Sou de um tempo, abençoado, em que a leitura em papel fazia parte da educação.
Não só os manuais escolares como também a leitura lúdica dos livros dos “Famosos Cinco”, das “Aventuras dos Sete” e naturalmente a banda desenhada de então.
Já havia os livros da Disney importados do Brasil mas também a produção nacional, chamemos-lhe assim, com o “Mundo de Aventuras”, o “Major Alvega”, o “Jornal do Cuto” (de que ainda guardo religiosamente a colecção completa) entre tantos outros que não me ocorrem agora.
Mas os meus favoritos eram, sem sombra de duvida, as revistas dos super heróis.
Também elas vindas do Brasil, de uma editora (EBAL) que já não existe, e traziam-me num primeiro tempo a preto e branco e depois já a cores as fantásticas aventuras do Superman, Batman,Homem Aranha, Quarteto Fantástico, Demolidor e tantos outros que me ajudaram a passar tardes bem passadas lendo e relendo com uma atenção quase obsessiva as suas páginas.
Mas confesso que a minha preferida, talvez por acreditar nas virtualidades do trabalho em grupo, era mesmo a revista da Liga da Justiça.
Uma organização de Super Heróis que agrupava nas mesmas aventuras Super Homem, Batman, Arqueiro Verde, Ajax o Marciano, Elektron, Aquaman, Lanterna Verde, Miss América, Flash, Gavião Negro e Canário Negro a que se viriam a juntar posteriormente outros.
Todos eles detentores de super poderes das mais variadas espécies, desde a velocidade do Flash à capacidade de comunicar com animais marinhos do Aquaman, com excepção de Batman e Arqueiro Verde que eram os mais “normais” do grupo e cujas aptidões assentavam na potenciação de qualidades humanas como a inteligência, a capacidade dedutiva e a agilidade.
Naturalmente que tendo começado a ler esta banda desenhada muito cedo, pelos meus oito ou nove anos, tive uma fase inicial comum a todas as crianças em que acreditava que os super heróis existiam mesmo (santa inocência a das crianças) e depois percebi com o decorrer dos tempos que eram apenas histórias para entreter.
Hoje, e nos últimos trinta e tal anos para ser rigoroso, já não leio a actual BD mas ainda gosto de de vez em quando folhear as minhas velhas revistas com o prazer de quem reencontra amigas de toda a vida e a gratidão inerente ao entretenimento que me proporcionaram.
Confesso que nestes tempos conturbados que vivemos tenho recordado muito essas leituras.
Dos super heróis por si e da “Liga da Justiça”.
E sonho…
Sonho com ver o Super Homem a voar sobre o Daesh na Síria e no Iraque, o Batman a investigar células terroristas em Bruxelas, o Flash a despachar inquéritos judiciais em Portugal, o Aquaman a procurar nas profundezas do sete mares o voo da Air Malásia, o Elektron a fazer-se pequenino até poder investigar o que há realmente dentro da cabeça de Donald Trump, o Lanterna Verde a usar os poderes do seu anel para resolver os naufrágios em frente a Lampedusa, o Arqueiro Verde a descobrir a verdade do “Lava Jato” , Miss América e Ajax a resolverem os problemas dos refugiados e por aí fora…
São apenas sonhos em ver super heróis dotados de super poderes resolveram muito do que nos preocupa.
Mas provocados pelo pesadelo de aqueles que tem poderes reais para resolverem esses problemas não o conseguirem fazer.
Ou, nalguns casos, não quererem…
Definitivamente super heróis precisam-se!
Publiquei este texto no Blogue "Diário Insónias"
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