terça-feira, setembro 17, 2019

Subserviência

Em Portugal existe uma cultura de subserviência e bajulação ao poder que vem directamente do feudalismo da Idade Média e posteriormente se foi convertendo a outras formas de poder e de organização social.
Tendo sempre como pedra de toque a mais absoluta reverência e o mais completo servilismo aqueles que em cada momento tinham poder mais ou menos absoluto e portanto se tornavam temidos pelo seu exercício e bajulados pelo que podiam distribuir pelo servos.
E se essa forma de ser tão portuguesa se consolidou ao longo dos séculos da Monarquia não foi o advento da República que a ela pôs termo podendo dizer-se que, bem pelo contrário, até se reforçou durante os longos anos do Estado Novo e do poder quase absoluto de António de Oliveira Salazar perante quem todos os dignitários do Regime se curvavam e ensinaram o povo a curvar.
E contra todas as expectativas também não foi o 25 de Abril que acabou com isso embora nalgumas áreas tenha dado passos significativos nesse sentido.
Noutras é que não.
E por isso se continua a assistir aos que são fracos com os fortes e fortes com os fracos, com os que tratam uns como filhos e outros como enteados, com os que dão aos que já tem muito e negam aos que não tem nada.
Direi que, até pela sua visibilidade, a comunicação social é aquela em que o vírus salazarista da subserviência e da bajulação se encontra mais solidamente instalado e mais fácil de detectar tantas são as provas da sua existência que se vão constatando no dia a dia.
Especialmente nas televisões  mas também nas rádios e na imprensa escrita.
Darei apenas dois exemplos mas que sendo tão elucidativos como são dispensam qualquer explicação complementar.
O primeiro tem a ver com o futebol e o subserviente conceito dos chamados, pela comunicação social, "três grandes".
Benfica, Porto e Sporting.
A quem a comunicação social reverencia, bajula, serve, intoxicando a opinião pública com um volume de notícias sobre esses clubes mais digno de uma qualquer Coreia do Norte a bajular o ditador de serviço do que de um país europeu no qual devia existir outra cultura democrática, outra cultura jornalística e outra cultura desportiva.
O segundo tem a ver com a política e é , naturalmente, mais grave porque mexe com a vida de todos nós.
E prende-se com a lógica dos "três grandes" transposta para os cinco "grandes" ( PS, PSD, BE, PCP e CDS) com o mesmo servilismo, a mesma reverência, o mesmo desprezo por todos os outros que não façam parte deste selecto grupo de privilegiados.
Basta assistir diariamente  aos telejornais para constatar isso e confirmar ,a titulo de exemplo, que oito roteiros temáticos feitos a nível nacional pelo presidente da Aliança, que percorreu todo o país  tratando de temas e problemas essenciais para os portugueses, tiveram menos tempo de antena noticioso que as banalidades, deturpações e mentiras com que a D. Catarina nos brinda em todos os telejornais, de todas as televisões, todos os dias!
É a comunicação social que temos.
Que resulta também, em boa verdade, da débil opinião pública  que existe no país e que interiorizando com prazer  oportunista (na sua grande maioria porque há quem resista...) a subserviência à lógica dos "três grandes" acaba por aceitar com naturalidade , sem sentido crítico (na sua maioria porque também aí há quem resista...)e sem moral para a criticar a subserviência reverencial aos "cinco grandes".
É o país que temos.
Depois Falamos

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