sexta-feira, junho 07, 2024

Obras

O meu artigo desta semana no zerozero.pt
Já se sabe que o tempo do chamado defeso futebolístico é um tempo aborrecido para os adeptos que sentem a falta da adrenalina semanal do campeonato, das taças e nalguns casos das competições europeias que lhes permitem viverem sempre em “tensão” e não com o relaxe deste tempo sem competições.
É certo que temos agora o campeonato da Europa de selecções que captará o interesse e o entusiamo de todos quando são capazes de esquecerem as cores clubísticas e se unirem em torno da bandeira da seleção mas não é bem a mesma coisa já o sabemos.
Por outro lado é o tempo da especulação.
Em que todos os dias se noticiam transferências, interesses vários, compras e vendas, muitas das quais não se vem a confirmar mas sempre servem para vender jornais, criar notícias e debates televisivos e alimentar o entusiasmo dos adeptos sempre crédulos naquilo que lhes agrada.
Acredito que face à vastidão de interesses envolvidos (jogadores, clubes, empresários, comissionistas, etc) deve ser muito difícil aqueles orgãos de comunicação social que fazem um jornalismo sério e rigoroso distinguirem entre a verdadeira notícia e a “notícia” plantada apenas para servir interesses promocionais de quem quer fazer negócio.
Em suma é um tempo de que não gosto mas que faz parte do futebol.
E por isso aproveito para deixar aqui uma pequena reflexão sobre um tema menos abordado mas que tem uma importância relevante , e uma urgência crescente, no futuro do Vitória Spot Clube.
Há dias Antonio Pimenta Machado, o melhor presidente da História do Vitória e um dos grandes presidentes da História do nosso futebol, dizia em entrevista ao jornal “O Jogo” que nos vinte anos posteriores à sua saída da presidência (em 2004) nunca mais se tinha feito uma obra no Vitória. Nem no estádio nem no complexo desportivo com o seu nome.
É triste mas é verdade.
Convirá aqui recordar que o Vitória foi o primeiro clube português a construir o seu complexo desportivo, inspirado no Milanello do A.C. Milan, que à época era uma estrutura moderna e que permitiu condições de trabalho incomparáveis ao futebol profissional e ao futebol de formação num tempo em que nenhum outro clube português dispunha de algo semelhante.
Depois o tempo andou.
Benfica, Porto, Sporting, Braga, etc, construiram os seus complexos desportivos, modernos e funcionais, e hoje qualquer um desses clubes tem melhores condições de trabalho para as suas equipas de futebol do que o Vitória que parou no tempo e nada mais fez em termos patrimoniais.
Seria moroso referir aqui todas as razões que contribuiram para essa parilisia mas há três que por essenciais ajudam a explicar essa estagnação tão lesiva dos interesses do clube.
A primeira é que nas direções que se sucederam às de Pimenta Machado ,lideradas por Vitor Magalhães e Emilio Macedo,o investimento patrimonial não foi prioridade nem sequer opção porque a aposta foi toda para o investimento desportivo.
A segunda é que as direções que sucederam a essas , lideradas por Júlio Mendes, encontraram uma situação financeira tão degradada que o pouco dinheiro que havia era necessário para compromissos mais urgentes e o crescimento patrimonial teve de ficar para trás pese embora nos últimos anos de mandato tenham sido feitas algumas pequenas intervenções no edificio sede reconvertendo-o para funções diferentes das até então lá exercidas.
Com Miguel Pinto Lisboa, que sucedeu a Júlio Mendes, parecia ter chegado o tempo de o Vitória dar um novo salto em frente em termos de crescimento patrimonial e modernização de instalações.
É dele o projecto do mini estádio, absolutamente essencial para a equipa B e os sub 19 terem o seu espaço de competição nos jogos em casa, bem como o início da remodelação e construção de novos balneários mas a derrota nas eleições de 2022 fez parar por completo o projecto desconhecendo-se quando e se vai ser reatado.
Ou melhor desconhece-se o quando porque o se não é hipótese.
Mas há uma terceira razão, e muito importante, para explicar essa paragem no crescimento patrimonial do Vitória.Que é o facto de a Câmara Municipal de Guimarães andar a brincar com o clube desde pelo menos 2010.
Antes disso, já se sabe, tudo que se fez em prol do património do Vitória nomeadamente a modernização do estádio em várias etapas (novas bancadas, iluminação, novos balneários) foi sempre à força, sempre debaixo de pressão, porque por vontade própria do munícipio nada teria sido feito.
Foram precisas manifestações de rua dos associados, foi precisa uma pressão brutal e continua de Pimenta Machado, foi preciso a FPF dar a Guimarães a honra de ser uma das sedes do Mundial de sub 20 de 1991 e do Euro 2004 para as coisas se irem fazendo mas sempre pela bitola do mínimo possível (basta atentar na cobertura das bancadas que deixa o primeiro anel a descoberto) e sempre com o município reagindo à pressão e nunca agindo como força motora do crescimento.
A partir de 2010 e depois de recusar um projecto do Vitória, apresentado ainda na direção de Emílio Macedo, para construção de uma piscina e de dois ginásios em terrenos do clube que eram essenciais para o desenvolvimento das modalidades, a Câmara não fez literalmente mais nada que não fossem promessas não cumpridas e apoios não efectivados.
Em que se insere o longo e fastidioso “romance” de um novo complexo desportivo destinado apenas ao futebol profissional que pelas promessas camarárias devia estar concluído em 2018 mas para o qual não há, passados seis anos, nem terrenos nem projectos!
Só promessas.
E por isso enquanto clubes competidores directos , de que o Sporting de Braga é no momento o maior exemplo , tem crescido patrimonialmente de forma acentuada com os inevitáveis reflexos desportivos positivos o Vitória, que noutros tempos era o primeiro do país nessa matéria, foi ficando para trás e vegeta hoje num limbo que coloca seriamente em causa a sua competitividade futura nos patamares que são os seus desde há muito e dos quais é imperioso que não desça.

P.S. Notícias vindas a público dão conta de negociações entre a actual direção do Vitória e a Câmara Municipal de Fafe para que o futuro complexo desportivo seja construído nesse município vizinho. Por mim nada a opôr se isso se vier a concretizar. Benfica,Porto e Sporting também tem os seus noutros concelhos e isso em nada obstou ao seu sucesso.
O Vitória continuar dependente do desinteresse absoluto da Câmara de Guimarães é que é impensável e inaceitável.

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