a (mau) exemplo do que acontece noutros estádios portugueses, eles atrasem reposições ou até desapareçam quando o clube da casa está a ganhar nos últimos minutos.
Fair play e respeito pelo jogo não são incompatíveis com inteligência.
2 comentários:
Muito muito bom
Caro Helder Oliveira:
Muito obrigado.
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