domingo, março 12, 2017

A Realidade

O meu artigo desta semana no zerozero

Poucas áreas da vida social existem em que o sonho, a imaginação, o superar de expectativas tenha campo tão fértil para crescer como acontece no “reino” do futebol em que com a maior das facilidades o entusiasmo dos adeptos consegue transformar uma pequena minhoca na maior das cobras.
Por mim falo.
Porque embora sem perder a noção das realidades, mal estava, quantas vezes ao ver as melhores jogadas do “meu” Vitória me parece que estou a ver o Barcelona ou o Bayern de Munique e olhando para o Hernâni “vejo” o Messi, no Marega o Lewandowski e no Raphinha o Neymar.
Sei que não são mas de vez em quando sonhar não faz mal!
O problema é quando os adeptos, e às vezes os dirigentes (e até alguns jornalistas), não conseguem distinguir entre os seus mais rosados sonhos e a realidade que as suas equipas lhes podem proporcionar e que bastas vezes anda bem longe do sonhado.
Os quatro jogos desta semana da Liga dos Campeões proporcionaram-nos quatro belos exemplos de como sonho e realidade andam, por vezes, tão distantes.
Comecemos pelo que terá sido o mais abrupto choque entre sonho e realidade.
Aconteceu em Barcelona. Onde na mais sensacional reviravolta de sempre da Champions o Barcelona conseguiu superar a desvantagem de quatro golos trazida de Paris e conseguir um apuramento que povoava os sonhos dos seus adeptos mas que certamente nem nos piores pesadelos dos adeptos do PSG tinha lugar.
E por isso provavelmente dez em cada dez adeptos do PSG já sonhavam com os quartos-de-final.
Acontece que a realidade dos factos apontava para uma equipa do Barcelona claramente melhor que a do PSG e por isso o que de mais invulgar existiu nesta eliminatória foi o resultado de Paris que alimentou sonhos que a realidade provou não terem razão de existir.
Em Barcelona apenas foi reposta a normalidade. Outro caso deu-se no enésimo confronto entre Arsenal e Bayern com resultados sempre favoráveis aos alemães que não se tem cansado de eliminar os ingleses nesta competição ao longo dos últimos anos.
Uma vez mais assim foi.
E pese embora os adeptos ingleses tenham uma vez mais lotado o “Emirates”, mesmo sabendo que com a goleada sofrida em Munique as hipóteses de passar eram ínfimas, sonhando que por uma vez a “regra” não seria cumprida a realidade mostrou que entre este poderoso Bayern e um Arsenal em penoso fim de ciclo do treinador Arséne Wenger não há comparação possível.
E embora a diferença entre as duas equipas não seja certamente o 10-2 do conjunto dos jogos ficou provado que para os arsenalistas não há espaço para o sonho, quando defrontam os alemães, porque o choque da realidade será sempre brutal.
Em Nápoles, no S.Paolo, quiçá o mais vibrante estádio de Itália, o sonho dos adeptos napolitanos passava por uma noite “mágica” em que marcando dois golos e não sofrendo nenhum pudessem deixar para trás um colosso chamado Real Madrid.
O golo fora, um Real que não está manifestamente no seu melhor, o apoio do público e a valia da equipa eram os alicerces de um sonho que até chegou a ganhar algumas asas com o golo inaugural dos napolitanos.
A realidade mostra, porém, que mesmo num período de menor fulgor o Real Madrid tem uma gama de soluções que lhe permite respostas para quase todas as situações e ainda para mais quando face a um adversário valoroso mas que lhe é inferior.
E por isso quando não está Ronaldo está Bale, quando não está Bale está Benzema, quando não está Benzema está Morata e quando não parece estar ninguém acaba por estar Sérgio Ramos.
E essa realidade foi forte demais para o Nápoles.
Admirou-me, e não foi pouco, algumas críticas que vi nas redes sociais e na imprensa quanto à estratégia adoptada por Rui Vitória para o jogo de Dortmund. Demasiado defensivo, com autocarro à frente da baliza, “jogou como o Tondela joga na Luz” e mais alguns mimos tão desfasados da realidade das coisas como injustos para o treinador do Benfica.
Há que ter memória. E recordar que a eliminatória não ficou logo resolvida na Luz porque os alemães falharam meia dúzia de claras oportunidades de golo incluindo uma grande penalidade numa das noites mais desastradas da carreira se Aubameyang.
Se o Borussia tinha sido claramente melhor na Luz esses críticos de Rui Vitória estavam à espera de quê? Que fosse pior em Dortmund?
Todos nós, adeptos dos nossos clubes, temos o direito de sonhar de olhos abertos. Os treinadores não! E por isso RV fez o que qualquer treinador, de Mourinho a Guardiola passando por Ancelotti ou Klopp, faria em idênticas circunstâncias.
Trazendo no bornal um feliz triunfo por 1-0, sem golos sofridos e sabendo que o adversário era muito mais forte, reforçou a estratégia defensiva sem cair em exageros e procurou aproveitar o balanceamento ofensivo do adversário para marcar um golo que lhe reforçasse as perspectivas de seguir em frente.
Não correu bem porque um golo sofrido muito cedo e a incapacidade de marcar na melhor oportunidade que construiu impediram o Benfica de solidificar a sua candidatura aos quartos-de-final e depois a natural maior valia do adversário fez o resto.
Mas Rui Vitória fez o que tinha a fazer dentro do quadro de jogadores ao seu dispor, que tem lacunas claras, e que em Janeiro não só não foi reforçado (Filipe Augusto para já reforçou o banco mas não o onze) como ainda viu partir Gonçalo Guedes.
E o Borussia ser muito melhor equipa e ter jogadores que o Benfica não tem, isso não é da responsabilidade do treinador benfiquista. 
É apenas a realidade das coisas!

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