
A vitimização na política não foi inventada, embora profusamente usada em alguns locais, nas últimas eleições autárquicas porque é um fenómeno que vem muito de trás.
Tão de trás que já é possível encontra-la no Estado Novo quando Oliveira Salazar a utilizou em várias circunstâncias , nomeadamente quando a tropas indianas ocuparam o chamado Estado Português da India , servindo-se sempre dela, vitimização, como a desculpa para os próprios erros e dessintonias com a História.
O exemplo ficou e depois do 25 de Abril continuamos a assistir ao fenómeno da vitimização como forma de angariar simpatias, não só políticas, mas mantendo a caracteristica de servir para justificar o injustificável.
José Sócrates foi um verdadeiro mestre na matéria. E continua a ser pelo que se vai vendo na longa tragicomédia que é o julgamento da "Operação Marquês" e em que ao lado dos inúmeros processos dilatórios se assiste a uma permanente vitimização do arguido.
Vem de longe esse hábito.
Que teve como primeiro exemplo de repercussão nacional o cartaz constante da imagem que ilustra este texto e foi usado na campanha das legislativas de 2005 pela JSD.
E que não só despertou a ira de Sócrates (bem narrada no livro de João Miguel Tavares "José Sócrates - A Ascensão") como um coro de indignação do PS acusando JSD e PSD de estarem a fazer insnuações mentirosas e infundadas sobre a pessoa do então líder socialista.
Hoje, vinte anos passados, sabe-se que aquele cartaz não só tinha toda a razão de ser como punha a questão com que as pessoas deviam preocupar-se na hora de votar.
Se sabiam quem era realmente José Sócrates.
Não sabiam nem quiseram saber e por isso lhe deram uma maioria absoluta que resultou na tragédia da crise financeira e da intervenção da troica e em todas as suspeitas de corrupção e de ilicitudes por ele praticadas e actualmente em julgamento.
E se em relação aos eleitores ainda se pode perdoar a ignorância e a falta de escrutinio há que dizer que a classe dirigente do PS (António Costa, Ferro Rodrigues, Santos Silva, Ana Gomes, Jaime Gama e tantos outros) sabia já nesse tempo de todos os casos e suspeitas que impendiam sobre Sócrates e ainda assim apoiaram-no e foram coniventes com ele.
Com a honrosa excepção de António José Seguro que sempre manteve uma enorme distância de Sócrates.
E nunca é tarde para recordar tudo isso num tempo em que a vitimização parece estar de novo na moda como processo de actuação política.
Pelo menos por aqueles que não conseguem ter argumentos válidos para justificar o que fizeram e essencialmente o que não fizeram.
Depois Falamos.
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