É de todos bem conhecido o quadro em que se move o nosso desporto em
geral mas muito particularmente o futebol como a modalidade que a larga
distância merece o interesse de uma esmagadora maioria dos portugueses.
Há três clubes a que de forma mais ou menos se parola se chama os “grandes”
e depois todos os outros com dimensões diferentes mas que se encontram em
patamares competitivos que só quando o “rei faz anos” lhe permite incomodarem
os tais três que são “donos disto tudo”.
É certo que nalgumas modalidades, como o voleibol com o Sporting de
Espinho ou o andebol com o ABC, existem clubes que conseguem de forma eficaz
contrariar o predomínio dos três do costume e ganharem de forma consequente
campeonatos e taças mas são de alguma forma a excepção que confirma a regra.
Regra que no futebol tem pouquíssimas excepções.
Em títulos apenas Belenenses e Boavista (e apenas por uma vez)
conseguiram até hoje quebrar o monopólio embora clubes como os dois Vitórias, o
Braga e a a Académica tenham andado lá perto enquanto em Taças de Portugal (uma
competição apesar de tudo muito mais...democrática) já diversos clubes as
conseguiram ganhar embora sem quebrarem o claro predomínio dos três clubes que
já sabemos.
Em Portugal há hoje, abaixo de Benfica,Porto e Sporting, muito pouco
clubes que tenham possibilidades de ambicionarem um salto qualitativo que os
projecte para patamares próximos desses três colocando-os em posição de com
eles discutirem títulos (mais difícil) e apuramentos para a Liga dos Campeões
(menos difícil) de forma a equilibrarem um futebol cronicamente desequilibrado
e transmitirem mais emoção e competitividade às competições nacionais.
Com Belenenses e Boavista longe de tempos de glória que dificilmente
voltarão, com o Vitória de Setúbal mergulhado em crónicos problemas financeiros
que tem inegável repercussão na valia das suas equipas, com a Académica a jogar
no segundo escalão e sem uma correspondência em termos de adeptos ao seu
historial, restam apenas dois clubes cujo potencial de crescimento lhes permite
ambicionar darem o tal salto para o patamar acima.
Vitória Sport Clube, de Guimarães, e o Sporting Clube de Braga.
Os dois velhos rivais minhotos cuja rivalidade vai muito para lá da
mera rivalidade entre dois clubes desportivos porque é nos tempos correntes a
face mais visível de uma rivalidade milenar entre duas comunidades vizinhas.
Ambos tem, de há muito, essa pretensão de crescerem e disputarem com
os “donos disto tudo” os lugares cimeiros das provas nacionais, de conquistarem
títulos e troféus, de serem primeiras figuras das nossas competições.
Sendo verdade que ambos já conseguiram de quando em vez incomodar os tais três (ainda em tempos
recentes o Vitória ganhou uma Taça ao Benfica e o Braga outra ao Porto), que
ambos já disputaram em tempos diferentes o titulo quase o vencendo, é
igualmente verdade que quer um quer outro estão ainda bastante longe de poderem
de forma consolidada serem outsiders constantes desses três clubes.
É certo que nesta última década o Braga fez bastante mais por isso do
que o Vitória, como o provam as classificações na Liga e os percursos europeus
de um e de outro, restando aos vitorianos a parca (mas importante apesar de
tudo) consolação de em termos de envolvimento afectivo com a comunidade e em
termos de número de adeptos continuar claramente à frente do seu velho rival.
Mas o percurso ascensional do Braga nesta década e o extraordinário
apoio popular em torno do Vitória (que permite aos vitorianos dizerem que no
D.Afonso Henriques todos são pequenos excepto o Vitória) sendo importantes são
ainda assim insuficientes para garantirem o tal salto para o patamar acima.
É preciso mais.
E esse mais terá de passar inevitavelmente por alguns parâmetros.
Reforçar a influência nos orgãos dirigentes do futebol como a Liga e a
Federação para que dessa forma possam contrariar aquilo que de há muito existe
a criar desequilibrios no nosso futebol a favor dos tais três.
Conquista de posições na comunicação social que permitam que esses
clubes também tenham opinião nos espaços de comentários das televisões que
estão actualmente (e desde sempre aliás) entregues a comentadores “vermelhos”, “azuis”
e “verdes” que na fiel interpretação das cartilhas condicionam muita coisa.
Parcerias internacionais que lhes permitam dispor nas suas equipas, em
termos quantitativos e qualitativos, de jogadores a que de outra forma nunca
poderão chegar.
Galvanização das suas massas adeptas em torno de projectos desportivos
sólidos, ambiciosos e ganhadores,por etapas, que lhes permitam aumentar o
número de adeptos assim contrabalançando os desequilíbrios actualmente
existentes.
E exigindo, juntamente com todos os outros desfavorecidos, uma
distribuição muito mais justa dos dinheiros da televisão a exemplo do que
acontece noutros países.
Por esse caminho acredito que Vitória e Braga conseguirão, mais dia
menos dia, contribuir para uma “democratização” do nosso futebol e para que
este se torne,consequentemente, mais competitivo, mais verdadeiro e mais
atractivo.
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