
Para nos distrairmos um pouco da campanha eleitoral vitoriana vamos contar hoje aqui uma história engraçada.
E exemplar.
Passada há muito.muito tempo numa galáxia distante como em “A Guerra das Estrelas”.
Era uma vez uma velha propriedade que passava de geração em geração de uma enorme família composta por pessoas das mais diversas origens e formações.
Ao longo dos anos a subsistência da propriedade baseava-se em culturas diversas tendo uma como dominante e as outras, acessórias, ajudavam a dar dimensão e reconhecimento ao que na propriedade se fazia.
Como qualquer propriedade começou do zero e foi crescendo, ganhando novos espaços e benefícios diversos que muito orgulharam gerações e gerações dos que contribuíram para o seu crescimento.
E foi-se modernizando.
Melhorando a cultura principal, melhorando as culturas acessórias, competindo em bons mercados com outras propriedades maiores, mais bem apetrechadas e com muito mais gente a trabalhar nelas.
Depois de sucessivas gerações de feitores que se foram revezando na condução do destino da propriedade quis o destino, e os seus imensos proprietários é bom que se diga, que um feitor tenha estado muitos anos à frente da exploração do negócio.
Foram anos de crescimento da propriedade, dos seus terrenos e edifícios, do apuramento dos produtos nela produzidos.
Ás vezes, porque o tempo é assim mesmo, lá vinham anos menos bons em que as colheitas não correspondiam ao esperado e o feitor lá tinha de ir ao banco buscar dinheiro para compor o orçamento da propriedade.
Mas as coisas andavam.
Até que um dia o feitor, já com demasiados anos à frente da propriedade e misturando o que não era misturável, teve de ir embora face á insatisfação dos proprietários.
E veio outro feitor.
Muito bem reputado pela boa gestão de uma pequena propriedade vizinha mas que em ordem de grandeza, de exigência e de mercados onde os produtos competiam nada tinha a ver com a propriedade de que falamos.
E se o feitor anterior, por força de alguns percalços já tinha deixado a conta de gestão ligeiramente deficitária, com este começou o descalabro.
Desconhecedor da realidade, e iludido pela dimensão da propriedade, começou a gastar acima dos rendimentos em diversas áreas.
Adubos caros mas desadequados, sistemas de rega sofisticados, contratação de trabalhadores sem necessidade aumentando o quadro de pessoal e os custos de exploração, muita parra e pouca uva.
Que no início, e perante a satisfação dos proprietários, ainda deu alguns resultados e uma primeira colheita apreciável.
Mas o feitor, de facto, não estava preparado para aquilo.
E a segunda colheita foi tão desastrosa que a propriedade perdeu o seu lugar de venda no principal mercado e teve de ir exercer a sua actividade para um mercado secundário com todos os custos inerentes.
E aí teve a propriedade de recorrer cada vez mais à banca como forma de financiar a sua actividade.
Dando o seu património como garantia.
Aí os proprietários, já “escaldados” mas não o suficiente como se veria de seguida, trataram de despachar o feitor e contrataram para o seu lugar um ex ajudante dele.
Também ele com experiência de gestão de uma ainda mais pequena propriedade vizinha!
E foi a desgraça total.
No primeiro ano, e aproveitando uma apesar de tudo boa sementeira do ano anterior e um regente agrícola fino como um alho, ainda se conseguiu a sementeira desejada e o terreno ficou bem preparado para a sementeira do ano seguinte.
Que quase pôs propriedade a competir com os seus produtos no principal mercado europeu.
Foi um entusiasmo sem paralelo dos proprietários.
Mas a seguir vieram as asneiras em catadupa.
O feitor rodeou-se de ajudantes mais preocupados com outras propriedades que com eles competiam no mercado do que com a propriedade que tinham de gerir.
Trocaram a cooperativa agrícola que os vinha apoiando com bons produtos por outras que só lhes enfiou” barretes”.
Contrataram trabalhadores agrícolas a esmo sem qualquer necessidade ou critério ao ponto de se pensar que algumas dessas contratações estariam ligadas aos negócios particulares do feitor na área imobiliária.
Começaram a gastar por conta das receitas a auferir ao ponto de venderem as batatas antes de as semearem.
E pese embora em sucessivas reuniões com os proprietários terem sido severamente advertidos a verdade é que continuaram no mau caminho de gastarem mais do que recebiam e de sustentarem isso com o crédito bancário.
Claro que um dia a divida era imensa, a propriedade estava todo hipotecada, e os trabalhadores por mais que trabalhassem não recebiam!
E lá tiveram os proprietários de despedir outro feitor.
Com a ameaça terrível de a propriedade falir e os seus bens serem penhorados.
Já desconfiados com os feitores que lhes apareciam os proprietários resolveram abrir concurso entre eles para ver quem se propunha dirigir a propriedade.
E apareceram dois candidatos a feitores.
Um que se propunha continuar o mesmo caminho, apostar no crédito bancário, no modelo de gestão que tão errado se tinha revelado.
Provavelmente por nada perceber daquele negócio e daquela propriedade que frequentava à muito pouco tempo.
Ou seja á beira do abismo…dar o passo em frente.
Claro que os proprietários fartos de “barretes” não quiseram esse caminho e rejeitaram-no de forma expressiva optando pelo outro.
O outro propunha uma ruptura com esse modelo de gestão, velho de muitos anos, e a racionalização da gestão e do processo produtivo.
Reduzindo despesas, contratando pela certa, produzindo com racionalidade e pagando as dívidas existentes.
Para isso, e considerando que “vão-se os anéis mas fiquem os dedos”, percebeu que a propriedade não gerava receitas suficientes para o seu sustento pelo que era necessário encontrar outras fontes de financiamento que garantissem a qualidade dos produtos, o pagamento dos salários e a viabilidade de todas as culturas.
E “ alugou” a cultura principal a um conjunto de investidores que sem porem em causa a qualidade dos produtos, a gestão da propriedade, ou a titularidade dos proprietários garantiam a viabilidade da propriedade.
Porque das receitas do “aluguer” da cultura principal vinha o dinheiro necessário a pagar as despesas gerais da propriedade, a manutenção e melhoria das outras culturas e o dinheiro para ir pagando aos bancos e desonerando o património hipotecado.
Sem que este fosse minimamente afecto à cultura principal.
Passaram dez anos…
E a propriedade foi um sucesso.
Excelentes colheitas no produto principal, excelentes negócios e até prémios nacionais e internacionais foram conquistados.
As culturas acessórias, fruto de investimentos ponderados, refinaram a qualidade e também elas se tornaram produtos de sucesso com vários prémios arrecadados.
A propriedade tornou-se exemplar na forma como liquidava as suas despesas correntes e pagava atempadamente aos seus trabalhadores.
O feitor e os seus ajudantes preocuparam-se em valorizar os produtos da propriedade, tornando as importações de produtos caros a excepção e não a regra, e apostando na formação total dos seus assalariados.
A divida bancária foi totalmente paga e a propriedade voltou à plena posse dos seus proprietários sem mais ameaças de penhoras ou execuções fiscais…
Os proprietários, cada vez mais por força do sucesso da propriedade, andavam felizes, orgulhosos e exibiam em todo o lado com vaidade o seu estatuto de ligação a esse sucesso empresarial.
E dizem até, os que se recordam melhor desse tempo remoto, que um dia os proprietários constituíram uma SGPS (Sócios Gerem Propriedade Sua) e retomaram a cultura principal aos arrendatários tornando-a novamente plena posse da propriedade.
Foi há muito, muito tempo numa galáxia distante como em “A Guerra das Estrelas”.
Mas é sempre bom contar histórias com final feliz!
Voltaremos à campanha em próximo postagem…
Depois Falamos