O meu artigo desta semana no jornal digital Duas Caras.
Neste Portugal do século XXI permanecem ainda alguns resquícios do passado não muito distante,alguns tabus e preconceitos que há muito perderam não só a razão de ser como o seu tempo histórico.
Neste Portugal do século XXI permanecem ainda alguns resquícios do passado não muito distante,alguns tabus e preconceitos que há muito perderam não só a razão de ser como o seu tempo histórico.
Um desses preconceitos é a fúria anti regionalização que
atravessa transversalmente a sociedade portuguesa.
Recordemos,embora ás vezes seja incómodo,que a
regionalização faz parte não só da Constituição da República como também dos
programas de PSD,PS e PCP entre outros, o que se suporia como fundamental para que
há muito estivesses instituída.
Mas não está.
Por falta de vontade política de PSD e PS por um lado,mas
essencialmente pelos tiques centralistas de grande parte da nossa classe política.
Em 1998,aquando do referendo sobre a mesma,tudo foi feito
ao contrário.
Começou-se a discussão pelo mapa,pelas partilhas de
território,pelos interesses dos barões socialistas (especialmente a Norte) e o
povo,que de estúpido nada tem,começou a perceber que lhe queriam vender
negócios sobre a forma de reordenamento do território.
Disse claramente não !
E fez bem.
O problema,o verdadeiro problema,é que já nessa altura era
tarde para efectivar uma verdadeira regionalização.
De lá para cá nada foi feito.
O PSD,quando no governo,embarcou naquela verdadeira
tragicomédia chamada descentralização sobre a forma de áreas
metropolitanas,comunidades urbanas e comunidades intermunicipais.
Criou dúzias de novos orgãos,retalhou distritos,dividiu
populações,criou problemas onde eles não existiam.
Espantosamente,numa altura em que o PS está no governo e
hesita á volta da regionalização,o PSD em vez de erguer as bandeira dessa
verdadeira e estrutural reforma,insiste na via
da tal descentralização com o argumento de que o povo não compreenderia
a mudança de posição nessa matéria !!!
Meu Deus o povo já compreendeu tantas mudanças de posição
noutras matérias,que neste caso não só compreenderia como até premiará
eleitoralmente o partido que tiver a coragem de a levar avante.
Mas o conservadorismo tem destas coisas; o medo de ousar,de
arriscar ,de ser reformista na boa tradição social democrata que vem de
Francisco Sá Carneiro,tolhe a quase totalidade da classe dirigente do partido.
E transmite-se para as bases.
E por isso considero que há alturas em que os lideres políticos
devem assumir as suas responsabilidades.
E existem assuntos que por mais que desagradem não podem
ser metidos debaixo da carpete como se de pó se tratassem.
É o caso da Regionalização.
Na qual o PSD anda a deitar "bolas fora" desde há
muito muito tempo a esta parte.
O PSD é na sua essência um partido regionalista.
Faz a regionalização parte da sua matriz ideológica,do seu
programa,de sucessivas propostas eleitorais.
Foi assim desde Sá Carneiro,foi assim com Cavaco Silva que
enquanto primeiro ministro fez aprovar a lei quadro das regiões
administrativas.
Mas,por razões tácticas da altura, o partido então liderado
por Marcelo Rebelo de Sousa foi pelo não no referendo de 1998 (passaram 20 anos
!) posição que viria a obter a concordância maioritária dos portugueses.
Muito por força,é bom recordá-lo,da gestão desastrada que o
governo de António Guterres e o PS fizeram de todo o processo.
Passou muito tempo. Demasiado tempo!
E por isso mesmo o PSD não pode deixar cair a bandeira da
regionalização.
Porque ela vai fazer-se, mais dia menos dia mais ano menos
ano, e não podem ser outros a estarem na primeira linha dessa reforma
estrutural.
Esta é uma matéria demasiado importante, para o PSD e
essencialmente para Portugal,para poder ficar dependente das convicções ou
estados de alma do líder do partido seja ele quem for.
É uma questão em que todo o partido deve pronunciar-se.
Os militantes devem ser ouvidos, em referendo interno, numa
questão tão importante para que o partido possa definir de uma vez por todas se
quer a regionalização e caso a queira se ela fará parte das promessas para
cumprir do seu próximo programa de governo.
Se o partido, por força da opinião expressa dos militantes,
quiser deixar cair a regionalização dos seus princípios programáticos então isso
será mais um forte motivo para que seja convocado um congresso extraordinário
para discutir especificamente programa e estatutos.
Não fazer nada nesta matéria será sempre e em qualquer dos
casos a pior das opções.
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