quinta-feira, março 08, 2012

Preguiça Informativa


Às vezes, vendo os noticiários televisivos da actualidade, lembro-me irresistivelmente dos tempos em que muitos anos atrás estive ligado ao fenómeno do aparecimento das rádios locais em Guimarães.
E lembro-me com saudade dos tempos da extinta Rádio Guimarães.
Em cujo projecto estive praticamente desde o início (pelos idos de 1986) com um grupo de amigos com quem passados tantos anos ainda recordo os tempos magníficos que por lá passamos.
Miguel Laranjeiro, Bento Rocha, António Ribeiro, Dino Freitas, Amadeu Portilha,Francisco Tadeu, Miguel Sousa, José Luís Ribeiro, Paula Brito, António Ferreira, Esser Jorge e muitos outros que deram corpo aquele que ainda hoje considero o mais genuíno projecto de rádio local que existiu neste concelho.
Eramos “pobres”.
Não havia telex, não era ainda tempo dos telemóveis, não havia dinheiro para comprar equipamentos modernos (inesquecível a “caixa de piquenique “ feita pelo Dino para as transmissões de relatos de futebol e que causava genuíno espanto em todos os estádios para onde as levávamos…) pelo que tínhamos de nos agarrar á improvisação, á imaginação e a algum “descaramento” para conseguirmos” levar a carta a Garcia”.
E conseguíamos.
Relembro momento “épicos” como andarmos pelo corredores do hotel Fundador a bater à porta do quarto dos jogadores do Atlético de Bilbau, a entrevista exclusiva do então presidente Mário Soares no decorrer de uma presidência aberta em Guimarães, o relato Da marcha gualteriana empoleirados numa varanda alameda de s. Dâmaso.
Entre muitos outros.
Depois fui para a rádio Fundação.
Outras instalações, outros meios, o “fatídico” telex e uma certa falta daquele espirito genuíno de “rádio pirata”.
E o telex!
Que “vomitava” noticias e por isso “dispensava” os jornalistas de andarem atrás delas.
Creio que o reforço de meios técnicos foi “matando” o genuíno espirito de rádio local, aquela que andava insistentemente atrás das notícias locais e pouca ou nenhuma importância dava ao noticiário nacional.
Porque não tinha meios para o fazer (a não ser lendo as noticias da véspera nos jornais) e porque considerava, e muito bem, que a sua missão não era essa.
Vem este passeio pelas boas memórias do passado a propósito dos noticiários televisivos de RTP, SIC e TVI.
Que duram uma imensidão de tempo, comparando com os noticiários de países com quem temos tudo a aprender em termos de televisão, e são preenchidos em boa parte com notícias irrelevantes de outros países metidas a “martelo” apenas para esticarem os espaços informativos e mostrarem serviço.
Coisas banais que se passam na Austrália, na India, no Gabão, na Bolívia eu sei lá, são notícia nas televisões portuguesas como se de algo de relevante se tratasse e como se não houvessem em Portugal temas noticiosos que nos interessassem a todos muito mais.
Quando da experiência que tenho, infelizmente bem pouca face aquilo que gostaria, a ver televisão noutros países (meia dúzia deles) me diz que ignoram completamente o que se passa em Portugal.
Ontem era o telex nas rádios locais.
Hoje é a imensa panóplia de meios postos á disposição de televisões e jornalistas.
Mas num caso como noutro o resultado é sempre o mesmo:
A preguiça informativa.
Depois Falamos

5 comentários:

Paulo Emanuel Mendes disse...

Que nostalgia. Lembro-me como se fora hoje. Nós éramos “muito” bons!

luis cirilo disse...

Caro Paulo Emanuel:
Podes crer.

miguel silva disse...

Em relação aos canais portugueses de televisão em sinal aberto tem toda a razão Luis Cirilo. Fico aterrorizado só de pensar naquelas pessoas que apenas têm os três tristes canais generalistas, mais um em total decadência, do sinal aberto em Portugal. Custa-me pensar porque raio não se aumenta o número de canais - até porque agora com a TDT todos os portugueses podem ter dezenas de canais na sua televisão sem necessidade de fazer mais alterações nas antenas.
Isto só pode ser devido à ideia aberrante que os nossos dirigentes têm de controlar a todo o custo a comunicação social, pensando que assim só iremos ver, ouvir e pensar aquilo que eles querem...
Quem tem o poder em Portugal vive em pânico com a ideia de haver diversidade e podermos escolher livremente o que bem entendemos. Portugal é quase uma ditadura em relação à liberdade de escolha e um autêntico paraíso para a manipulação de consciências.
Há dois meses atrás fui a Tenerife e com uma simples antena e um sistema TDT tinha acesso a 6 canais nacionais de Espanha mais 4 locais, várias estações de rádio, tudo gratuito, e mais uns quantos de sinal fechado para quem estivesse interessado em aderir... Isto num arquipélago com cerca de 3 milhões de habitantes. Mas neste rectângulo verde de 10 milhões acham sempre que o pouco que temos já é bem bom, e por vezes a até acham que o que temos até é mais que suficiente...

miguel silva disse...

Em relação aos canais portugueses de televisão em sinal aberto tem toda a razão Luis Cirilo. Fico aterrorizado só de pensar naquelas pessoas que apenas têm os três tristes canais generalistas, mais um em total decadência, do sinal aberto em Portugal. Custa-me pensar porque raio não se aumenta o número de canais - até porque agora com a TDT todos os portugueses podem ter dezenas de canais na sua televisão sem necessidade de fazer mais alterações nas antenas.
Isto só pode ser devido à ideia aberrante que os nossos dirigentes têm de controlar a todo o custo a comunicação social, pensando que assim só iremos ver, ouvir e pensar aquilo que eles querem...
Quem tem o poder em Portugal vive em pânico com a ideia de haver diversidade e podermos escolher livremente o que bem entendemos. Portugal é quase uma ditadura em relação à liberdade de escolha e um autêntico paraíso para a manipulação de consciências.
Há dois meses atrás fui a Tenerife e com uma simples antena e um sistema TDT tinha acesso a 6 canais nacionais de Espanha mais 4 locais, várias estações de rádio, tudo gratuito, e mais uns quantos de sinal fechado para quem estivesse interessado em aderir... Isto num arquipélago com cerca de 3 milhões de habitantes. Mas neste rectângulo verde de 10 milhões acham sempre que o pouco que temos já é bem bom, e por vezes a até acham que o que temos até é mais que suficiente...

luis cirilo disse...

Caro Miguel Silva:
Em bom rigos as pessoas já tem acesso a muitos canais através da ZON,da MEo e afins.
Mas são pagos.
Sem pagar é que estamos reduzidos À pobreza franciscana que refere e em que a programação parece feita com base no piroso, no supérfluo, no que significa entendimentoi fácil.
Basta ver a enxurrada de telenovelas, de concursos aberrantes e de reality shwos sem qualificação possível.