sexta-feira, fevereiro 27, 2009

O ultimo romântico


Pode parecer uma opinião estranha,admito-o, mas olho para o MRPP como o último vestigio de um tempo emocionante que já não volta.
Felizmente.
Porque cada coisa tem o seu tempo.
Mas no PREC,é disso que falo,sempre vi o este partido da extrema esquerda com a simpatia natural de quem militando no PPD via uma força muito á esquerda a juntar-se ao combate contra uma certa forma de totalitarismo que alguns queriam impôr.
Nomeadamente alguns militares mais esquerdistas do MFA e partidos políticos que pela voz do seus dirigentes asseveravam que nunca existiria em Portugal uma democracia parlamentar.
Sempre me impressionou o fervor, diria fanatismo,com que se militava no MRPP.
Num regime de exclusividade total, de dedicação sem limites e de desafio a todos os perigos.
Presos antes do 25 de Abril, perseguidos depois,ilegalizados de molde a não poderem concorrer ás eleições para a assembleia constituinte,nada arrefecia o fervor dos seus militantes.
Creio ter chegado a deter uma posição relativamente importante na juventude urbana das grandes cidades.
Depois passou a revolução, o MRPP passou de moda, o seu lider histórico (retratado no cartaz) dedicou-se á sua carreira profissional, muitos dos seus dirigentes fizeram interessantes percursos noutros partidos ou na sociedade civil.
Saldanha Sanches, Maria José Morgado, Ana Gomes ou Durão Barroso por exemplo.
Mas o partido não acabou.
Continuou a concorrer eleiçoes, a pregar o marxismo-leninismo, a defender a revolução popular.
E,claro, o governo dos trabalhadores.
E, pontualmente,aqui e ali a eleger uns militantes para umas juntas de freguesias ou umas assembleias municipais.
Nunca,confesso que com alguma pena minha,elegeu um deputado ou um presidente de câmara.
Sempre seria a oportunidade de ver,no concreto,aquilo que tanto defendem em teoria.
Mas é um partido indiscutivelmente simpático e que merece respeito.
Porque antes e depois do 25 de Abril sempre lutou por aquilo em que acreditava.
É por isso que digo sempre com muita satisfação que o MRPP tem um deputado na Assembleia Municipal de Guimarães.
Que melhor lugar para um partido com História estar representado do que na Assembleia do municipio onde começou a História de Portugal ?
Ás vezes há coincidências felizes.
Depois Falamos

13 comentários:

Anónimo disse...

"...muitos dos seus dirigentes fizeram interessantes percursos noutros partidos ou na sociedade civil."

Claro. Como viram que no MRPP não singravam na vida toca a mudar.

Grandes oportunistas.

Anónimo disse...

é por causa do que escreve, e porque me parece que diz o que sente, que eu acho tão interessante lê-lo. Nós somos uma mistura de tudo o que vimos e ouvimos desdee que nascemos e não produtos do "faz de conta" para agradar.Continuaremos a falar- Cumprimentos.

Anónimo disse...

"Que Viva a Revolução" (Vittorio e Paolo Taviani,1974)

Anónimo disse...

Tempos heróicos em que o MRPP chegou a liderar uma fatia importante do aparelho sindical. E que belos serviços prestou à Democracia de então, contribuindo decisivamente para que outras forças não tivessem alterado o rumo da revolução. Não sabia, e fico contente por saber que o MRPP tem em Guimarães um seu representante na Assembleia Municipal. Haveria, porventura, outra cidade melhor para essa representação do que a Cidade do Fundador?

freitas pereira disse...

Não conheci lá muito bem o MRPP, mas ao ler esta « confissão » acho que o tema da fidelidade às convicções está muito bem descrito. Não conheço todos os nomes dados como exemplos, salvo um : o do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso. E ainda bem que alguns souberam manter a rota !
Conhecemos todos alguns homens políticos que “mudaram” de camisa durante uma parte do percurso. Chirac vendeu nos tempos da juventude o jornal comunista ‘L’Humanité” ! Mas o caso de Durão Barroso é talvez mais interessante, porque finalmente o adepto do Partido dos Trabalhadores, Marxista-Leninista, veio a ser um dia um amigo intimo de Georges Bush . Ou ainda, foi sob a sua Presidência que a lei sobre o trabalho na Europa passou de 40 horas semanais para 65 ou mesmo 70 ! Estranha mistura dos géneros, que pode levar a pensar que não são os mesmos homens que agem assim.

É patético... isso demonstra uma falta total de convicções e que na realidade eles aceitam os cargos unicamente pelas vantagens e o poder da função !

É por essa razão que se houve frequentemente dizer da política que ela não serve para nada. Que é uma perda de tempo, porque o cidadão não tem nenhuma influência nas camadas superiores. Por exemplo : Um partido político pode adquirir o poder segundo um programa preciso e pode fazer exactamente o contrário desde que eleito.
As obrigações orçamentais e sobretudo as forças económicas corrompem então os órgãos legislativo e executivo e desviam-nos das verdadeiras necessidades da sociedade.

O risco de estagnação e desencanto em relação à política é previsível. Mas é um bom negocio para as elites económicas, para quem, uma pressão popular esclarecida poderia reduzir a sua influência.
Elas preferem o statu-quo e a ignorância da populaça . Assim elas podem agir como lhes convém e manter a mão de ferro sobre o poder político.

Ao votar cegamente por políticos que defendem os interesses dum pequeno grupo em vez das preocupações da maioria dos cidadãos, aprovamos indirectamente a dominação das classes privilegiadas nas nossas vidas, os objectivos das quais são diametralmente opostos às nossos.

Sempre ouvi dizer que temos os políticos que merecemos.

Freitas Pereira

luis cirilo disse...

Caro Anónimo:
A vida é composta de mudança !
Em,bora me sinta feliz por estar desde 1975 no PSD.
Cara Teresa:
É a vantagem da blogosfera.Estamos á vontade para dizermos o que pensamos.Só assim um blog faz sentido.
Caro Anónimo:
De vez em quando são precisas.
Caro Anónimo:
Também penso,sinceramente,que o MRPP prestou serviços á democracia maiores do que geralmente se pensa.
Porque embora marxista-leninista e defensor da ditadura do proletariado soube estar do lado certo em alguns combates importantes para a solidificação do estado de direito.
Caro Freitas Pereira:
a democracia portuguesa,como o meu amigo sabe,está cheia de exemplos de pessoas que mudaram de partido,de ideologia,de visão do mundo.
Uns por convicção,outros por desencanto,alguns por mero oportunismo.
Para mim que milito no mesmo partido desde os 15 anos é-me dificil perceber que a razão dessas mudanças,como alguns as justificam,estará no idealismo da juventude que com o passar dos anos os conduz para a respeitabilidade dos partidos de poder.
É verdade que o MRPP,como outros partidos de extrema esquerda,era um espaço de ilusão,de idealismo,de construção de utopias.
E naturalmente que quem como os nomes citados,mas também muitos outros,tinha a legitima ambição de ser actor e não espectador no palco da politica perceberia que o caminho não era por ali.
E, sinceramente, entendo isso.
Por mim sinto-me feliz por desde os quinze anos saber que queria para Portugal uma democracia parlamentar,um estado de direito democrático,um regime político em que fosse possivel viver em liberdade plena.
Como na Europa(ao tempo chamada de Ocidental), nos Estados Unidos , no Canadá ou em qualquer outra democracia reconhecida como tal.
Reconheço,e acho bem raciocinado,que existe uma tendência das elites dirigentes para desinteressarem o povo da política.
Torna-lhes a vida mais fácil de facto.
Até porque enquanto a classe política for escolhida em (quase)circuito fechado é muito mais fácil manter o status quo.
Por isso defendo,a titulo de exemplo, a regionalização e os circulos uninominais.
Porque quanto mais perto do povo estiverem os centros de decisão e os agentespoliticos melhor será a qualidade da democracia.

freitas pereira disse...

"Por mim sinto-me feliz por desde os quinze anos saber que queria para Portugal uma democracia parlamentar,um estado de direito democrático,um regime político em que fosse possivel viver em liberdade plena."

"Porque quanto mais perto do povo estiverem os centros de decisão e os agentes politicos melhor será a qualidade da democracia."


Estas palavras convêm-me perfeitamente e é a razao do meu prazer de participar de vez em quando no seu blog, Caro Amigo.

Anónimo disse...

Pois...no PREC os inimigos dos nossos inimigos eram nossos amigos. É como na matemática: -+-=+

luis cirilo disse...

Caro Freitas Pereira:
São valores,digamos assim,civilizacionais !
E espero que continue a enriquecer este blog com a ais valia que são os seus comentários.
E fotografias.
Caro Anónimo:
Tem razão.
No PREC foi um bocado assim.
Necessidades desse tempo

A.C.B. disse...

Concordo em absoluto com o seu texto, tanto, que gostaria de o ter eu escrito.
Sou monárquico,democrata e liberal, mas mesmo sendo monárquico isso não me impediu de militar no MRPP na minha juventude. De Arnaldo Matos,homem muito inteligente e com uma capacidade de oratória-a que assisti mais do que uma vez- que nunca mais voltei a ver em nenhum politico, guardarei para sempre uma imagem em tudo idêntica à do seu texto.
Concluo dizendo que de quase todos os que abandonaram aquele partido, alguns poderá ter sido por oportunismo(quando viram que não ia dar tacho!)mas estou convencido que a maioria foi pelos mesmos motivos que eu - esgotou-se o tempo das revoluções e crescemos, em todos os aspectos, vendo que afinal não queriamos uma sociedade daquele tipo em Portugal.-

Abílio Pinto e Cardoso Bandeira

luis cirilo disse...

Caro Abilio Bandeira:
Concordo genéricamente com o seu comentário.
Quer quanto ás qualidades oratórias de Arnaldo Matos (que estou certo teria sido um grande deputado) quer em relação ao facto de muita gente ter saido do MRPP por entender que a sociedade preconizada pelo partido não era viável.
Creio que foi essa a razão fundamental para muitos abandonos.
Mas também penso,sabendo que tal é impossivel de comprovar,que se o MFA (ao tempo profundamente influenciado pelo PCP)não tivesse proibido o MRPP de concorrer ás eleições para a Assembleia Constituinte tudo teria sido diferente para o partido.
Em 1975 não tenho duvidas de que teria assegurado representação parlamentar e isso dar-lhe-ia outras possibilidades de afirmação no panorama politico.
Mas foi assim e agora nada há a fazer.

A.C.B. disse...

Caro Luis Cirilo, tem mais uma vez toda a razão. Tinha imensos amigos em Lisboa, que nessa época ainda não tinham idade para votar, mas eles influenciavam tanto e tão emotivamente a familia que estou certo que milhares e milhares de portugueses teriam -não fosse essa estratégia do MFA,e não só- votado no MRPP mesmo sem saberem que raio era isso do "marxismo-leninismo".
E o MRPP, caso tivesse evoluido politicamente,seria hoje muito superior ao BE.
Mas enfim, a história é feito do que aconteceu e não do que podia acontecer.
Cumprimentos e parabéns pelo seu blog.

Abílio Cardoso Bandeira

luis cirilo disse...

Caro Abilio Bandeira:
Foi de facto assim e não háq volta a dar-lhe.
Obrigado pelas suas palavras.