quarta-feira, maio 09, 2012

O Alargamento

Escrevi este artigo no site http://topfutebol.com/
Ciclicamente no futebol português reaparece a questão do alargamento das competições profissionais de futebol.
Seja para resolver imbróglios jurídicos (quem não se lembra do caso Mapuata), seja para cumprir estratégias de uns quantos, seja até para dar vazão a promessas eleitorais a verdade é que lá se vão fazendo alargamentos de quando em vez.
Seria preferível, se seria, que esses alargamentos ou posteriores “emagrecimentos” se fizessem em função de quadros competitivos realistas e adequados ao futebol que temos em vez de corresponderem a impulsos de ocasião que em nada resolvem a crónica falta de competitividade das nossas equipas quase sem excepção.
Pessoalmente sou favorável a um campeonato da 1ª divisão com 18 equipas.
Sempre fui.
Entendo ser o número adequado á realidade do futebol português que permite um calendário bem preenchido e uma competição sem hiatos significativos a exemplo do que se faz um pouco por toda a Europa.
Em Portugal treina-se muito e joga-se pouco.
Bastará atentar na quadra natalícia para perceber essa realidade.
Enquanto na Europa do futebol competitivo se usa essa época do ano para realizar várias jornadas (e já nem falo do “boxing day” inglês), aproveitando até a maior disponibilidade dos adeptos para irem ao futebol, em Portugal para-se o campeonato duas ou três semanas com o intuito único de permitir que alguns protagonistas possam ir passar uns dias ao Brasil ou Argentina que isso de profissionalismo por cá tem muito que se lhe diga!
Por isso não vejo nenhum inconveniente no alargamento para 18 clubes.
Significa mais quatro jornadas de competição (mais um mês de futebol), mais receita televisiva para os clubes, mais bilhetes vendidos e maior pontualidade no pagamento das quotizações por parte dos adeptos.
Significa também mais despesa, é verdade, em termos de deslocações e estadias mas é uma despesa facilmente diluível no acréscimo de receitas.
Sabemos todos que há clubes que são contra o alargamento.
Porque participam em competições europeias até fases adiantadas das provas, porque tem muitos jogadores selecionáveis em Portugal e noutros países, porque tem a saudável embora irrealista ambição de ganharem todas as provas em que participam.
É uma posição respeitável.
Mas esses clubes não jogam sozinhos na Liga.
E há uma maioria cujos interesses são diferentes (como se percebe nesta batalha surda pela negociação dos direitos televisivos), cuja sustentabilidade está cá e não na Europa e cujos direitos tem de ser respeitados.
Os campeonatos maiores da Europa (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha) são tremendamente competitivos e os principais clubes sujeitos a cargas de esforço bem maiores do que os principais clubes portugueses.
E não se queixam nem defendem a diminuição dos clubes nos seus campeonatos.
Porque sabem que o futebol é hoje um negócio cujo sucesso depende, e muito, da forma e periodicidade com que é visto pelo mercado de consumidores, de patrocinadores e de entidades financeiras.
Por cá temos de nos adaptar a essa realidade.
E interiorizar, de uma vez por todas, que o problema não está no maior número de equipas mas sim na sustentabilidade do negócio futebol e no realismo com que (não) são feitos os orçamentos dos clubes.
É aí que tem de ser feito a “revolução” de que o nosso futebol tanto precisa.
Antes que seja tarde!
P.S. Defender um campeonato de 18 equipas, e um alargamento devidamente programado, não significa concordar com a forma como as coisas estão a ser feitas.
Que abrem precedentes perigosos quanto à verdade desportiva das competições.

12 comentários:

Nuno Leal disse...

Eu discordo. Basta atentar na classificação ano após ano e percebemos que há 3 campeonatos: o dos 4 a 6 primeiros (depende do ano), o dos 5ª a 10º lugar e os outros que simplesmente lutam para não descer. Aumentar o número de clubes não vai trazer (como nunca trouxe) competitividade, porque os campeonatos dos primeiros e do meio da tabela não mudam, só acrescentará clubes para a luta da descida que em vez de 6 passam a 8... Continuo a achar que para a realidade futebolística do país, era melhor um campeonato a 12, mas percebo que tenha de ter mais alguns, pelo que os 16 é o máximo que entendo como admissível.
Alegar que mais 4 jogos são mais receitas, parece-me irreal: as "receitas" acontecem nos jogos contra os grandes, não será contra os novos pequenos que se irá fazer grande receita e atendendo a que boa parte das receitas de bilheteira são feitas logo em Junho com bilhetes de época, não me parece que daí advenha muito dinheiro. Apenas a parte televisiva poderá trazer mais receita, mas isso deve-se a mais 4 jogos dos grandes que são quem mobiliza as maiores audiências e, por isso, publicidade, e mais uma vez não devido aos pequenos que chegam da 2ª liga.

Anónimo disse...

concordo com o post.
O ponto mais relevante tem a ver com a necessidade de competição para permitir o aumento de receitas e a fidelização dos adeptos.

luis cirilo disse...

Caro Nuno:
Há tres clubes em Portugal que estão a precisar que lhes aconteça o mesmo que a dois de Espanha.
Que os outros todos os mandem jogar sozinhos.
A questão das receitas tem a ver com verdade desportiva, horários de tranmissão dos jogos,calendarização adequada. E os chamados grandes ganham e perdem campeonatos a jogarem com os outros não entre si

Anónimo disse...

Penso que a antiga direção era contra esta proposta uma vez que apoiou o outro candidato...
Vejo que neste assunto mantêm a sua coerência, ao contrário de outros, agora o tempo dirá se interesses mais altos não irão mudar esta sua opinião.
Recordo-me bem do papel que você defendia para o VSC nesta "luta" de poderes instalados, a ver vamos se essa "opinião" se vai manter...

Anónimo disse...

Qto à questão do famoso alargamento…só tenho a dizer, q isto só acontece neste pais, pois só temos dirigentes medíocres e vigaristas.E antes de dizer algo mais, sou adepto de um campeonato com entre 10 a 12 equipas a 4 voltas. Mas c os dirigentes q comandam os destinos dos clubes tugas, isto nunca irá acontecer, pois preferem a mediocridade à competividade e maior encaixe de receitas.Qd vejo dirigentes a discutir, e a tentar alterar as regras do jogo, no final do mesmo jogo, está tudo dito do nível de dirigismo que anda por cá…Depois pegando no que escreve “Significa mais quatro jornadas de competição (mais um mês de futebol), mais receita televisiva para os clubes, mais bilhetes vendidos e maior pontualidade no pagamento das quotizações por parte dos adeptos.”,bem fico preocupado com o futuro do meu clube.Um vice-presidente afirmar isto, bem, só pode estar alucinado, ou fora totalmente da realidade do futebol português. Mais receita televisiva? Ora bem, quem anda a pedir antecipado, com ou sem alargamento, receita não entraria nenhuma. Mas passando essa questão de pormenor, não era por mais 4jogos que as receitas iriam aumentar. A Televisão quer audiência, quer share altos, não seria com o alargamentos e consequentemente com mais 4 jornadas que a TV iria lucrar. Não era um, e isto é um simples exemplo, Moreirense-Aves, que iria aumentar qualquer que fosse a receita da TV para os clubes. Mais bilhetes vendidos? Bem, se formos olhar à média em Portugal que anda pelas ruas da amargura, os 4 jogos a mais iria ainda provocar mais prejuízo que em termos de receita de bilhetes vendidos. Isto vindo de um vice-presidente de um clube é muito preocupante. E maior pontualidade no pagamento das quotizações? Bem, quem é sócio pagante com 16 como com 18 equipas…ou por mais 4 jornadas os clubes querem aumentar o valor das suas quotas? Ridículo argumento para um possível alargamento. Se querem dar competividade, maior receitas e maior espetáculo a esta pobre liga é diminuir para 12 clubes no máximo e fazer um campeonato a 4 voltas. Quer melhor opção para aumentar as receitas? Que melhor opção para ter mais espectadores nos estádios? Que melhor opção para ter os clubes sempre a competir sem paragens Natalicias e mais não sei o quê? Quem me dera ter em Guimarães 2 vezes por época os ditos clubes maiores…Claro, em Portugal os dirigentes pensam individualmente, pensam no bem estar da sua equipa, e não querem ver o seu clube numa possível 2 Liga…e nada como continuar a viver acima das suas possibilidades, e o resto que se lixe. Queremos é o nosso clube na 1Liga custe o que custar.

Anónimo disse...

(Continuação)
Depois fala na surda renegociação dos direitos televisivos. Se anda surda só se for para si, está mais claro que alguma água que este alargamento que alguns clubes querem é só para reforçarem a sua posição e a sua força numa futura negociação. 80% dos clubes em Portugal pensa que a TV é o seu Euromilhões. Que a mesma irá pagar as suas borradas cometidas ao longo da época, e quando o dinheiro não chegar, a Tv salva tudo. É o maior erro destes dirigentes, que se convenceram que a TV os vai salvar. E depois quando se fala em negociação colectiva, fico confuso, pois existem clubes que já têm contratos assinados até 2020 ou perto disso, outro que anda a negociar e a tentar tirar o maior proveito dessa negociação. Onde se encaixa então essa negociação? Vai ser uma negociação com os restantes, em que os restantes em termos do que a TV quer, audiências pouco ou nada dá? E mesmo que exista uma futura negociação colectiva, quais os critérios para tal negociação? Só um ingénuo acredita que um Vitoria iria receber o mesmo que um dos ditos grandes. Os clubes em Portugal, e nomeadamente os seus amadores dirigentes, parem de pensar em ganhar dinheiro só da TV e tentar salvar os seus clubes da falência com essa receita, e comecem a olhar isso sim para o adepto. O adepto se tiver um campeonato competitivo, cheio de emoção, vai ao estádio, paga o seu bilhete ou a sua quota…e mais sócios poderão entrar para o clube. E esses amadores dirigentes comecem a pensar em outras receitas…já agora como andam as rendas e contratos das bancadas do vitória? Se bem me recordo, um projecto andava para não sei bem onde, um dos contratos está a acabar, e parece que não vai ser renovado…Antes de pensar em alargamentos e Tvs os dirigentes dos clubes Tugas que parem para pensar, e pensam em primeiro lugar se querem uma liga cada vez mais fraca, falida em vez de uam liga forte que atraia cada vez mais investidores, mais adeptos, etc…
Pedro

Nuno Leal disse...

Caro Cirilo, não querendo dizer mal dos pequenos, mas a verdade é que dos pouco mais de 3 milhões de espectadores das 29 jornadas já jogadas, cerca de 1,8 milhões (ou seja, mais de metade) foram nas casas dos 3 grandes. E se juntarmos o Braga e o "seu" Vitória teremos cerca de 2,2 milhões em 3. Ou seja, de facto, quem mobiliza são os 3 grandes ou, vá lá, os 5 do costume - os restantes 11 clubes nem 1/3 dos espectadores mobilizam (e mesmo desses, muitos são os desses 5 maiores que enchem os seus pequenos campos nesses jogos).
Vamos a um caso concreto: se este ano aumentarem para 18 clubes, poderiam subir o Aves se o Moreirense subir e, vamos supor, que na liguilha o Feirense se segurava se ficasse em 15º no próximo domingo.
Qual a receita que o Vitória iria ter por jogar dois jogos em casa (um contra o Aves e outro contra o Feirense) em comparação com um campeonato a 16 onde eles não entrariam?
O Vitória-Feirense deste ano teve 8.801 espectadores... Quantos bilhetes de época vendidos foram usados nesse jogo? E quantos foram os bilhetes vendidos, de facto, para esse jogo? Valeu uma boa receita? Pergunto-me até se terá dado para pagar o policiamento, os bombeiros, os stweards, a iluminação e o estágio da equipa no hotel... duvido muito...

Agora é evidente que os grandes não podem jogar sozinhos. Isso já o fazem, mais ou menos encapotadamente, na Liga dos Campeões. Mas acredito que, mais ano, menos ano, os 3 grandes acabem por deixar a Liga Portuguesa ou reste apenas a equipa B - acho que a tendência é que um dia a Liga dos Campeões seja um pouco à imagem da NBA, uma liga fechada e com equipas de vários países. Apenas espero que esse dia esteja muito longe porque essa será a morte do futebol português...

luis cirilo disse...

Caro Anonimo:
Claro que é precisa mais competição. Reduzindo aos custos e aumentando as receitas. O Vitória vai fazê-lo.
Caro Anónimo:
Vai manter-se de certeza absoluta. Aliás devo dizer-lhe que Rui Vitória também é favorável ao alargamento.
Caro Pedro:
Da sua anónima argumentação aproveita-se o desejo de ver em GUIMARÃES os chamados grandes duas vezes por época.
Está todo o resto percebido.
Embora não deixe de registas duas coisas: A dificuldade em defender os seus argumentos sem cair na tentação de ridicularizar os argumentos dos outros e a profunda ignorância sobre a real situação do Vitória.

Anónimo disse...

Profunda Ignorancia sobre o Vitória? Bem, talvez esteja por dentro de mais assuntos do Vitória que o proprio vice presidente...não vou alongar muito mais...mas deixo só um cheirinho...até uma das receitas que o vitoria tinha, estão penhoradas pela segurança social...
Procure primeiro estudar muito bem todos os dossiers do clube, depois falamos...
Pedro

luis cirilo disse...

Caro Nuno:
A realidade do futebol português terá de mudar de forma substancial.
Em termos orçamentais à cabeça.
É evidente que coma actual estrutura de custos do clubes é impossivel a subsistência de uma boa parte deles.
Mas sejamos igualmente claros quanto aos chamados grandes: se um destes dias a troika encostar a banca à parede com o crédito dado a esses três clubes desconfio que de facto apenas vão sobrar as respectivas equipas B.
Porque as outras não vão para nenhuma Europa.
Desaparecem pura e simplesmente.
Caro pedro:
Agradeço muito o seu conselho. E tenho procurado por-me por dentro da realidade do clube. Claro que estou sempre disposto a aprender com quem sabe mais do que eu...

Bruno disse...

Quanto ao que foi dito em cima concordo com o senhor Nuno Silva Leal.
Se olharmos para toda a argumentação desde a competitividade até às receitas para os clubes, nomeadamente as televisivas, acho que o alargamento é a pior coisa que podem fazer à Liga.
Eu adoro futebol e ainda mais o Vitória e posso dizer que em termos de entretenimento, infelizmente, o futebol do Vitória é aborrecido (viu-se ontem) e toda a gente sabe que o país pára para ver um futuro Gil Vicente - Moreirense.
Em termos de receitas de televisão caminhamos a passos largos para termos cada vez mais adeptos de sofá (pegando outra vez no jogo de ontem - nós temos muito mais lugares anuais vendidos do que pessoas que compareceram ao estádio apesar dos pedidos). Mas isso também serve os interesses dos outros 13 clubes (Vitória incluído) pois é preferível ter uns milhares da Sport TV do que o estádio cheio.
É a minha humilde opinião.

luis cirilo disse...

Caro Bruno:
A questão está ultrapassada.
Embora o confronto entre publico no estádio e publico na televisão continue na ordem do dia