quinta-feira, março 05, 2009

Amar e Destruir



Foto:www.gloriasdopassado.pt.vu (Vitória 68/69)
Publiquei,hoje,este artigo no Correio do Minho


Há paixões que se não forem devidamente racionalizadas acabam por ter efeitos nefastos.
Mas que tem este intróito a ver com futebol perguntarão os leitores.
Muito mais do que se pensa.
Passo a explicar.
Toda a gente sabe que a ligação dos adeptos aos clubes é feita em grande parte na base das emoções, dos afectos, até do irracional que também faz parte da vida.
O Vitória é um caso exemplar na matéria.
Porque a ligação que mantém com os seus adeptos é de tal forma forte que não permite outras simpatias clubistas.
Quem é do Vitória…é do Vitória!
Parágrafo.
Essa paixão pelo clube tem- se materializado através do número de sócios, dos lugares anuais vendidos, das médias de assistência (até na II Liga), do apoio significativo á equipa em todos os estádios, no célebre cordão humano, na presença massiva a treinos em alturas decisivas, e em muitos outros momentos em que os adeptos tem demonstrado uma paixão sem igual pelo seu clube.
Contudo corre-se o risco, se não for racionalizada, de ela destruir o Vitória.
Contraditório?
Infelizmente não.
O Vitória atravessa hoje uma situação particularmente difícil.
Tem um passivo bancário elevadíssimo para a sua dimensão.
Paga,em função desse passivo, juros bancários astronómicos para a realidade do clube.
Tem grande parte, para não dizer a totalidade, do seu património hipotecado.
As receitas televisivas dos próximos anos já estão comprometidas.
A equipa arrasta-se no campeonato sem possibilidades de atingir lugares de acesso á taça UEFA e muito menos á “Champions”.
Não tem jogadores susceptíveis de proporcionarem grandes transferências e respectivos encaixes.
Talvez Custódio se fizer um resto de campeonato ao seu nível. Talvez…
Certamente Douglas, mas nunca antes da reabertura de mercado em Janeiro do próximo ano, se iniciar a próxima época ao nível que prometeu nesta.
Eventualmente Sereno mas este ano perdido vai influenciar o preço.
Fruto do lugar que ocupa no campeonato vai ter grandes dificuldades de renegociar verbas televisivas e contratos de patrocínio.
Que com a crise que por aí anda levarão os operadores televisivos e as empresas a retraírem investimentos e apostarem nos clubes com visibilidade europeia.
É um diagnóstico preocupante mas realista.
Perante esta situação qual o caminho?
Os adeptos, dedicados e generosos como poucos, continuarão a querer jogadores de nível, triunfos, apuramentos para as taças europeias e luta pelo acesso á Champions.
Manterão um alto nível de exigência perante direcção, presidente, treinador e jogadores.
No actual quadro não vejo que esta, ou outra direcção, tenham possibilidades de corresponder a essas expectativas.
Porque não tem dinheiro.
Nem onde ir buscá-lo.
Alternativas?
A criação de uma SAD nem é recomendável neste período de “vacas magras” nem tampouco acredito que os sócios a aprovassem em assembleia-geral com receio de o clube cair em mão não vitorianas.
O aparecimento de um mecenas, tipo Abramovich, nem é provável nem sequer desejável.
Porque apenas serviria para adiar o problema.
Já para não falar do”pequeno pormenor” de quem mete dinheiro num clube quer ter o direito de mandar a seu gosto sem ver lenços brancos ou escutar insultos.
Porque é o “dele” que está em causa.
Já vimos que essa solução também não é do agrado dos sócios que querem continuar a ter poder de decisão no clube.
Friamente é este o problema.
O Vitória tem uma realidade incompatível com a continuidade do modelo de gestão dos últimos 87 anos.
Mas os sócios, que querem indiscutivelmente o melhor para o clube, não parecem dispostos a mudar nada do essencial.
Pagando uma dúzia de euros por mês (e alguns sabe Deus com que sacrifício porque numa Família com quatro ou cinco sócios já é dinheiro…) cada um olha para o Vitória como se dele fosse dono.
Achando-se no direito de contestar quem dirige, quem treina e quem joga, ao mínimo sinal de que as coisas não correm como ele, sócio, desejaria.
E assim caminhamos para o precipício!
Porque com esta realidade versus o nível de exigência corre-se o risco de ninguém querer assumir responsabilidades directivas no clube.
Ninguém que não um qualquer aventureiro irresponsável que, a exemplo do que tem visto noutros clubes, alimente sonhos atrás de sonhos enquanto o descalabro se avoluma.
Não basta, e a blogosfera vitoriana é pródiga nessas declarações de intenção, desejar para dirigir o clube gente competente, vitoriana, inovadora e destemida.
Também é preciso pensar em lhes dar condições para trabalhar e ter paciência para que os projectos se desenvolvam.
Paciência no futebol português?
Projectos?
Aí está algo raro.
Uma coisa é certa:
A próxima direcção do Vitória tem de ter a coragem de dizer frontalmente aos sócios que o clube tem de viver em grande rigor orçamental durante os próximos anos.
Fazer sacrifícios, apostar na formação interna e numa boa prospecção de mercados, racionalizar meios, ser criativa nas soluções e interiorizar que passando por aí a sua sobrevivência como grande clube não há outro caminho.
Os sócios querem?
Excelente.
È uma caminho que pressupõe uma grande unidade e comunhão de objectivos entre dirigentes e massa associativa. E também muita compreensão.
Os sócios não querem?
Preferem apostar em alguém que lhes prometa grandes jogadores, grandes equipas e o paraíso na Terra.
Muito bem.
Rapidamente perceberão que o amor também destrói.
E, infelizmente, em muito pouco tempo!

BOLA CHEIA
BRAGA-VITORIA
Excelente jogo de futebol. Disputado, “rijinho” quanto baste, com emoção e bons desempenhos dos jogadores.
Definitivamente está no Minho a alternativa á macrocefalia dos chamados “grandes”.
BOLA VAZIA
CALENDÁRIO
Um jogo destes á segunda-feira, ás 19.45h, transmitido em canal codificado “é” um crime lesa futebol.
Mas os dirigentes preferem discutir irrelevâncias em vez de se concentrarem no essencial.

11 comentários:

rei dolce disse...

Caro Dr.Cirilo,
apesar de não ser vitoriano, julgo que a analise feita ao clube, pode ser generalizada.
Julgo que os clubes terão que ser mais realistas e pragmáticos nas suas acções e projectos,aliás, parece que o FCP tem tentado isso nas suas contratações(mas muitas vezes sem exito), basta ver a estratégia montada para a proxima época.
Outro clube que gostaria de destacar pela positiva, é o FC Paços de Ferreira, gere e planeia conforme a sua realidade, e os resultados têm aparecido e muitas vezes superados, mais, é dos poucos clubes que se pode orgulhar de ter as contas em dia (todas).Sim paga pouco, mas chega ao dia e paga, é isso que importa.

Aproveito tambem este espaço, para mostrar o meu desagrado para com as TV em sinal aberto não mostrarem interesse pelo jogo da primeira mão da taça de portugal, com isso mostraram uma falta de respeito para com os adeptos e simpatizantes das dua equipas e para com a propria Taça de Portugal.
Cumprimentos

luis cirilo disse...

Caro Rei Dolce:
Estou de acordo com a sua ideia.
Esta realidade estende-se a muitos mais clubes sendo de salientar aqueles que conseguem escapar deste sufoco financeiro.
A realidade do Paços de Ferreira terá no curto prazo de ser a de todos os outros.
Pagar pouco mas certinho.
QUanto ao Paços_- Nacional o desinteresse televisivo é escandaloso.
Uma meia final da Taça de Portugal merece mais respeito.
Mas lá está a confirmação do que venho escrevendo;os dirigentes dos clubes tem de se entender para deixarem de ser os parentes pobres das competições.

Anónimo disse...

"Tem grande parte, para não dizer a totalidade, do seu património hipotecado."

De verdade ? Mas quem hipotecou? Pimenta ? Magalhães ? Emilio ?
Os três ? Em que percentagem ?

Era bom que se soubesse.

Não poderá "levantar uma ponta do véu" ?

Diogo Ferreira disse...

È um facto aquilo que diz e concordo plenamente do seu pensamento. Temos uma equipa que na realidade a esperança de poder realizar algum dinheiro com a venda de jogadores não é nada famosa tirando os jogadores que mencionou, temos sim, jogadores que por mim até os dava, isso seria uma decisão inteligente porque não têm qualidade (ex: Wénio).

Relativamente as receitas é um facto, mas a direcção do VSC não pode pedir mais aos adeptos do clube, IMPOSSIVEL. Aumento da venda de lugares anuais, entrada de novos sócios que tem vindo aumentar felizmente, o que é que esperam mais?

A direcção do clube tem que pensar que esta época perdeu uma grande oportunidade de poder reduzir o passivo se tivesse tido mais ambição, porque tivemos a possibilidade de nos apurarmos para a ligas dos campeões, é verdade e isso e justo dize-lo, que com esta equipa fraca não conseguimos entrar porque o arbitro roubou um golo limpo ao VSC.

Já tive oportunidade de escrever isto; o que mais me preocupa é a falta de soluções para a Presidencia do Clube, peço desculpa por este meu comentário mas tenho que dize-lo, as ultimas eleições os candidatos têm sido fracos. Assumo que tinha depositado grandes esperanças no Vitor Magalhães, mas até ele me desiludiu e muito com tanta porcaria que fez aquando do seu mandato no VSC.

Deixo ficar uma pergunta no ar; HAVERÁ ALGUÉM CAPAZ E QUE TENHA CONHECIMENTO DO MUNDO DA BOLA QUE QUEIRA OU QUE SONHE EM SER PRESIDENTE DO VSC?

Quanto a hora do jogo da passada 2ªfeira, apenas lamento mas é o costume, as TV é que mandam e os clubes têm que ir a reboque dos interesses das mesmas.

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
Essa é uma questão importante.
Não lhe sei responder em termos exactos mas suponho que a esmagadora maioria das hipotecas é do tempo de Vitor Magalhães.
Mas bastará consultar as respectivas datas.
Caro Diogo:
Estou genéricamente de acordo consigo.
Especialmente no facto de não se poderem pedir mais sacrificios aos sócios e no termos perdido,esta época,uma grande oportunidade de evoluir desportivamente e reduzir o passivo.
Quanto á presidência vai ver que a seu tempo aparecerão os candidatos.
Depois a ultima palavra será dos sócios.
E aí se escolherá o Vitória do futuro.

Diogo Ferreira disse...

Caro Sr. Luis Cirilo, um pequeno comentário aos possíveis candidatos! Espero realmente que o Senhor esteja correcto naquilo que diz para bem do VSC.

José Alves disse...

Inteiramente de acordo com a sua visão do que tem de ser o nosso futuro,caro Luis Cirilo,é sem duvida,absolutamente necessário que nós tenhamos consciência das limitações orçamentais que temos.
Não quero com isto desculpabilizar a nossa direcção pela desastrada politica de contratações e a venda sistemática de jogadores do Vitória por tuta e meia.
Temos obrigatóriamente de saber as nossas limitações e não podemos cair na demagogia de exigir 100 a quem só consegue dar 50.
Toda a vida o Vitória foi mantido pelos jogadores desconhecidos que contratávamos e que se revelavam jogadores com talento que rápidamente se tornavam apeteciveis para qualquer um dos grandes.
Uma parte fundamental do crescimento ou aparecimento desse talento nos jogadores era sem qualquer duvida o apoio e o carinho sistemático que lhes era dado pelos vitorianos,na vitória e principalmente na derrota,pois todos eramos mais humildes na ambição.
Temos,sem peneiras,de ter em primeiro lugar um bom gestor como presidente,mas nós os sócios tambem temos de ter outra postura em especial no que diz respeito ao apoio incondicional a todos os atletas do Vitória,pois todos são potênciais activos do nosso clube,todos vestem a nossa camisola e são eles que nos representam nas competições.
Claro que o meu sonho é ver o Vitória campeão,desde que devidamente cimentado numa posição de confronto directo e permanente com os três papões,mas sei que a nossa realidade económica e financeira não o permite,a não ser que,como o diz claramente,haja uma forte união entre todos os vitorianos em torno do objectivo de tornar o nosso clube forte e autónomo,assente na realidade do mundo de hoje.
Caímos sempre na mesma questão:
-Precisamos de um excelente presidente.

luis cirilo disse...

Caro Jose Alves:
Vou começar a resposta pelo fim.
Claro que o Vitória precisa de um Presidente que seja o pivot desse salto estrutural.
Que entenda não só os problemas actuais como seja capaz de definir um rumo.
Penso que o Vitória pode ser um "case study" do desporto português porque tem massa critica suficiente para ambicionar ser o quarto grande e lutar em plano de relativa igualdade com os outros.
Mas não nos iludamos;o caminho é dificil e a massa associativa vai ter de fazer um "pacto de regime" com quem quiser assumir esse desafio tão motivador quanto agreste.
Ainda hoje,aos 5 minutos de jogo,se ouviam assobios a jogadores do Vitória.
E isso não pode ser.
Porque no meu modesto entendimento,e sem perdermos o direito a ser criticos,é nestes momentos dificeis que a equipa precisa dos adeptos.
Porque quando uma equipa está a ganhar 3-0 todos os adeptos do mundo são bons.
Os vitorianos tem paixão pelo clube,são dedicados até ao limite,fazem sacrificios pelo Vitória.
Mas tem de ser mais pacientes.
Porque deles e do seu apoio dependerá muito desse futuro.
Agora a assobiar a equipa aos 5 m (e se for jogador da casa ainda mais cedo...)não vamos a lado nenhum.
Eu também acredito num Vitória campeão.
Mas o ciento desse titulo tem de ser uma coesão a toda a prova.

José Alves disse...

Caro Luis Cirilo
É realmente lamentável a falta de atitude dos sócios do Vitória.
Temos de,com toda a clareza, assumirmos que os sócios que optam por esta falta de atitude,não são vitorianos de maneira nenhuma.
É completamente disparatada a forma como muitos começaram a mostrar o seu descontentamento com cinco minutos de jogo decorrido,dando origem ao inicio do nervosismo dos nossos jogadores.
Temos de ser claros e ter a atitude de categóricamente reprovarmos esta mediocridade que só pode ter como objectivo a destruição do Vitória.
Cada jogador é um activo do clube e quem contribui deliberadamente para a sua destruição como atleta,manifestando desagrado ou assobiando,não pode ser um vitoriano,de maneira nenhuma,sem desculpa possivel.
Ouvi durante quase todo o jogo algumas dessas aves de mau agoiro a emitirem as suas opiniões sem qualquer nexo e tendo como predicado comum o constante deita abaixo a tudo o que equipava de preto e branco,e recordei a década de 80 e mesmo a de 90,onde não se ouvia rigorosamente nada do que se ouve hoje,onde se procurava motivar os jogadores mesmo que estivessem a praticar um péssimo futebol,com aplausos e incentivos,jogo após jogo,época após época.
Aplaudir quando ganhamos e contestar quando perdemos não faz,com toda a certeza,de nós unicos.
Temos frases e palavras muito bonitas mas que infelizmente não passam disso mesmo.
Lutemos pela nossa própria evolução.
É necessário sermos claros.
Para sensibilizar.


Parabéns muito especiais a toda a bancada das mulheres que com a sua atitude de apoio nas alturas mais cruciais do jogo,contribuiu decisivamente para a conquista destes três pontos.
É bom que se repita.
O Vitória precisa.
Muito.

Diogo Ferreira disse...

Eu também condeno e condenei ontem a tarde quando ouvi os assobios, porém os jogadores têm que estar preparados para este tipo de situações. Falar é fácil, mas é uma realidade que quando as coisas não estão a correr pelo melhor este tipo de situações acontecem e irão continuar acontecer..Há coisas que não vão mudar e esta será na minha modesta opinião uma delas, gostaria de estar enganado mas não creio que esteja...

luis cirilo disse...

Caro José Alves:
Estamos de acordo.
Talvez o que nos divide é você acreditar que essa sensibilização é possivel e eu ter bastantes duvidas.
Acho que no final da década de 90 começou a ser introduzido no clube um virus de contestação,com objectivos bem definidos,que acabou por contagiar muita gente.
Hoje contesta-se tudo e nem sempre da forma mais correcta.
E isso,se não for arrepiado caminho,acabará por tornar o clube ingovernável.
Caro Diogo:
Infelizmente acho que não está enganado.
este tipo de coisas vão continuar a acontecer.
Por isso admiro tanto os adeptos ingleses que apoiam sempre indepoendentemente do resultado.
Coisa que nós vitorianos,quando queremos,também sabemos fazer.
Relembro o Vitõria-Porto da época passada que quanto mais golos sofriamos mais apoiavamos a equipa.
Essa é que é a atitude correcta.
Se soubermos transformar excepção em regra podemos ser imparáveis.