segunda-feira, junho 26, 2017

Interrogações

O meu artigo desta semana no zerozero

Agora que Portugal já cumpriu os “serviços mínimos” na taça das confederações a apurou-se para as meias finais como vencedor do seu grupo, em que era aliás favorito, podem colocar-se algumas questões sobre critérios das quais não virá mal ao mundo nem beliscam a nossa selecção como principal candidata a ganhar a prova.
Selecção, tal como o seu nome indica, é o apuramento daqueles que em cada momento dão as melhores garantias de poderem representar uma equipa no topo da forma e assim contribuírem para que essa equipa tenha sucessos nas provas que disputa.
E seleccionar, tarefa que nada tem de fácil porque por mais justo que cada seleccionador procure ser acaba ser por neste ou naquele caso ser...injusto, significa isso mesmo, escolher os melhores a cada momento e para cada jogo/competição sem olhar a idade, clube ou...empresário que parece ser um critério não assumido destes tempos modernos!
Naturalmente para que essa escolha seja criteriosa, justa, o mais defensável possível isso implica que o seleccionador durante um período de tempo razoável observe jogadores em diferentes momentos de competição, avalie o seu estado de forma físico, técnico e psicológico em cenários diversos e depois escolha em função dessas observações e do tipo de jogo/competição para que necessita dos jogadores.
E por aqui começam , então, as interrogações sobre alguns dos seleccionados que Fernando Santos levou para a Rússia afim de disputarem esta taça das confederações.
Desde logo pelos guarda redes.
Como avaliou o seleccionador o estado de forma de Beto e José Sá se pura e simplesmente não jogaram durante toda a época no campeonato?
Ou os três jogos de Beto e o jogo único de José Sá permitiram avaliar de forma consistente o seu estado de forma?
Foram convocados porquê? Palpite?
Sem me querer imiscuir minimamente no trabalho do seleccionador não deixo de lembrar que muitos outros guarda redes portugueses competiram assiduamente durante toda a época.
Depois Eliseu.
Suplente do Benfica,que apenas jogava nos impedimentos de Grimaldo que foi sempre primeira escolha de Rui Vitória, foi convocado porquê?
Quando é patente para (quase) todos que o seu prazo de validade como jogador da selecção está ultrapassado já há algum tempo.
Porque não Antunes, ou até Tiago Pinto a quem nunca foi dada uma oportunidade, que são titularissimos nos seus clubes , mais novos que Eliseu e com rendimento seguramente melhor do que este lateral benfiquista?
Porquê? Por ser benfiquista? É que não encontro outra explicação.
E o mesmo se pode dizer de Nelson Semedo que é um jogador de talento, com um futuro prometedor (embora dificilmente tanto como alguns jornais desportivos lisboetas gostam de vaticinar...)mas que em nada tem demonstrado neste final de época merecer mais a convocatória do que ,por exemplo, João Cancelo que foi “relegado” para os sub-21 quando em boa verdade quem lá devia estar era Nelson Semedo e Cancelo na selecção A.
E isto para já nem falar de Bruno Gaspar que fez uma grande época, e a terminou num momento superior de forma, mas jogando no Vitória e não tendo o empresário “certo” obviamente que não podia ser opção para a selecção…
É que no seu caso, como em tempos no de André André, por-se-ia logo o problema do “...e quem tiro?...” que é um tipo de problema que nunca afecta as convocatórias de jogadores de Benfica, Porto e Sporting como é sabido.
Voltando a Nelson Semedo, e tal como em Eliseu, não duvido que o peso da camisola clubística pesou mais que o momento de forma.
E se as interrogações quando à convocatória são estas outras ficam quanto às opções tomadas durante os jogos até agora efectuados.
Creio que Fernando Santos tem estado bem na escolha das equipas, e na rotação inteligente que tem feito dos jogadores com vista a poupá-los ao desgaste de muitos jogos em poucos dias, mas é precisamente por compreender e aplaudir essa lógica que não consigo entender algumas opções feitas neste último jogo face à Nova Zelândia, o mais fraco dos adversários que Portugal encontrou e encontrará nesta competição, e que poderão ter influência nos próximos jogos.
Essencialmente as opções por Pepe e Ronaldo.
Pepe tinha feito os dois primeiros jogos completos, tem 34 anos, tinha visto um cartão amarelo.
Será que para ganhar à Nova Zelândia era indispensável Pepe jogar?
José Fonte ou Luís Neto não dariam conta do recado?
O que aconteceu?
Pepe que é física e tecnicamente muito forte, mas mentalmente nem tanto, fez uma falta absolutamente estúpida , a meio campo e num lance sem qualquer perigo para a nossa baliza, e viu um amarelo que o impedirá de jogar as meias finais.
Sendo certo que contra a Nova Zelândia nunca faria falta é muito provável que face ao próximo adversário possa fazer.
Porque jogou?
E Ronaldo?
Claro que ter um jogador desta categoria e sentá-lo no banco até deve “doer” e percebo isso.
Mas era essencial ele jogar de início para ganharmos à Nova Zelândia?
Não seria preferível tê-lo poupado e levá-lo ao relvado só se fosse absolutamente indispensável ao invés de lhe por em cima mais uma hora de jogo e sujeitá-lo a uma lesão que tudo complicasse?
É que mas meias finais, e depois desejavelmente na final, Ronaldo será certamente essencial.
É por Portugal estar a ganhar, se ter apurado para as meias finais e ser o principal favorito a ganhar a prova, que deixo aqui estas interrogações quando seria certamente mais fácil alinhar no coro nacional de aplausos.
Mas acredito que nalguns casos perguntar ajuda mais que aplaudir.

P.S. E para não complicar nem falei de William Carvalho. Sempre convocado, quase sempre titular, coqueluche da imprensa desportiva lisboeta que o coloca todas as semanas nos maiores clubes do mundo e nos melhores campeonatos da Europa mas que continua no Sporting ano após ano.
Talvez porque nesses campeonatos e nesses clubes se exija que um jogador tenha boa técnica ( e William tem) mas também que tenha velocidades diferentes do parado e do devagar.
E isso William não tem.
Mas tem lugar cativo na selecção. E isso é tão estranho que só desfarei a minha curiosidade do porquê no dia ( se esse dia acontecer) em que ele seja transferido e gere as mais valias para os habituais beneficiários que há muito as esperam.

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