segunda-feira, janeiro 09, 2012

Ser Português

Ao dar casualmente com esta fotografia, dos dois melhores jogadores portugueses de sempre (a seguir a Eusébio é claro), ocorreu-me uma reflexão curiosa que tem a ver com eles e com outros mais.
Portugal é um país de emigrantes.
Desde,pelo menos , o tempo das Descobertas.
Aos emigrantes, desde os que deram novos mundo ao mundo aqueles que com as suas divisas tanto ajudaram o país no ultimo quartel do século passado, o país deve muito.
Imenso diria.
Mas porque razão será com eles tão ingrato ?
Porque razão os que ficaram, mas que ficando não se coibiram de usufruir daquilo que os que partiram foram trazendo e mandando, olham sempre para quem emigrou com algum desdém,alguma "superioridade", quase como se fossem portugueses de segunda ?
Foi assim com os que emigraram para França e Alemanha nos anos 50 e 60.
Sobre os quais se contavam anedotas, aos quais se chamavas jocosamente "avecs", dos quais se tinha a má opinião de quem sabe Deus com que dificuldades misturava culturas e respectivas expressões linguísticas.
Foi assim,posteriormente,com os que vieram das ex colónias e a quem se chamava "retornados" (quando muitos tinham lá nascido e boa parte nunca tinha posto os pés na metrópole) como forma de os catalogar e por num estatuto de alguma inferioridade.
É assim com os chamados emigrantes de luxo do futebol português.
Figo, Ronaldo,Danny, Baía, Fernando Couto,Nani,Quaresma,Rui Costa e mais alguns.
Cujas exibições eram e são atentamente seguidas via televisão.
De quem se compram todas as noticias impressas que se publicam sobre eles e famílias,se veêm todos os programas,se compram camisolas e outros artigos de merchandising.
Mas que quando "regressam" para jogarem pelas suas equipas (Barcelona,Real Madrid,Manchester United,Zénit,Lazio,Chelsea,Milan,Inter,etc)são mais vaiados e insultados que qualquer outro jogador dessas equipas.
Tal como com os "avecs" ou os "retornados" os que cá ficaram lidam mal com o sucesso dos que partiram.
Especialmente se esse sucesso se traduzir,como nos futebolistas, em riqueza,mediatismo e outras formas de notoriedade.
De facto há uma forma muito própria de ser português.
E se é verdade que demos novos mundos ao mundo convém não esquecer que Portugal foi ,e vai sendo,feito pelos que ficaram.
Que tem na inveja,muitos deles não todos como é óbvio, um dos traços marcados do seu carácter e forma de ser.
Porque se os que partiram são sucessores de Vasco da Gama os que ficaram tem os "genes" dos "Velhos do Restelo".
Curioso como a fotografia de Figo e Ronaldo inspirou uma reflexão deste género.
Admito que aqui ou ali exagerada e até injusta.
Mas verdadeira no essencial.
Depois Falamos

9 comentários:

Os Pensamentos da Borboleta disse...

Se todos os emigrantes fossem jogadores de sucesso ninguém lhes chamaria "avecs". Infelizmente a mentalidade instalada é de que para merecer respeito não basta estar integrado mas tem de se destacar, daí que Figo e Ronaldo são "embaixadores" de Portugal e o anónimo " António, Manuel.." ,trabalhadores perfeitamente integrados e honestos são "avecs".

Os Pensamentos da Borboleta disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Arconada disse...

O Figo foi e é (pelos vistos) um verdadeiro "pesetero".

Vendeu-se engenheirinho socrátes, e mamou uma pipa de massa...

Para mim, perdeu o valor todo.

Razão, tinham os espanhóis...

luis cirilo disse...

Cara Marisa:
È um bocado isso.
Mas a inveja também é proporcional ao estatuto.
Caro Arconada:
Os espanhois não tem razão nenhuma.
Nem sequer os adeptos do Barcelona clube pelo qual tenho grande simpatia.
O Figo foi um excepcional jogador de futebol e é nisso que o avalio.
No resto tratou da vida dele e fez muito bem. Se tinha uma clausula de 10 milhões de contos e o Real Madrid a pagou o BArcelona só tinha de ficar contente por ter feito o melhor negócio da história do futebol.

Defreitas disse...

O meu Amigo compreende , eu sei, que o seu « post » me tenha merecido uma leitura atenta.

Conheço bem a temática da emigração portuguesa. Sem nunca ter sido um “emigrante” digamos normal, por possuir armas pessoais que me diferenciaram desde a partida da grande massa da emigração portuguesa e mesmo por não ter necessidade de emigrar nessa época dos anos cinquenta e sessenta, se não fora o apelo da liberdade, pude constatar o imenso sofrimento de muitos portugueses para se adaptarem a uma nova língua, cultura e maneiras de viver em terras de França.

E também noutros países europeus e não só, países que por obrigações profissionais visitei frequentemente.

Creio que Jean Paul Sartre analisou melhor que ninguém o tratamento infligido à main de obra estrangeira , 10 anos depois do fim da guerra:

“Para nós, toda verdade, é a verdade toda inteira. E primeiramente, a falência de uma ordem social que impõe uma vida abjecta e por vezes uma morte atroz aos trabalhadores recrutados no estrangeiro.”
Jean-Paul Sartre / 27 de Maio de 1970

As décadas de 50 e 60, foram os anos de chumbo da ditadura, porque nesse período, cerca de dois milhões de portugueses fugiram clandestinamente para o estrangeiro. Tratou-se do maior êxodo e da maior hemorragia humana que alguma vez a História de Portugal conheceu.

Não é estranho que a emigração tenha seguido o mesmo caminho que o vergonhoso tráfico dos negros pois que sobre muitos aspectos existia uma semelhança. Depois de ter sido usada, considerada como o único remédio às nossas necessidades económicas e demográficas, a emigração transformou-se numa série de equações sem saída. Os males que ela provocou são incuráveis. Interesses e moral não são feitos para coabitar.

Se se tivesse investido, nessa época, na educação e na formação dessa massa considerável de cidadãos, e na criação duma economia positiva em vez de dilapidar as rendas num esforço de guerra sem saída, talvez hoje não tivesse sido necessário encorajar de novo a nossa juventude a emigrar. E isso dói-me , tanto mais que são muitos cidadãos educados e formados que partem , levando para outros países a sua força e a sua juventude em beneficio da economia e do progresso destes países.

Esta é portanto a história de todos esses homens que resolveram partir em busca de uma vida melhor para si e para as suas famílias. E muitos nunca dirão a forma dolorosa e arriscada como partiam do país, numa época em que sair do país sem autorização, era punido como crime muito grave.

Por isso, chamar a atenção, como faz, sobre o trato que muitos Portugueses recebem quando regressam temporariamente ou definitivamente a Portugal , é de louvar.

Porque muitos desses “avec’s”, que não tiveram ou não lhes deram, a oportunidade, no pais deles, de receber a educação e a cultura desejadas, não podiam esperar recebe-las no estrangeiro, onde a obsessão era, antes de tudo, de trabalhar e criar novas condições de vida mais dignas e integrar-se, em seguida, socialmente, na nova sociedade .

E que ninguém me venha dizer que os Portugueses não são capazes de se elevar socialmente. Tendo sido favorecido pelo destino ,ao ponto de dirigir uma empresa de 300 pessoas, durante muitos anos, posso certificar que cada vez que empreguei alguns nossos compatriotas, numa firma de tecnologia avançada como a minha, os Portugueses foram sempre entre os melhores. E muitos ainda lá continuam.

Quanto aos campeões desportivos, é um outro mundo, onde só a grande classe internacional pode realmente levà-los ao píncaro ! Mas são poucos em relação aos 10 milhões de Portugueses que os admiram muito justamente.

Freitas Pereira

PS) Mil desculpas pelo abuso do espaço.

il disse...

Inveja é um sentimento típico de 'mouros', logo os portucalenses NÃO PODEM sofrer desse mal!

E o barrete só o enfiam os que se amouriscarem! 'Mai' nada! (Hoje estou mazinha)

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
Este é dos textos que tinha a certeza que o meu amigo ia comentar.
Precisamente pelo profundo conhecimento que tem da realidade da emigração portuguesa por todo este mundo.
E estando de acordo com a generalidade do seu comentário(e já sabe que o espaço é todo seu)permito-me destacar uma parte especialmente importante: aquela em que refere a trágica opção pela guerra em detrimento da Educação.
Porque com as opções correctas no inicio dos anos 60 poder-se ia ter evitadi esse Exodo de portugueses que está na origem de todos estes problemas que hoje estamos a pagar bem caro.
Cara il:
Infelizmente a inveja não escolhe raças nem credos.
É universal

Unknown disse...

Viva e antes de mais Bom Ano!!!

Subscrevo as palavras deste post. O "Ser" Português é de facto um misterioso tema de reflexão.

Algumas palavras minhas sobre o tema em linha com o que foi dito:

http://trans-siberiano.blogspot.com/2012/01/histeria-emigrante.html

luis cirilo disse...

Caro Luis Carvalho:
Um bom ano para si também.
Quanto ao ser português é de facto complexo.
Já os romanos diziam que os lusitanos eram um povo que não se governava nem se deixava governar.
Acho que assim continuamos